sábado, 23 de dezembro de 2017

Espírito, Alma e Corpo - Parte 5 - O Coração Humano

Além do espírito, alma e corpo, a Bíblia também cita, por diversas vezes, uma outra parte do homem: o coração. Afinal de contas, o coração parece ser uma parte muito importante do homem, e, por isso, as Escrituras mostram que é ele que precisa ser guardado acima de tudo:
"Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida." (Provérbios 4:23)
Buscando o significado da palavra originalmente traduzida como "fontes" (da vida), encontrei o seguinte, de acordo com o dicionário de hebraico bíblico Brown-Driver-Briggs:
tôtsâ'âh -  saída, fronteira, extremidade, fim, fonte, escape
Isto nos mostra que nossa vida "sairá" pelo nosso coração, ou seja, é de lá que saem nossos pensamentos, ideias, imaginações, palavras e atitudes. Veja o que Jesus falou sobre isto:
"Porque do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, fornicação, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias." (Mateus 15:19)
Eu sou formado em Engenharia Civil pela UFRN, onde me graduei em 2001. Não posso dizer que era um sonho de infância meu fazer tal curso, então, por que eu decidi estudar engenharia civil? Bem, a resposta é o seguinte: algum tempo antes de eu prestar vestibular, um tio meu que trabalhava na Universidade me perguntou qual era a área que eu mais gostava. Eu já havia feito alguns testes vocacionais, e que haviam me indicado cursos do tipo Agronomia ou coisas ligadas a esta área.

Aquele meu tio me indicou a engenharia, pois me disse: "Se você quer um curso da área tecnológica, então, faça Engenharia Civil, pois é o melhor curso da área". Ora, aquelas palavras entraram em meu coração e deram fruto. Decidi prestar vestibular para Engenharia Civil, tendo sido aprovado e cursado este curso por 11 longos anos (não vou explicar o porquê deste lapso temporal aqui por ser uma longa história).

Onze anos de minha vida dedicados a este curso, e tudo isto devido a uma ideia que foi semeada em meu coração por meu tio. Veja, em termos práticos, como funciona o coração: ele recebe informações, que funcionam como "sementes", e produz ações, que são os "frutos".

O Coração é Enganoso?


Muitas vezes, tive receio de ser guiado pelo meu coração porque ouvi pregadores ensinando que, de acordo com a Bíblia, o nosso coração é muito enganoso. O versículo utilizado para fundamentar tal afirmação é o seguinte:
"Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?" (Jeremias 17:9)
Já, em outras vertentes, me foi ensinado que, na Nova Aliança, podemos sim ser guiados pelo coração, tendo em vista que este foi trocado por um novo coração. Vemos esta promessa no seguinte verso bíblico:
"E dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne." (Ezequiel 36:26)
Além disso, temos o Espírito Santo, nosso Guia e Consolador, O qual habita em nós após ter sido enviado por Deus. O Espírito Santo foi derramado em nossos corações, de acordo com Romanos 5:5.

Então, após tudo isto, o que podemos concluir? O nosso coração é ou não um bom guia?

Coração: Um Centro de Distribuição


Uma figura que pensei sobre como comparar o coração é a de um CD - centro de distribuição. Estes centros são setores bem comuns em grandes empresas, como, por exemplo, os Correios. Veja uma definição deste conceito:
"Um centro de distribuição, também conhecido como CD, é uma unidade construída por empresas industriais, retalhistas, para armazenar os produtos produzidos ou comprados para revenda, com a finalidade de despachá-los para outras unidades, filiais ou clientes." (Wikipédia, verbete "Centro de Distribuição")
Através de um CD, as unidades de produção (ONDE o produto é feito) conseguem levar seus itens até o destino final, onde serão vendidos aos clientes finais. Tudo passa pelo CD.

Da mesma forma, o coração humano recebe os "produtos" das diferentes unidades produtoras (espírito, alma ou corpo) para que seja transformado, ou não, em ações. Explicarei melhor isto que acabei de falar mais adiante.

Os espíritos se comunicam pelo coração


Muitas pessoas acham que quando espíritos (anjos ou demônios) falam com os homens, eles se materializam em forma física para tal finalidade. No entanto, apesar de ser possível, dificilmente isto ocorre. Em geral, os espíritos se comunicam conosco através do coração.

Já vimos que o Espírito Santo foi derramado em "nossos corações" (Romanos 5:5), e, portanto, Ele se comunica conosco através de nosso coração. Desta forma, algo que é muito perigoso é quando nós O resistimos, endurecendo nosso coração para a Sua voz:
"Portanto, como diz o Espírito Santo: Se ouvirdes hoje a sua voz, não endureçais os vossos corações, como na provocação, no dia da tentação no deserto." (Hebreus 3:7-8)
Raramente, vemos Deus falando com uma voz "exterior". Particularmente, eu nunca ouvi Deus falar comigo com uma voz externa, apesar de já ter ouvido raros testemunhos neste sentido. Geralmente, a voz do Espírito Santo é ouvida dentro de nosso coração, e é o que a Bíblia ensina, conforme vimos no verso acima.

Além do Espírito Santo, o próprio satanás também se comunica conosco através do coração, o que pode soar como uma ideia ou pensamento. Vejamos o caso de Ananias e Safira, um casal que teve uma "ideia" maligna e se uniram para mentir aos apóstolos:
"Disse então Pedro: Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, e retivesses parte do preço da herdade?" (Atos 5:3)
É bem interessante o uso da palavra "encher" aqui. Você lembra que em Efésios 5:18, o verbo "encher" também é usado se referindo ao Espírito Santo? O que significa o fato de um espírito encher o ser humano? Ora, significa que o referido espírito (seja Deus, seja outros) está comunicando ao homem certas coisas.

No caso do Espírito Santo, Ele nos comunica amor, alegria, paz, cura, etc. Já no caso de satanás, ele tenta nos comunicar tentações, mentiras, etc. Ou seja, cada espírito tenta comunicar o que ele tem, não é verdade?

O fato é que, claramente, as Escrituras mostram que esta comunicação é feita através de nosso coração. Portanto, precisamos discernir qual a origem do que está sendo comunicado.

Discernindo entre o corpo e o espírito (humanos)


Comecemos pelo mais "manifesto", ou seja, aquilo que é mais claro, que é a diferença entre os desejos do corpo/carne e os desejos do espírito recriado. Já aprendemos que, quando nos convertemos a Cristo, somos transformados instantaneamente no espírito (caso queira revisar esta verdade, veja: João 3:3-72 Coríntios 5:17), mas que o corpo não é mudado e continua com os mesmos desejos antigos.

Desta forma, os desejos do seu corpo são contrários aos desejos do seu espírito, por isto, são mais fáceis de serem discernidos.
"Porque a carne cobiça contra o espírito, e o espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis." (Gálatas 5:17)
Aproveito este momento para esclarecer que a palavra "espírito", em muitas traduções, está com a letra inicial maiúscula, dando a entender que é o Espírito Santo. No entanto, acredito que esta palavra se refira ao espírito humano recriado. Obviamente, o Espírito Santo também terá vontades que são contrárias à carne, mas a luta que é travada dentro de nosso coração não é do Espírito Santo contra nosso corpo, mas sim do nosso próprio espírito nascido de novo e da nossa própria carne.
"Mas cada um é tentado pela sua própria cobiça [do seu corpo], quando esta o atrai e seduz;" (Tiago 1:14, NVI)
Nosso espírito recriado não possui o desejo de pecar, pelo contrário, ele está unido a Cristo, e deseja exatamente o que Cristo deseja:
"Mas o que se ajunta com o Senhor é um mesmo espírito." (1 Coríntios 6:17)
Assim, quando o nosso coração recebe desejos, pensamentos, impulsos, etc. de prostituição, malícia, mentira, corrupção, etc. ficará claro que vem do corpo e não do espírito. Estas vontades precisam ser "mortificadas". A palavra original grega para mortificar é tanatôo que quer dizer "fazer morrer" (literalmente ou figurativamente):
"Porque, se viverdes segundo a carne, morrereis; mas, se pelo Espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis." (Romanos 8:13)
Ora, não há como você fazer seu corpo morrer para os seus desejos se você nem ao menos consegue discernir que desejos são esses. Assim, o apóstolo Paulo prossegue expondo quais são os desejos da carne:
"Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: adultério, fornicação, impureza, lascívia..." (Gálatas 5:19)
E, logo após isto, mostra os desejos do espírito:
"Mas o fruto do espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança." (Gálatas 5:22)
Mais uma vez, lembro a mesma coisa com relação à palavra "espírito", como originalmente a Bíblia foi escrita apenas com letras maiúsculas, os tradutores precisam interpretar se o termo se refere ao Espírito Santo de Deus ou ao espírito humano. No caso acima, entendo ser o fruto do espírito humano, apesar de quê, o Espírito Santo está unido a nós em espírito, conforme já vimos.

Discernindo entre a alma e espírito (humanos)


A separação entre as vontades do corpo e do espírito humanos são mais claras, já que são exatamente opostas, mas a separação entre a alma e o espírito não é clara. Somente a Palavra de Deus é capaz de penetrar até esta divisão, pois vai além do mundo físico:
"Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito (...)." (Hebreus 4:12)
A palavra grega aqui traduzida como espada (grego: machaira), de fato, se refere a uma faca longa, usada principalmente para cortar carne. O que nos passa a ideia de separar em partes distintas. Usando as Escrituras, nós podemos separar o que vem do espírito do que vem da alma.


Um exemplo bem claro e que mostra que até Jesus possuía uma vontade diferente da vontade de Deus, no entanto, sem ser pecado, está no evangelho de João:
"Porque eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou." (João 6:38)
Nesta passagem das Escrituras, Jesus deixa claro que Ele tinha uma vontade própria, mas que não era a vontade do Pai. Em outra ocasião, isto também fica evidente:
"E, indo um pouco mais para diante, prostrou-se sobre o seu rosto, orando e dizendo: Meu Pai, se é possível, passe de mim este cálice; todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres." (Mateus 26:39)
Pelas Escrituras e pelo Espírito Santo, Jesus sabia exatamente qual era a vontade do Pai: Ele precisaria morrer crucificado para, assim, levar nossos pecados e nos libertar do poder das trevas. No entanto, qualquer pessoa normal não gostaria de morrer daquela forma - crucificado - uma condenação dolorosa e humilhante (o crucificado morria agonizando, nu, publicamente exposto).

Deus colocou em nós o instinto de sobrevivência, nós temos a tendência natural de fugirmos da dor, da humilhação, etc. Era perfeitamente compreensível Jesus desejar não passar por aquilo. Contudo, Ele sabia ser a vontade do Pai, e, assim, se submete até a morte.

Entendo que, naquele momento, era a alma de Jesus que gostaria de, se possível, evitar ter que levar sobre si todos os pecados da humanidade. Ora, Jesus não desejava as "obras do corpo", pois Ele não tinha pecado. Talvez nosso Senhor desejasse casar, ter filhos, ter um emprego, ou seja, coisas que não são pecado, mas que não eram a vontade do Pai pra Jesus.

Entendendo o termo "alma"


É muito comum as pessoas fazerem confusão no que diz respeito ao significado do termo "alma", pois geralmente esta palavra é usada como sinônimo de "espírito". Lembro que na época de minha conversão, eu usava os termos "espírito" e "alma" com o mesmo sentido, e já vi pessoas fazendo o mesmo, inclusive cristãos.

Contudo, dentro do contexto bíblico, a palavra grega psyquê, que é traduzida como "alma", tem um sentido diferente de "espírito". Como já expliquei anteriormente, a alma compreende nosso intelecto e emoções. A alma é moldada pelo que aprendemos ao longo de nossas vidas, formando o que é conhecido como "cosmovisão", ou seja, é a forma como entendemos o mundo ao nosso redor, nossa percepção do mundo.

Um breve testemunho


Gostaria de ilustrar esta diferença entre os desejos da alma versus os desejos do espírito com um testemunho ocorrido logo no início da minha fé.

Como expliquei no início deste texto, entrei no curso de Engenharia Civil por uma indicação de meu tio, no entanto, após minha conversão (e mesmo um pouco antes dela), eu já havia me desgostado daquele curso, e desejava abandoná-lo.

Quando me converti e comecei a conhecer todo um mundo novo que já existia mas que me era desconhecido, comecei a desenvolver eu meu coração o desejo de me aprofundar mais e mais na Bíblia e de me dedicar ao trabalho missionário. Assim sendo, decidi abandonar a faculdade e partir para missões.

Apesar dos protestos da minha família, propus em meu coração trancar o curso de engenharia e me dedicar ao estudo teológico, e talvez, assumir alguma congregação no interior do estado do RN, onde eu moro. Acreditava que esta era a vontade de Deus.

Um certo dia, fui até a reitoria para solicitar o trancamento e fui surpreendido com a informação de que eu não poderia trancar o curso, pois estava devendo livros à Biblioteca. Me foi passada lista de livros, os quais eu encontrei e devolvi no dia seguinte. Só que, devido aos vários anos de atraso, fiquei com uma multa enorme que precisaria pagar para poder trancar o curso.

Esta situação me deixou abalado em minhas ideias, pois acreditava que Deus queria que eu me dedicasse à sua obra.

Naquele mesmo dia, à noite, estava em uma aula na UFRN, enquanto me questionava o porquê eu não havia conseguido trancar o curso e como faria para prosseguir com meus planos. Enquanto pensava nisso, durante a aula (estava absorto em meus pensamentos e não prestava atenção ao que o professor dizia), ouvi uma voz interior falar "Eu vou fazer de você um grande engenheiro, quero que termine o curso".

Senti que era Deus falando comigo, e aquilo me deixou muito surpreso, pois não era o que eu entendia. Finalmente, pude compreender que realmente era a vontade de Deus que eu estivesse ali, e que precisaria me dedicar. Assim, prossegui com o curso, tendo concluído Engenharia Civil no ano de 2001.

Conclusão


Podemos resumir a questão da seguinte forma:

  1. A vontade da minha alma era largar a faculdade e me dedicar à obra de Deus de forma integral (veja que não há nada de pecado nisto).
  2. No entanto, não era a vontade de Deus para mim naquele momento.
  3. A Palavra de Deus veio ao meu coração, e pude entender que, apesar de ser um desejo piedoso, não era a vontade de Deus.
  4. Meu espírito sabia disto, pois nosso espírito recebe diretamente do Espírito Santo, no entanto, minha alma (intelecto) não sabia.
Coisas como esta que testemunhei já aconteceram diversas vezes comigo, e, muitas vezes, é necessário dedicar tempo em oração e jejum para podermos receber o entendimento da perfeita vontade de Deus para nós.

Que a paz do Senhor seja com o teu espírito. Amém.

Pr. Wendell Costa

domingo, 17 de dezembro de 2017

Espírito, Alma e Corpo - Parte 4 - Os Estados da Matéria



Compreender o assunto "espírito, alma e corpo" não é tão simples pelo fato de nossa mente precisar formar imagens mentais para poder entender as coisas. Como veremos no futuro, a mente natural não pode compreender as coisas espirituais, assim, precisamos lançar mão de figuras para ajudar ao nosso intelecto a assimilar as verdades bíblicas no que diz respeito ao mundo espiritual.

Uma das figuras que me ajudou a entender a relação entre as três partes do homem foi usar os estados da matéria: sólido, líquido e gasoso. Na Ciência atual, temos outros estados (ou fases) da matéria - o "plasma", por exemplo - que irei desconsiderar aqui, por não terem relação direta com o que quero demonstrar.

Lembrando que isto é apenas um recurso para formarmos uma imagem mental que nos ajuda a entender, não sendo a realidade das coisas. O uso de imagens mentais é amplamente usado nas Escrituras, tanto no Velho como no Novo Testamento, a exemplo das parábolas de Jesus. Espero que possa ajudar você em sua compreensão deste assunto.

Estado Gasoso: o espírito


Uma das caraterísticas do estado gasoso da matéria (vamos usar principalmente a água para exemplificar) é que ele possui um volume variável, ou seja, o gás irá tentar ocupar todo o espaço onde for liberado. Esta característica nos remete ao espírito.

Ora, a palavra traduzida na Bíblia por "espírito" quer dizer exatamente "vento", ou seja, algo que se está no "estado gasoso". Vejamos o significado das palavras usadas, de acordo com o dicionário bíblico de Strong:
  • No VT, temos a palavra hebraica "ruach": vento, por semelhança respiração; figurativamente vida, raiva, não-substancialidade (...)
  • No NT, é usada a palavra grega "pneuma": corrente de ar, isto é, respiração ou uma brisa (...)

Assim, podemos concluir que usar o estado gasoso para para fins de comparação com o espírito (humano ou outros) é algo bastante razoável.


Estado Líquido: a alma


Já o estado líquido (no nosso exemplo, a água) remete à alma, pois nossa alma é moldável (Romanos 12:2), desta forma, podemos aprender e sermos moldados para agirmos conforme o Reino de Deus, assim como o inimigo molda o entendimento do homem para agir de forma maligna.

Na natureza, a água em estado gasoso desce dos céus na forma de chuva, é o chamado "ciclo da água". Assim também, a partir do mundo espiritual vem o conhecimento e a sabedoria para dentro de nossas almas. Dependendo da fonte espiritual de onde bebemos, a nossa alma irá refletir correspondentemente. Se bebemos do Reino de Deus, nossa alma será cheia do conhecimento do Senhor, mas se bebermos da fonte do mundo, teremos nosso entendimento obscurecido.

A própria Palavra de Deus é, também, comparada à água (Efésios 5:26), pois é um conhecimento que purifica nossa alma, limpando nosso entendimento. Assim, esta renovação do nosso homem interior irá se refletir através de nosso corpo em atitudes de bondade, justiça e verdade.

Estado Sólido: o corpo


O corpo é nossa parte física e é até lógico nós o compararmos com o estado sólido. Assim também, nossa alma irá produzir ações através de nossos corpos. Na ilustração que vou usar, vamos comparar nossos corpos a vasilhas (copos). Assim, poderemos ver como está nossa alma (no caso, a água) através dos corpos (o copo).


A principal característica do estado sólido é sua rigidez. No caso da água, por exemplo, após a solidificação, ela se transforma em gelo, que é rígido, sendo que, pra poder ser "moldado" após a solidificação, só se for quebrado.

Assim, os costumes do corpo, adquiridos após anos afastados do Senhor, são difíceis de mudar, sendo necessário quebrantamento (através do arrependimento e afastamento das situações que nos levam a pecar). Ainda assim, nas áreas onde fomos muito expostos ao pecado, sempre será necessário vigilância:
"Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca." (Marcos 14:38)
"Ora, pois, já que Cristo padeceu por nós na carne, armai-vos também vós com este mesmo pensamento, que aquele que padeceu na carne já cessou do pecado;" (1 Pedro 4:1)
Vamos meditar mais nestas coisas quando estudarmos sobre o corpo. Por enquanto, use esta ilustração apenas para formar uma ideia na sua mente sobre isto.

O Pecado de Adão


Quando Adão cometeu pecado, ocorreu a morte do espírito humano. No entanto, quando se trata do reino espiritual, morte não significa deixar de existir, mas sim, ser lançado em um lugar de trevas, onde não há a presença de Deus. Claro que Ele está ciente do que ocorre lá, mas não está em comunhão com as trevas.

Quando o Senhor falou a Adão para não comer da árvore, Ele disse que no exato dia em que o homem comesse, ele morreria:
"E ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda a árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás." (Gênesis 2:16,17)
Em Gênesis 3:6, o homem e sua mulher comem do fruto desta árvore, cedendo à tentação da serpente. No entanto, aparentemente, eles não morreram como o Senhor havia falado. Mas o que aconteceu, então?

Quando Deus advertiu Adão sobre as consequências da desobediência, Ele falava sobre a morte do espírito humano, pois ao lermos esta passagem da queda, vemos que Adão continuou raciocinado (sua alma continuava viva), e ele percebeu que estava nu (seu corpo estava vivo), e foi esconder-se.

Ao passear no Jardim do Éden, pela viração do dia, Deus faz a mais triste pergunta que tenho notícia:
"E chamou o Senhor Deus a Adão, e disse-lhe: Onde estás?" (Gênesis 3:9)
Sendo Deus onisciente, será que Ele não sabia onde estava Adão? Com certeza sim. No entanto, Deus não falava para o homem-alma, nem o homem-corpo, mas sim para o homem-espírito, à imagem de Deus, e que já não estava mais ali!

O Lugar de Morte


Aqui neste mundo físico, morte significa o fim da existência, mas quando se trata do mundo espiritual, a morte é um lugar e não significa que o espírito deixa de existir. No reino espiritual, tudo é eterno.

Para demonstrar isto, quero compartilhar um verso maravilhoso das Escrituras que mostra o seguinte: através de Sua morte, Jesus teve acesso a este lugar, e inclusive, está com a chave dele:
"E o que vivo e fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre. Amém. E tenho as chaves da morte e do inferno." (Apocalipse 1:18)
Observe que são dois lugares diferentes: a morte é um lugar onde estão aqueles que estão vivos no corpo, mas espiritualmente separados de Deus.
"E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados." (Efésios 2:1)
Obviamente, o verso acima não se refere à alma, nem ao corpo, mas ao espírito, já que uma pessoa que esteja fisicamente morta não conseguirá nem ao menos pecar.

Já o inferno é um lugar (também separado de Deus) para onde vão os que morrem. Esta mesma palavra grega ("hades") é usada quando Jesus fala sobre o Rico e Lázaro (Lucas 16:23).

Quando Adão desobedeceu a Deus e comeu da árvore do conhecimento do bem e do mal, o seu espírito foi lançado neste lugar de morte. Ora, neste lugar de morte, satanás obteve domínio sobre o homem para agir através do espírito caído de Adão.
"E, visto como os filhos participam da carne e do sangue, também ele participou das mesmas coisas, para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo;" (Hebreus 2:14)

Como o mundo espiritual influencia o físico


Agora, vamos usar esta "parábola" que trouxe no início, onde o espírito é representado pelo vapor d'água, a água (líquida) representa a alma e o copo representa o corpo. Pois bem, quando Adão foi criado ele era santo em todos os aspectos: espírito, alma e corpo, no entanto, após pecar, seu espírito morreu, ou seja, caiu em um lugar espiritual separado da comunhão com o Pai.

Assim, o diabo começou a influenciar o homem e, gradativamente, a alma humana foi se corrompendo, corrupção esta que se traduzia em obras mortas tais como poligamia, homicídios, etc., até ao ponto onde toda alma do homem foi contaminada e seus pensamentos eram somente maldosos:
"E viu o Senhor que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente." (Gênesis 6:5)
Podemos ver este processo de sujeira na alma humana usando nossa ilustração com os copos:

É importante ressaltar que a degradação moral da raça humana não foi instantânea, levou-se mais de mil anos até chegar ao ponto descrito em Gênesis 6:5 citado acima. Adão não se tornou pervertido sexualmente ou assassino assim, da noite para o dia. De fato, lendo as Escrituras, vemos uma degradação que se intensificava a cada nova geração.

Vídeo explicativo


Veja, abaixo, um vídeo com esta mesma aula, onde eu uso alguns elementos para demonstrar esta ilustração que expliquei acima:



Que a graça e a paz do Senhor seja com o seu espírito. Amém.

Pr. Wendell Costa

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Espírito, Alma e Corpo - Parte 3 - A Criação do Homem



Nós não somos seres tão simples de serem compreendidos. Não é à toa que a Escritura Sagrada nos revela que fomos criados à imagem e semelhança de Deus! Nesta terceira parte de nosso estudo, gostaria de falar um pouco sobre como foi o processo de criação do homem e também como funciona o processo de salvação.

Vamos voltar ao nosso versículo chave, para trazer à memória esta importante verdade:
"E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo." (1 Tessalonicenses 5:23)
Assim como o homem é formado de três partes separadas, assim também, a salvação é um processo separado, ou seja, cada uma das partes do homem é salva em momentos diferentes, ou melhor dizendo, em diferentes etapas.

Antes de mais nada, vamos estudar a forma como o homem foi gerado.

A Imagem de Deus


Anteriormente, no texto passado, vimos que fomos criados à semelhança de Deus, ou seja, assim como Deus é formado por três "partes" diferentes - o Pai, o Filho e o Espírito Santo -, assim também, o homem foi criado com estas três partes: o espírito, a alma e o corpo. Quando falo "partes" não tenho a intenção de desrespeitar a Pessoa Divina de forma alguma, mas sim de mostrar que há um tipo de divisão de personalidade e vimos que o o homem também possui esta divisão.

No entanto, a Escritura usa uma outra palavra para descrever as características do homem quando Deus nos criou, pois, além da palavra "semelhança", e até mesmo antes dela, é usada a palavra "imagem". Vejamos:
"E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou." (Gênesis 1:27)
Particularmente, creio que neste momento, Deus criou apenas o espírito do homem, pois o seu corpo e alma só foram criados em Gênesis 2:7, e isto após os céus e a terra haverem sido concluídos.

Vamos examinar o significado da palavra hebraica traduzida como "imagem". A palavra é tselem, que, segundo o dicionário bíblico de Strong, significa:
  • De uma raiz não utilizada significando "projetar uma sombra"; um fantasma, isto é, (figurativamente) ilusão, semelhança; desta forma uma imagem/figura representativa (de alguma coisa), especialmente um ídolo.
Ora, no versículo 26, o Senhor falou que iria criar o homem à Sua imagem, e conforme à Sua semelhança, no entanto, no verso 27, Deus criou apenas a imagem. Vejamos o que significa a "imagem" de Deus. Confira os versículos seguintes:
"Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho,
A quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo.
O qual, sendo o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa..."
(Hebreus 1:1-3)
Vemos, pela revelação do Novo Testamento, que a imagem exata de Deus está no Filho. Ocorre que o Filho de Deus é um Espírito. Ele já existia antes de se tornar homem, de acordo com o evangelho de João:
"No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
(...)
E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós..."
(João 1:1, 14)
Cristo, o Espírito, já existia antes de se tornar um homem. O Filho é a exata imagem do Pai, inclusive, conforme já vimos anteriormente, é a função do Filho revelar quem é o Pai. E Deus é Espírito, e Sua imagem também é espírito.

Assim, quando a Palavra de Deus fala que o homem seria feito à imagem de Deus, significa que o homem carregaria em si mesmo esta imagem. A imagem de Deus não está no intelecto nem no corpo do homem, mas sim no seu espírito. O nosso espírito foi criado para ser uma "projeção", "reflexo" ou "imagem" de Deus.

Quando o homem pecou, perdeu esta imagem, e seu espírito se tornou trevas. O primeiro passo do trabalho de Jesus Cristo foi exatamente restaurar esta imagem no homem, ou seja, Deus restitui ao homem um novo espírito:
"Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo." (2 Coríntios 5:17)
Não é difícil de saber que quando uma pessoa se converte a Cristo, o corpo dela permanece do mesmo jeito que era. Já o intelecto - sua alma - começa a sofrer um processo lento de transformação, que começa naquele momento, mas que irá durar toda a vida. Contudo, o espírito é instantaneamente transformado. Se não fosse assim, este versículo seria uma mentira!

A Criação do Corpo e da Alma Humana


Após toda a criação ter sido concluída, o Senhor prepara o corpo do homem. Era necessário que o homem tivesse um corpo físico, intimamente ligado à terra, a fim de poder exercer domínio recebido pelo Senhor. Assim, o Senhor forma o corpo do homem do pó da terra:
"E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente." (Gênesis 2:7)
Uma coisa bem interessante é que a palavra usada quando o Senhor criou o corpo humano é diferente da palavra usada quando Deus criou o espírito (em Gênesis 1:27).

Em Gênesis 1:27, falando da criação do espírito do homem, é usada a palavra hebraica barah, que foi a mesma usada em Gênesis 1:1, quando Deus cria tudo a partir do nada. Já quando cria o corpo do homem, é usada a palavra yatsar que quer dizer "moldar", como quem molda um vaso de barro.

Agora, tínhamos um espírito e um corpo, no entanto, faltava um elemento de ligação entre eles. Este elemento é a "alma", que, em hebraico, é nefesh, e em grego é uma palavra bem conhecida nossa: psikê (de onde tiramos palavras como "psicologia" ou "psiquiatria"). Ambas palavras possuem o sentido de fôlego de vida, sendo traduzidas, em geral, como "alma".

Ainda vamos estudar cada uma destas partes do ser humano detalhadamente, contudo, entendo ser importante fazermos um resumo sobre cada uma delas antes de prosseguirmos para os próximos textos.

Resumindo "espírito, alma e corpo"


O espírito


Nosso espírito foi criado como imagem de Deus. Deus é espírito e está em um plano superior, que chamamos de Céu. Nosso espírito é assim como Deus: pertence a este plano superior, que não se sujeita às leis físicas, é eterno, tem ciência de todas as coisas e se comunica diretamente com Deus e com outros espíritos.

A princípio, nosso espírito refletia o Filho de Deus, tendo a mesma natureza de amor, alegria, paz, benignidade, etc. No entanto, após o pecado, o espírito humano caiu em trevas e se tornou semelhante aos anjos caídos.

O corpo


O corpo do homem é vivo, inteligente, capaz, não é uma máquina como se fosse um robô, ele possui vontades próprias. O corpo executa diversas funções orgânicas das quais não temos controle (por exemplo, batimentos cardíacos, digestão dos alimentos, etc), algumas temos um controle parcial (por exemplo, nossa respiração), e outras que temos mais controle (comer, beber, correr, etc.).

O corpo humano é extremamente adaptável, ou seja, ele é ensinável e treinável (não sei se esta palavra existe, mas creio que você entendeu). Nosso corpo desenvolve hábitos de forma que reagimos automaticamente diante de certos eventos.

Após o pecado, o corpo humano caiu debaixo de maldição e começou a envelhecer. A princípio, a idade média do homem era de quase mil anos (Gênesis 5), mas ao final do livro de Gênesis, vemos esta expectativa de vida cair para pouco mais de 100 anos - José morreu com 110 anos.

Isto mostra que o efeito do pecado no homem foi se estabelecendo (frutificando) ao longo do tempo, e não foi de forma instantânea. Gradativamente, través de seu corpo, o homem começou a se tornar terrivelmente maligno, pois começou a manifestar em si a sua natureza espiritual maligna, após a queda sofrida.

A alma


Talvez a parte mais crítica de nossa "trilogia" seja exatamente a alma! Vamos falar um pouco nela agora.

A nossa alma é o que a Bíblia chama de "homem interior" (Romanos 7:22, Efésios 3:16, 2 Coríntios 4:16). É na alma que encontramos o "entendimento", onde nós compreendemos as coisas.
"Então abriu-lhes o entendimento para compreenderem as Escrituras." (Lucas 24:45)
A alma é o elo de ligação entre o mundo espiritual e o mundo físico. Para que o homem-espírito pudesse dominar sobre o mundo físico, ele precisou do homem-corpo. No entanto, um espírito vive em uma realidade diferente da realidade física, assim a alma entra em ação a fim de fazer com que a realidade espiritual seja traduzida em ações na realidade material.

No caso de Adão, ele foi criado com uma alma já pronta, com capacidade de se expressar como um adulto. Eva demonstra ter recebido também esta alma completa, apesar de não terem todo o conhecimento, pois a tentação que veio sobre eles foi exatamente nisso, ou seja, o diabo ofereceu um caminho "rápido" para eles obterem conhecimento.
"E viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento; (...)" (Gênesis 3:6)
Creio que o plano original era que o homem fosse descobrindo a criação do Senhor, vendo as maravilhas criadas e, antes de tudo, conversando e tendo comunhão com o Pai, de forma a crescer em conhecimento e sabedoria.

Não se preocupe se você ainda tem dúvidas sobre estas três partes da nossa formação, pois serão tratadas detalhadamente nos textos futuros, no momento, é só para você ter uma ideia geral sobre elas.

A separação entre as partes do homem é tão forte que a própria salvação é feita em três etapas bem distintas. Vamos estudar isto a partir de agora.

O Processo de Salvação


A salvação do homem foi dividida em 3 etapas distintas, ou "fases" distintas. Vamos compreender um pouco sobre elas.

A primeira etapa é a salvação do espírito humano. Jesus falou sobre isso com o líder judeu Nicodemos. Vejamos parte deste diálogo:
"E havia entre os fariseus um homem, chamado Nicodemos, príncipe dos judeus.
Este foi ter de noite com Jesus, e disse-lhe: Rabi, bem sabemos que és Mestre, vindo de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não for com ele.
Jesus respondeu, e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus."
(João 3:1-3)
Jesus mostra que, antes de mais nada, ou seja, antes de Nicodemos começar a entender as coisas do Reino de Deus, era necessário ele receber um espírito novo! A promessa de salvação do espírito humano já era anterior ao Novo Testamento.
"E dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne." (Ezequiel 36:26)
Nosso Senhor trouxe esta realidade da salvação do espírito (bem como das outras "partes") através de Sua morte e ressurreição, no entanto, para que possamos compreendê-la, é necessário experimentá-la. Falaremos mais sobre o espírito quando tratarmos apenas dele.

Após nosso espírito ser salvo, quando aceitamos a Jesus como Senhor sobre nossas vidas, a segunda fase da salvação é iniciada: a salvação da alma. Como já disse anteriormente, é na alma que está nosso entendimento, nossa forma de ver a vida (chamada de "cosmovisão").

Para que a nova vida que Deus nos dá (nosso novo espírito) possa se manifestar através de nossos corpos, é necessário uma troca na alma. Nosso antigo "eu" vivia longe de Deus, e, desta forma, desenvolveu ideias, conceitos, desejos errados. A mudança do espírito é instantânea, mas na alma não.

Para que a alma mude e vá, gradativamente, sendo transformada, é necessário um processo que conhecemos como "santificação". Este processo é lento e depende de nosso esforço em empreendê-lo. Deus nos disponibiliza Sua Palavra e o Seu Espírito, no entanto, depende de nós usarmos estas ferramentas para sermos transformados. Irei detalhar bem esta parte com bastante atenção, tendo em vista que é esta a fase na qual estamos hoje (isto se você é cristão nascido de novo).

"De sorte que, meus amados, assim como sempre obedecestes, não só na minha presença, mas muito mais agora na minha ausência, assim também operai a vossa salvação com temor e tremor;" (Filipenses 2:12)
A palavra grega traduzida como "operar" vem do grego katergazomai, que significa:
  1. executar, completar, atingir
  2. exercitar, i.e. fazer aquilo da qual algo resulta
    - de coisas: promover, resultar em
  3. modelar, i.e. tornar algo apropriado (para algum uso)
Assim, vemos que será necessário este trabalho a fim de que a salvação do nosso espírito se traduza em uma mudança real de caráter, que, por sua vez, nos levará a agir em santidade.

A última etapa da salvação do homem acontecerá na ressurreição final. Ali, os que estiverem vivos terão os corpos transformados, e os que já morreram ressurgirão do pó.
"Num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados." (1 Coríntios 15:52)
Nossos corpos mortais e limitados serão transformados em corpos espirituais, poderosos, gloriosos e eternos. Nunca mais adoeceremos, e o pecado, a morte, o diabo, o mundo caído passarão. Com isto, a salvação completa do homem será finalizada: espírito, alma e corpo estarão perfeitos e reunidos para sempre.

Que a paz do Senhor seja com o teu espírito. Amém.

Pr. Wendell Costa

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Espírito, Alma e Corpo - Parte 2 - A Trindade



Quando eu era criança, ouvia falar sobre a Trindade, em que o Deus cristão era dito ser formado de três pessoas em uma só. No entanto, ninguém me explicava sobre como isso poderia ser, apenas diziam que isso era um "mistério incompreensível."

Quando me converti a Cristo, em maio de 1995, já na igreja evangélica, passei a ouvir algumas explicações para este fato, bem como diversos versículos que mostravam a doutrina da Trindade na Bíblia. Ainda assim, não compreendia a necessidade de Deus ser três Pessoas se Ele poderia ser apenas uma como nós somos, e isto não me parecia lógico.

Bem, o que isto tem haver com o tema deste estudo, já que se refere às três partes do ser humano: espírito, alma e corpo? O que a doutrina da Trindade tem haver com isto?

Na verdade, tem tudo haver! O homem foi criado à imagem e semelhança de Deus. Portanto, se Deus é, digamos, formado por três partes (pessoas), nós também somos. Se quisermos compreender a nós mesmos, precisamos olhar para Aquele que nos originou: Deus!

Pai, Filho e Espírito Santo


Certa vez, minha esposa conversava comigo e me contou como ela entendia que Jesus era o Pai, e vice versa. Alguém da igreja havia perguntado a ela, e ela respondeu como entendia. Tive que mostrar a ela algumas passagens bíblicas que ela achava serem "figuradas".

Precisamos ter cuidado com o que dizemos ser "figurado" na Bíblia. De fato, existem coisas que são figuradas mas as figuras usadas nas Escrituras precisam estar claramente definidas como sendo "figuradas", caso contrário, você poderá estar caindo em sérios erros de entendimento.

Os exemplos mais claros são as parábolas de Jesus. Cristo tomava elementos do cotidiano das pessoas da época e os usava para ensinar lições espirituais. Geralmente, o próprio Cristo explicava o sentido da parábola, ou este era compreendido em outras passagens do Novo Testamento.

Aliás, precisamos entender esta regra básica de interpretação bíblica:
  1. O Novo Testamento explica o Antigo.
  2. As epístolas explicam os evangelhos.
Com relação à doutrina da Trindade, como este estudo não se refere a ela, não dedicarei muito tempo tentando provar a sua biblicidade, mas sim, apenas mostrar que as 3 Pessoas estão presentes ao longo das Escrituras, e mais claramente vistas no Novo Testamento.

Vejamos uma passagem bíblica que mostra a Trindade de forma claramente separada:
"E, sendo Jesus batizado, saiu logo da água, e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba e vindo sobre ele.
E eis que uma voz dos céus dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo."
(Mateus 3:16,17)
O próprio Pai dá testemunho do Filho enquanto que o Espírito Santo desce em forma corpórea de pomba sobre Jesus. Outra ocorrência clara da Trindade está na fórmula do batismo ordenada por Jesus:
"Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;" (Mateus 28:19)
Além disso, existem muitas passagens bíblicas que mostram a Trindade ao longo da Bíblia, e não vou me deter nisso. Vamos, agora, examinar qual o papel de cada uma das Pessoas da Trindade.

O Papel de Cada Pessoa

O Pai é a origem de todas as coisas, Ele é a fonte, ou seja, o "pai" (origem) de tudo. O próprio Filho e o Espírito procedem d'Ele (João 8:42, 1 Coríntios 2:12). O Pai é invisível, tendo Seu caráter revelado pelo Filho, que é o resplendor da Sua Glória:
"O qual, sendo o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa..." (Hebreus 1:3)
"O qual é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação;" (Colossenses 1:15)
"Ora, ao Rei dos séculos, imortal, invisível, ao único Deus sábio, seja honra e glória para todo o sempre. Amém." (1 Timóteo 1:17)
O Pai revela quem Ele é através do Filho. E o Espírito Santo?

O Espírito Santo é a Pessoa da Trindade que opera a vontade do Pai, ou seja, Ele é o executor. Por exemplo: quem executa a nossa salvação nos regenerando (gerando de novo) é o Espírito Santo:
"Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo..." (Tito 3:5)
Agora, observe estas duas passagens bíblicas:
"Mas, se eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, logo é chegado a vós o reino de Deus." (Mateus 12:28)
"Mas, se eu expulso os demônios pelo dedo de Deus, certamente a vós é chegado o reino de Deus." (Lucas 11:20)
Elas são duas descrições da mesma ocorrência, feita pelos dois evangelistas Mateus e Lucas. Não são contradições, pelo contrário, elas se auto complementam: o Espírito de Deus é o "dedo de Deus"! Ou seja, o Espírito Santo é como se fosse o "corpo" de Deus. Era o Espírito de Deus que se movia sobre a face das águas, aguardando a Palavra de Deus (o Filho) ser dita a fim de executá-la:
"No princípio criou Deus o céu e a terra.
E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas.
E disse Deus: Haja luz; e houve luz."
(Gênesis 1:1-3)
É o Espírito Santo quem nos cria e dá vida, executando, assim, a vontade do Pai:
"O Espírito de Deus me fez; e a inspiração do Todo-Poderoso me deu vida." (Jó 33:4)

São a Mesma Pessoa?

O Pai e o Filho não são a mesma pessoa, pois se isto fosse verdade, Jesus estaria mentindo quando falou que o Pai deu testemunho do Filho:
"Eu sou o que testifico de mim mesmo, e de mim testifica também o Pai que me enviou." (João 8:18)
Ora, qualquer tribunal justo jamais aceitaria que o testemunho de uma pessoa contasse duas vezes. Imagine que eu fosse acusado de um crime, então, eu declaro que sou inocente de tal acusação. Posteriormente, as testemunhas são chamadas para confirmarem ou negarem o que eu falei. Daí, eu vou lá e entro de novo para testemunhar me fazendo passar por outra pessoa. Será que este testemunho seria aceito? Claro que não! O próprio Jesus afirmou...
"Se eu testifico de mim mesmo, o meu testemunho não é verdadeiro." (João 5:31)
Se o Pai testifica do Filho é porque são duas Pessoas diferentes, inclusive, elas poderiam (teoricamente) se negarem mutuamente. Obviamente, o Filho se submete ao Pai em amor, e a Trindade vive em unidade perfeita.

Mas sobre o Espírito Santo? Muitos acham que o termo "Espírito de Cristo" significa que são a mesma pessoa. Vamos verificar isto.

Vejamos, novamente, a Trindade se relacionando entre Si. Nesta passagem, Jesus fala com o Pai (veja como são 2 Pessoas diferentes), e o Pai atenderia a oração do Filho enviando uma 3ª Pessoa:
"E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre;" (João 14:16)
O termo grego traduzido aqui como "consolador" é parákletos que se referia a alguém influente que dava assistência a alguma pessoa que sofria algum processo perante um juiz. Além do advogado, a pessoa também podia contar com uma outra a fim de ajudá-la, consolando-a e assistindo-a de forma a vencer no julgamento.

Além disso, notamos claramente a palavra "outro", que mostra que Jesus iria embora para estar ao lado do Pai intercedendo por nós, mas que enviaria uma Outra Pessoa, o Espírito Santo, a fim de executar aqui na Terra a vontade do Pai através da Igreja.

Criados à Semelhança de Deus

É interessante como a igreja, em geral, compreende um pouco sobre a Trindade, mas não entende qual a relação que existe com o homem. Contudo, o livro de Gênesis nos traz uma impressionante revelação sobre a semelhança entre Deus e o homem:
"E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; (...)" (Gênesis 1:26)
Há duas palavras aqui usadas para mostrar a similitude entre nós e o nosso Criador: imagem e semelhança. Posteriormente, falarei sobre o termo "imagem", mas agora quero explicar o que significa termos sido criados conforme a semelhança de Deus.

Logo mais à frente, no livro de Gênesis, vemos novamente esta palavra "semelhança" (do hebraico "demuth") sendo usada novamente:
"Este é o livro das gerações de Adão. No dia em que Deus criou o homem, à semelhança de Deus o fez.
(...)
E Adão viveu cento e trinta anos, e gerou um filho à sua semelhança, conforme a sua imagem, e pôs-lhe o nome de Sete."
(Gênesis 5:1,3)
É muito interessante ver esta mesma expressão ser usada quando Adão teve seu filho Sete. Isto mostra que quando Deus pensou em criar o homem, Ele desejava ter um filho, ou melhor, muitos filhos. Este era o plano desde o início!

Como compreender um Deus tão grandioso e maravilhoso como o nosso Criador?
"A quem, pois, fareis semelhante a Deus, ou com que o comparareis?" (Isaías 40:18)
No verso acima, onde foi traduzido como "com que o comparareis", originalmente diz: "Que semelhança  (hebraico "demuth") O compararemos". A mesma palavra é utilizada na grande pergunta que nossos corações anelam saber: QUEM Deus é e COMO Ele é.

Sobre QUEM Deus é, temos a seguinte resposta: Cristo, o Filho, é que nos revela o caráter de Deus. Cristo é um ser espiritual, assim como o Pai. De fato, hoje, Cristo - o Filho - habita em um corpo de homem, mas não deixa de ser um "espírito". Este Filho deveria habitar no espírito do homem para que nós manifestássemos à imagem de Deus, Seu caráter de amor, alegria, paz, etc.

Sobre COMO Deus é. Para que a Criação pudesse compreender o Seu Criador, Ele projeta o homem, um ser criado neste mesmo modelo: 3 pessoas em uma.

Conclusão

Assim como Deus, os homens foram criados como se fossem 3 pessoas diferentes: o espírito, a alma e o corpo possuem, cada um deles, vontades separadas, e que podem ser diferentes, principalmente agora, na situação onde nos encontramos. Nosso corpo possui vontades que são contrárias às vontades do nosso espírito (Gálatas 5:17). Não apenas isto, mas nossa alma também pode ter uma vontade diferente, tanto do corpo como do espírito.

Então, vemos que o pecado maculou a imagem de Deus no homem, tornando-o um ser maligno, mas Jesus restaura o nosso espírito, permitindo que o Filho volte a habitar em nosso espírito. Agora, gradativamente, nossa alma vai sendo transformada para que possa entender a realidade espiritual, de forma a podermos andar (levar nosso corpo a agir) pelo espírito.

Que a paz do Senhor seja com o seu espírito. Amém.

Pr. Wendell Costa

terça-feira, 31 de outubro de 2017

Espírito, Alma e Corpo - Parte 1 - Dois Mundos



No princípio, Deus criou o Céu e a Terra,  assim começa a Bíblia no seu primeiro livro Gênesis, que significa "origem". Quando as Escrituras falam a palavra "Céu" ou "Céus" tanto podem se referir ao nosso céu físico, de cor azul como pode se referir a um mundo espiritual criado por Deus.

Este mundo espiritual, apesar de não ser visto com nossos olhos naturais, é real e interage constantemente com o mundo natural. Nós seres humanos fomos criados com a capacidade de interagirmos tanto com o espiritual como com o mundo físico. De fato, somos formados com 3 partes distintas, conforme é dito:
"E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo." (1 Tessalonicenses 5:23)
Nesta nova série de estudos, iremos estudar estas três partes que compõem o ser humano, compreendendo como separar uma da outra e como a Bíblia nos orienta a agir com este conhecimento.

Os Dois Mundos

Quando Deus criou tudo, separou as duas realidades, conforme dito no Gênesis 1:1, versículo com o qual iniciamos este texto.  O termo usado para Céu não se refere ao nosso céu físico (azul) que vemos todos os dias, desde quê o tempo atmosférico permita.

Deus criou o céu físico para nos mostrar o quão mais alto e amplo é o reino espiritual em comparação com o reino físico. Bem, aqui cabe um esclarecimento: sempre que eu falar sobre "reino espiritual", "mundo espiritual", "realidade espiritual", etc. estou me referindo a esse conceito de um lugar não físico, mas sim espiritual, lugar de habitação dos espíritos, Deus, anjos ou demônios. E quando falar sobre "mundo físico", "realidade física", etc. estou me referindo a este mundo natural que vemos e interagimos com o nosso corpo.

Pois bem, Deus criou duas realidades distintas: o reino (ou mundo) espiritual e o reino (ou mundo) físico. Deus habita no mundo espiritual, e nós, seres humanos, habitamos no mundo físico. Vejamos o que as Escrituras dizem:
"Os céus são os céus do Senhor; mas a terra a deu aos filhos dos homens." (Salmos 115:16)
Quando o Senhor criou a terra, imediatamente antes de criar o homem, Ele falou:
"E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra..." (Gênesis 1:26)
"E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a." (Gênesis 1:28)
Portanto, ao entregar a terra ao homem, o Senhor se excluiu. Isto não quer dizer que Deus deixou de ser Deus, mas sim que Ele quis que o ser humano tivesse autonomia para fazer o que bem entendesse (dentro de certos limites). E quando Deus fala algo, Ele não pode mudar o que falou, a não ser no caso em que Ele está executando um juízo e o homem se arrepende.

A Bíblia não detalha muito este reino espiritual, talvez por que não temos condições de compreendê-lo com perfeição, exatamente por ser uma realidade além da física. O próprio apóstolo Paulo fala sobre as palavras que ele ouviu quando visitou o céu, vejamos:
"Conheço um homem em Cristo que há catorze anos (se no corpo, não sei, se fora do corpo, não sei; Deus o sabe) foi arrebatado ao terceiro céu.
(...)
Foi arrebatado ao paraíso; e ouviu palavras inefáveis, que ao homem não é lícito falar."
(2 Coríntios 12:2,4)
O termo "inefável" quer dizer "que não se pode exprimir por palavras" (dicionário Michaelis), e não foi concedido aos homens experimentar toda a realidade celestial neste momento. No entanto, isto será concedido após a ressurreição, onde teremos nosso corpo transformado. Se quiser ler mais sobre isto, veja 1 Coríntios 15:42-44.

Habitação dos espíritos

Existem seres que são exclusivamente espirituais, ou seja, eles não possuem um corpo físico assim como nós. Estes seres (incluindo aí o próprio Deus) não receberam autoridade para dominar sobre o mundo físico. Obviamente, eles têm poder para isto, em especial o próprio Senhor Deus, sendo o criador de tudo, tem plena capacidade de fazer o que bem quiser, no entanto, Ele não faz por que é fiel à Sua própria Palavra, e não viola o que diz.

Para que possam agir aqui no nosso mundo físico, os espíritos precisam agir através do homem, e por isso, precisam de nosso consentimento, quer voluntariamente, quer através do engano.

Quando Deus age através de nós, Ele não usa de engano, pois é a própria Verdade, mas os demônios agem através do homem usando, basicamente, o engano. Veja que Jesus chamou o homem de "casa" quando falou o seguinte:
"Quando o espírito imundo tem saído do homem, anda por lugares secos, buscando repouso; e, não o achando, diz: Tornarei para minha casa, de onde saí." (Lucas 11:24)
No caso dos demônios, eles usam o homem para estabelecerem seu reino sobre a terra, e enganam o homem, já que o líder deles - satanás - é o "pai da mentira" (João 8:44). Isto só aconteceu após o pecado de Adão, pois Deus o advertiu que se Adão pecasse, ele morreria. A morte sobre a qual Deus falou era, de fato, a morte espiritual e não física, pois Adão não morreu fisicamente no dia em que ele comeu da árvore do conhecimento do bem e do mal (esta história está em Gênesis 3).

O próprio Deus teve que preparar o caminho para que Ele mesmo viesse, em forma humana, caminhar sobre a terra a fim de nos salvar.
"Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, E chamá-lo-ão pelo nome de EMANUEL, que traduzido é: Deus conosco." (Mateus 1:23)
Veja que grande amor Deus teve por nós: se tornar um homem e morrer uma morte humilhante a fim de levar os nossos pecados naquela cruz. Assim, Ele nos substituiu como homem e pagou o salário do pecado: a morte, possibilitando, assim, que Deus voltasse a habitar dentro de nós, nos tornando Sua casa!

Conhecendo o mundo espiritual

Bem, e você pode perguntar: Por que eu preciso conhecer o mundo espiritual?

A resposta é que o homem é, sobretudo, um ser espiritual! De fato, o homem foi criado para interagir com ambos os reinos - físico e espiritual. Na verdade, o mundo espiritual está constantemente interagindo com o físico, mas como esta realidade espiritual está oculta aos nossos olhos, não compreendemos quão intensa é esta interação.

Muitas religiões tentam trazer revelações sobre como seria este mundo espiritual mas somente a Bíblia Sagrada, a Palavra de Deus é uma fonte fidedigna sobre ele. O cristão precisa compreender como funcionam as coisas espirituais para que não erre em seus caminhos e seja enganado pelos demônios, pois enganar é a especialidade deles:
"Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios;"  (1 Timóteo 4:1)
Muitas falsas religiões surgiram, até mesmo usando partes da Bíblia Sagrada, a fim de iludir a humanidade a crer nas mentiras e roubar dos homens a salvação. Precisamos das Escrituras e do Espírito Santo para que possamos estar atentos às sutilezas do diabo e andarmos em triunfo em nossa passagem aqui na terra.

A separação entre as realidades

Certa noite, um líder do povo Judeu chamado Nicodemos foi ter com Jesus. Ele certamente presenciou algum milagre ou viu alguém que presenciara e quis saber mais sobre Cristo. Talvez ele achasse que Jesus realmente era o Messias que haveria de vir

Nicodemos entendia que Jesus vinha de Deus porque reconhecia que ninguém poderia fazer tamanhos milagres se não houvesse uma força sobrenatural agindo através de Jesus. Mas a resposta do Senhor foi um tanto quanto intrigante:

"Jesus respondeu, e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus." (João 3:3)
A palavra grega traduzida aqui como "de novo" quer dizer literalmente "de cima". Vejamos esta palavra:
  • ἄνωθεν (ánoten) - relativo a coisas que vem do Céu ou de Deus (dicionário de grego bíblico Thayer)
Ela é traduzida como "do alto" em outras passagens bíblicas, como por exemplo:
"Aquele que vem de cima [ánoten] é sobre todos; aquele que vem da terra é da terra e fala da terra. Aquele que vem do céu é sobre todos." (João 3:31)
E vemos que logo depois, nos é dado um sinônimo pra "de cima", pois o evangelista João fala de Jesus como sendo "aquele que vem do céu".

Juntando estes versículos, vemos que Jesus falou para Nicodemos que era necessário que nós nascêssemos de novo só que não de forma física, mas sim da forma "espiritual", ou seja, nós precisamos nascer em uma nova realidade: a realidade espiritual. De nada adiantava nascermos novamente na carne, ou seja, recebermos um novo corpo. Precisamos receber um novo espírito!

Jesus deixa claro aqui que carne é carne (realidade física) e espírito é espírito (realidade espiritual):
"O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito." (João 3:6)

Conclusão

Vemos que Deus criou duas realidades separadas mas que interagem uma com a outra. O homem tem condições de interagir com ambas, pois possui um espírito e um corpo. O grande problema está na seguinte parte nossa: a alma!

Ainda vamos meditar sobre a alma, mas é na nossa alma (entendimento) que nós decidiremos se vamos agir de acordo com a realidade espiritual ou se vamos agir de acordo com a realidade física. Então, acompanhe estes estudos para que você possa escolher se será um cristão guiado pelo espírito ou guiado pela carne.

Que a paz do Senhor seja com o teu espírito. Amém.


Pr. Wendell Costa

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Amor - A Verdadeira Natureza de Deus - Parte 11

Os Propósitos da Lei


Como vimos na última parte destes textos, Deus envia a Lei de Moisés para trazer a consciência do homem de volta a entender a diferença entre o bem e o mal, pois o pecado endureceu o coração do homem a tal ponto que atrocidades eram cometidas de forma corriqueira nas nações, ao ponto de até os governantes - que são o exemplo principal dos seus povos - oferecerem seus próprios filhos como sacrifícios aos deuses.

A Lei de Moisés veio, principalmente, para revelar o pecado que habitava dentro do homem, mas não apenas para isso. Neste texto, vamos examinar quais os propósitos para os quais Deus deu a Lei de Moisés. Confira!

Revelar o Pecado e Trazer Condenação



Deus é um Deus bom, no entanto, o homem não é bom. Conforme já vimos, o pecado endurece o nosso coração e nos leva pra longe do Senhor. Nosso entendimento fica obscurecido e passamos a não compreender a verdadeira natureza de Deus, ou seja, deixamos de compreender o amor e a pureza do nosso Criador.

Antes de enviar a solução para o pecado - Jesus Cristo - Deus teve que preparar o caminho enviando uma Lei dura que iria punir o pecado de forma rigorosa. De fato, caso o indivíduo pecasse de forma voluntária e desafiadora, ele deveria morrer:
"Mas todo aquele que pecar com atitude desafiadora, seja natural da terra, seja estrangeiro residente, insulta ao Senhor, e será eliminado do meio do seu povo." (Números 15:30)
Assim, o Senhor Deus queria mostrar a consequência destruidora do pecado: a morte. Após Ele ter inaugurado esta Aliança com aquele povo específico, o povo de Israel, Deus começa a trazer punição para os pecados cometidos, ao contrário do que Ele fazia antes da Lei.

Vejamos dois dos propósitos da Lei que estão descritos no livro de Romanos pelo apóstolo Paulo (sob a inspiração do Espírito Santo):
"Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da lei o diz, para que toda a boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus.
Por isso nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado." 
(Romanos 3:19-20)
O primeiro motivo falado é "para que toda boca esteja fechada", ou seja, a Lei exigia um comportamento de alto nível de santidade, comportamento este que era praticamente impossível de se atingir. A Lei, por exemplo, ordenava ao homem que não cobiçasse:
"...Mas eu não conheci o pecado senão pela lei; porque eu não conheceria a concupiscência, se a lei não dissesse: Não cobiçarás." (Romanos 7:7)
Quando o homem tomava conhecimento do mandamento, sua consciência o acusava sempre que ele cobiçasse alguma coisa (bens, mulheres, etc.). De fato, o mandamento despertava ainda mais o desejo pecaminoso:
"Mas o pecado, tomando ocasião pelo mandamento, operou em mim toda a concupiscência; porquanto sem a lei estava morto o pecado." (Romanos 7:8)
Desta forma, o mandamento fazia com que o pecado fosse ressaltado pela própria consciência do homem. Então, não havia outra opção para o homem senão depender da misericórdia e do perdão de Deus!

Gerar Temor no Homem


Tendo em vista que a Lei não transformava o coração do homem, ela conseguiu diminuir os pecados através da punição, principalmente a morte física. Com isso, Deus santificava o povo de Israel através do temor.
"Para que todos os povos da terra conheçam a mão do Senhor, que é forte, para que temais ao Senhor vosso Deus todos os dias." (Josué 4:24)
Através de muitas e complicadas regras, o homem era totalmente não incentivado ao pecado, pois teria que sacrificar seus animais e cumprir difíceis rituais de purificação. Além disso, em caso de pecar de forma temerária (desafiadora), a morte o estaria esperando. O homem, então, deixava de pecar por temor (medo):
"E disse Moisés ao povo: Não temais, Deus veio para vos provar, e para que o seu temor esteja diante de vós, a fim de que não pequeis." (Êxodo 20:20)
Infelizmente, apesar de todas as maldições que vinham sobre o povo devido ao pecado, a maior parte da comunidade de Israel, ao longo dos séculos, não agia em temor ao Senhor, e o resultado foi muitas perdas para eles. Israel caiu diante de seus inimigos diversas vezes.

Preparar um Povo Santo


A solução final para o pecado do homem viria mais a frente, através do Salvador, no entanto, Jesus precisou de um povo (a Igreja) para levar a mensagem de salvação aos quatro cantos do mundo. Assim, era necessário um povo separado para isso. A nação de Israel, após séculos, estava pronta pra receber o Salvador. Muitos homens e mulheres piedosos aguardavam o Messias quando Jesus nasceu. Esta obra de purificação, pelo menos de parte do povo, foi feita pela Lei:
"Porque és povo santo ao Senhor teu Deus; e o Senhor te escolheu, de todos os povos que há sobre a face da terra, para lhe seres o seu próprio povo." (Deuteronômio 14:2)

Anunciar a Salvação e o Salvador


A própria Lei de Moisés tinha, digamos, um prazo de validade. O próprio Deus, através de Moisés, avisou que ainda levantaria um profeta semelhante a Moisés, ou seja, alguém que viria inaugurar uma aliança com o povo de Deus. Veja o que o próprio Moisés avisou:
"O Senhor teu Deus te levantará um profeta do meio de ti, de teus irmãos, como eu; a ele ouvireis;" (Deuteronômio 18:15)
No entanto, durante a Velha Aliança, não houve mais outros profetas a quem Deus falasse "face a face", assim como Moisés:
"E nunca mais se levantou em Israel profeta algum como Moisés, a quem o Senhor conhecera face a face;" (Deuteronômio 34:10)
Somente Jesus, o próprio Filho de Deus, cumpriu esta profecia ao vir ao mundo. Este sendo a própria imagem de Deus, não somente falava com Deus face a face, como era o próprio Deus em forma humana. Jesus era a própria face de Deus!

A partir da Lei, os profetas falavam sobre um futuro de transformação interior do homem, e também exterior, falando sobre a restauração do Reino. Embora, os profetas não compreendessem bem como isto ocorreria, falavam sob a inspiração do Senhor:

Clamavam, pelo Espírito, por um novo coração purificado e reto (íntegro), ou seja, pediam um novo nascimento:
"Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto." (Salmos 51:10)
Deus falava da restauração do Reino de Israel, no entanto, o Senhor falava do Reino de Deus e não apenas do reino terreno:
"Porque o Senhor restaurará a excelência de Jacó como a excelência de Israel; porque os saqueadores os despojaram, e destruíram os seus sarmentos." Naum 2:2
A Lei também deu todos os detalhes sobre o Salvador, detalhes que impressionam pela precisão:

  • Seria descendente da tribo de Judá: Gênesis 49:10
  • Nasceria de uma virgem: Isaías 7:14
  • Nasceria em Belém: Miqueias 5:1
  • Haveria matança de crianças: Jeremias 31:15
  • Fugiria e voltaria do Egito: Oseias 11:1
  • Traído pelo seu amigo: Salmo 40:10
  • Vendido por 30 moedas de prata: Zacarias 11:12
  • O Salmo 22 traz diversos detalhes precisos da crucificação
  • Etc.

Conclusão


Apesar da Lei não ter trazido a solução definitiva para o pecado, ela foi uma aliança preparatória antes da vinda da cura. No entanto, veremos, ainda, que apesar da dureza da Lei, o Senhor começou a se revelar como um Deus de amor, atencioso para com os mais fracos e Deus que ama a misericórdia e o juízo.

Que a paz do Senhor seja com o teu espírito. Amém.

terça-feira, 26 de setembro de 2017

Onde Está o Teu Coração?


Antigamente eu achava que nós não tínhamos nenhum controle sobre o nosso coração e, portanto, teríamos que segui-lo ou contê-lo dependendo do que ele (o coração) estivesse querendo fazer. No entanto, após muitos anos meditando na Palavra de Deus, e especificamente após receber um ensino de Andrew Wommack chamado "How to Prepare Your Heart" (Como Preparar o Seu Coração), eu aprendi que o coração não é assim tão aleatório. É possível nós controlarmos nosso coração. Vamos aprender um pouco sobre isso.

Enganoso é o Coração...

Antes de prosseguir, quero comentar rapidamente sobre o versículo abaixo:
"Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?" (Jeremias 17:9)
Sem a presença de Deus dentro de si, o homem se tornou maligno, e o seu coração se tornou obscuro, e perverso. Para resolver este problema, Deus enviou seu Filho Jesus que morreu na cruz em nosso lugar e permitiu o milagre do "novo nascimento" falado por Jesus em João 3:3.

Agora, se você é cristão "nascido de novo" pela fé em Jesus Cristo, você desfruta de um novo coração!
"E dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne." (Ezequiel 36:26)
Desta forma, com este novo coração, podemos, de forma gradativa, nos tornar mais e mais semelhantes a Cristo, voltando a ser imagens de Deus na terra.

Pois bem, como fazer para conduzirmos nosso coração por este novo caminho de vida junto a Deus? Vamos responder a esta pergunta hoje!

Onde está o nosso tesouro?

Vamos ver o que o nosso Mestre Jesus nos ensina sobre esta coisa de tesouro:
"Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam;
Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam.
Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração."
(Mateus 6:19-21)
Será que Jesus não quer que a gente tenha nada de valor neste mundo? Creio que não, pois Ele mesmo falou que se pedíssimos bens ao Pai, Ele nos daria (Mateus 7:11). Mas o que o Senhor está ensinado aqui é sobre como colocar nosso coração nas coisas certas.

Todos temos muitos desejos, pois somos bombardeados, desde criança, com toda sorte de produtos e ideias sobre o que comprar, o que ser quando crescer, etc. Assim, tendo em vista que recebemos todo tipo de semente (informações), nosso coração irá produzir todo tipo de desejo.

No entanto, não são os desejos que surgem em nosso coração que determinam o que é mais valioso para nós. O que determina o que realmente tem valor para nós é o quanto de esforço, tempo e dinheiro nós investimos naquilo!

Vou te dar alguns exemplos:

Vamos imaginar um menino que gosta muito de brincar com carros. Quando este menino cresce e vira um homem, ele não tem muita condição financeira, então, só possui um único carro. Mas Deus o faz prosperar e ele começa a investir este dinheiro, bem como tempo, em adquirir carros antigos e alimentar este "sonho de infância".

Bem, o coração deste homem começará a dar muito valor aos seus carros. Este será o seu tesouro! O seu coração estará nesses carros, ele os amará e sofrerá muito caso perca o seu "tesouro".

Agora, digamos que outra pessoa valorize muito os estudos, ela se dedica horas por dia para crescer na área acadêmica, boa parte do seu tempo é dedicado a isto, ela praticamente não tem muito tempo disponível para outras coisas. Advinhe o que será o seu tesouro?

Desta forma, tudo aquilo em que nós investimos tempo, esforço e, principalmente, dinheiro será o nosso tesouro, pois nosso coração será colocado em tais coisas.

Podemos Mudar o Nosso Coração?

De acordo com Jesus, a resposta é sim! Podemos mudar o foco do nosso coração. Para isso, basta dedicarmos tempo, esforço e dinheiro nas coisas corretas. Veja que Jesus orienta que:
"Não ajunteis tesouros na terra...Mas ajuntai tesouros no céu..." (Mateus 6:19-20)
Veja que depende de nossa atitude, nosso investimento. Você precisa parar de dedicar seu tempo/esforço/finanças às coisas mudanas. Ao mesmo tempo, investir tempo/esforço/finanças nas coisas do Reino de Deus. Seu coração irá seguir isso!

Medite um pouco sobre onde você gasta a maior parte da sua renda? Em quê você dedica mais tempo? No quê você dá o seu melhor? Nas coisas do mundo ou nas coisas do Reino de Deus?

Não se conforme com este mundo, pois tem valores totalmente invertidos dos valores de Deus. Jesus tem uma promessa maravilhosa para nós:
"Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas." (Mateus 6:33)
Nosso Pai Celestial nos promete que, se O pusermos como prioridade em nossas vidas, Ele mesmo se responsabilizará por cuidar de nossas necessidades materiais.

No entanto, esta prioridade não pode ser apenas "de boca", mas em atitudes e em sinceridade.

Que a graça do nosso Senhor Jesus Cristo seja com você. Amém.

Pr. Wendell Costa

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Propósitos da Oração 2 - O Muito Falar


Talvez uma das áreas onde mais encontremos distorções no que diz respeito à vida cristã é exatamente na área de oração. Oração é algo muito bom, mas nem toda oração é agradável a Deus. Jesus falou algo muito importante sobre o real propósito de se orar...
"E, quando orardes, não sejais como os hipócritas; pois GOSTAM DE ORAR..." (Mateus 6:5)
Se interrompermos o versículo aqui, notaremos que o que Jesus falou contradiz o que muitos cristãos pensam sobre oração, pois Jesus afirma que os hipócritas "gostam de orar"!

Nossa ideia é que, se alguém ora muito, significa que ela é uma pessoa espiritual, porém, não é bem assim. Se observarmos as religiões que existem no mundo, acredito que praticamente todas possuem alguma forma de oração. Inclusive, há religiões que são bem mais rígidas no que diz respeito a orações, como, por exemplo, o islamismo.

No entanto, nós que conhecemos a Jesus Cristo, sabemos que Deus não ouve tais orações, pois o Pai estabeleceu um Caminho para Ele mesmo: Seu Filho Jesus. Se continuarmos a ler o versículo que citei anteriormente, veremos que os hipócritas religiosos gostavam de orar, porém com a motivação errada:
"...pois gostam de orar em pé nas sinagogas, e às esquinas das ruas, PARA SEREM VISTOS PELOS HOMENS." (Mateus 6:5)
E esta é a única recompensa que recebem, ou seja: ser visto pelos homens (mas não por Deus)!

A MOTIVAÇÃO CORRETA DA ORAÇÃO


Como vimos na parte 1 deste estudo, a nossa motivação deve ser desenvolver um relacionamento pessoal com o Pai, pois para isso mesmo foi que Jesus veio ao mundo, para "trazer muitos filhos à glória" (Hb 2:10). Assim, Jesus nos orienta a fazer de nossas orações um momento íntimo com nosso Pai:
"Mas tu, quando orares, entra no teu quarto e, fechando a porta, ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará." (Mt 6:6)
Muitos religiosos vêem na oração algo do qual eles podem se exaltar sobre os outros, ou seja, chamam atenção para si mesmos para quererem se mostrar como pessoas mais espirituais:
"O fariseu, de pé, assim orava consigo mesmo: ó Deus, graças te dou que não sou como os demais homens, roubadores, injustos, adúlteros, nem ainda com este publicano." (Lc 18:11)
Soa até engraçado, para não dizer trágico, ouvir certas pessoas orando, pois alteram a voz e passam a usar um vocabulário estilo "bíblico", com palavras antigas e difícies, palavras que elas nem usariam em uma conversa, digamos, "normal". Eu sei do que estou falando, pois já fiz isso também!

Nossa oração irá refletir nosso relacionamento com Deus. Se Deus for alguém "distante", nossas palavras soarão artificiais; se for um relacionamento "pai e filho", elas vão demonstrar intimidade, respeito e amor.

O Pai não precisa que você fale com "palavras bonitas", usando um português antigo, ou que você altere sua voz para parecer mais bela. Não, Ele deseja que você abra seu coração, que busque conhecê-lo e servi-lo por amor (o amor virá quando você O conhecer verdadeiramente). O Pai deseja um relacionamento "Pai-filho" com você!

O MUITO FALAR


Um mito muito sério que foi introduzido na igreja é que para que Deus nos escute é necessário "orar muito" sobre alguma coisa.

Eu já cansei de ouvir esta frase de pessoas que vêm me pedir oração, e dizem que estão passando por um problema muito sério, e é necessário "orar muito", e insistem comigo para que eu "ore muito" por elas.

Sinceramente, eu tenho muitos motivos para orar, e se eu realmente fosse "orar muito" por cada pessoa que me pede isso, teria que parar de trabalhar, pastorear, não teria mais tempo pra minha família, etc.

Este princípio de que precisamos "falar muito" para sermos ouvidos por Deus é um princípio "pagão" e não cristão. Antes de mais nada, Jesus disse que os gentios é que:
"...pensam que pelo seu muito falar serão ouvidos." (Mateus 6:7)
E logo depois, Jesus fala "Não sejam iguais a eles!" (Mt 6:8). Os "gentios" (ou "pagãos") são exatamente aqueles que não têm aliança nem relacionamento com o Pai, e portanto, não compreendem a Deus, nem sabem orar da forma correta.

Tenho certeza que por maiores problemas que você possa ter, nenhum se compara à morte. E imagine estar morto por 4 dias! Este era o problema que Lázaro, amigo de Jesus, estava passando (João 11). Jesus orou por Lázaro, pra o tirar desse "problema". Vejamos a oração que Ele fez:
"Pai, graças te dou, porque me ouviste." (João 11:41)
Depois disso, Jesus dá uma ordem a Lázaro (Jesus aqui não faz uma oração ao Pai).

Em muitos outros momentos, vemos Jesus fazer orações bem curtas e prontamente ser ouvido. Em diversos outros, Jesus simplesmente dava uma ordem e a doença era curada, ou a necessidade suprida.

Essas mesmas pessoas que me pedem que "ore muito" por elas, em geral, têm muita dificuldade em receber alguma coisa de Deus. Vamos tratar disso ao longo desses estudos, mas por ora, ficamos com esta grande verdade: Deus não precisa que você fale muito, pois Ele sabe o que você precisa antes mesmo de você falar.
"E quando orarem, não fiquem sempre repetindo a mesma coisa, como fazem os pagãos. Eles pensam que por muito falarem serão ouvidos. Não sejam iguais a eles, porque o seu Pai sabe do que vocês precisam, antes mesmo de o pedirem." (Mateus 6:7,8)

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Oração não é tentar convencer a Deus a te abençoar, mas sim ter comunhão com teu Pai Celestial, que te ama e tem todo o prazer em te ver bem.
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RESUMINDO


  • Os hipócritas e religiosos também oram, e gostam de orar.
  • Há uma motivação correta para se orar, e é ter comunhão com o Pai e com Seu Filho Jesus.
  • Orar muito para "forçar" Deus a atender os seus pedidos não é um princípio bíblico.


VÍDEO

Veja um vídeo que cobre este assunto:

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Propósitos da Oração 1 - Comunhão


Nesta nova série de estudos, pretendo ensinar sobre os propósitos da oração de acordo com as Escrituras, usando também minha própria experiência, além do que tenho recebido através de outros filhos de Deus ao longo desses anos servindo ao Senhor.

Sei que o que vou ministrar não é toda a verdade sobre o assunto, mas oro para que o Pai use esses ensinamentos pra que você possa ser edificado um pouco mais nesta área da oração.

Além de ministrar sobre os propósitos da oração propriamente ditos, importa também desfazer muitas das coisas que vem sendo ensinadas na igreja sobre oração mas que não são verdadeiras. Ao longo dos anos, tenho ouvido e lido muitas distorções que têm sido ensinadas como sendo coisas muito espirituais, sendo que, na verdade, não passam de religiosidade, condenção e até mesmo sincretismo religioso que penetrou na igreja devido à falta de conhecimento das Escrituras e do poder de Deus…
“...Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus.” (Mateus 22:29)
Continue comigo e cresça em comunhão com o seu Pai Celestial!

COMUNHÃO COM O PAI: NOSSO GRANDE ALVO

Você já imaginou como eram as “orações” de Adão antes do pecado? Já que não haviam doenças, necessidades, tentações, etc. não havia muito o que pedir a Deus, exceto, talvez, conhecimento e sabedoria. No entanto, a Bíblia mostra que o Senhor passeava pelo Jardim do Éden todos os dias e tinha comunhão com o homem. Como seria esta comunhão? Sobre o quê conversavam?

Em Gênesis 2:19, a Escritura mostra que o Senhor trouxe a Adão todos os animais do campo e as aves para que este lhes desse nomes. Acredito que isso levou bastante tempo, e, enquanto Adão nomeava os bichos, ele conversava com seu Pai.

Antes de pensarmos em oração como um momento em que eu vou “descarregar” sobre Deus todos os meus pedidos, eu devo entender que Ele deseja de mim simplesmente um relacionamento Pai e filho.
"Vocês, orem assim: Pai nosso..." (Mateus 6:9)
Jesus, ao longo do capítulo 6 de Mateus, por diversas vezes, enfatiza que Deus é nosso “Pai”, e chama atenção para que nosso relacionamento com Ele seja um entre “pai e filho”.

No início da minha fé, eu tive muita dificuldade em enxergar Deus como um “pai”, pois não tive um relacionamento muito íntimo com meu pai físico. Além disso, como meus pais se divorciaram quando eu era adolescente, e ele foi morar com sua segunda esposa em uma outra cidade, fiquei sem um referencial de um bom pai presente.

Inclusive, é fácil observar como o diabo tem lutado para tirar os homens de dentro de suas casas, destruindo a família, e provocando tantos males na sociedade. Sem um referencial de pai, os homens facilmente são levados pela irresponsabilidade, criminalidade, drogas, falta de compromisso com a família, etc. Isso ocorre exatamente porque os filhos perdem a imagem de um verdadeiro pai.

O próprio Jesus chamava Deus Pai como “aba” (Marcos 14:36), que significa “pai”, porém, se fôssemos traduzir o verdadeiro sentido desta palavra para os dias de hoje, a melhor tradução seria: “papai” ou, como meus filhos me chamam: “painho”.

Não é uma coincidência que Jesus nos trouxe a revelação de que Deus é um “pai”. Aliás, poucas vezes, Jesus chamou Deus de “Deus”, pois, em geral, Jesus O chamava de “Pai”. Esta é a melhor palavra para descrevê-lo, pois Ele é o Criador de todas as coisas, e portanto, é o nosso Pai verdadeiramente.

CRISTO NOS RESTAURA À POSIÇÃO PERDIDA DE FILHOS

O verdadeiro caráter de Deus não foi revelado pela Lei de Moisés ou pelo Velho Testamento, pois “a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo” (João 1:17). Desta forma, olhando para a Velha Aliança, temos apenas uma “sombra” da realidade. Mas Cristo nos traz a real imagem das coisas (Hebreus 10:1), e nos permite conhecer ao Pai de forma íntima.
"E, porque sois filhos, Deus enviou aos vossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai." (Gálatas 4:6)
Ao crermos no Senhor Jesus Cristo, somos reintegrados ao Reino de Deus, o qual Adão perdeu pelo seu pecado, e o Pai nos recebe de braços abertos, sem nos condenar, para um relacionamento conosco. Não há nada mais maravilhoso que conhecer o Pai e o Filho, e, de fato, isto é a vida eterna:
"E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste." (João 17:3)
No conhecido versículo de João 3:16, vemos que o grande propósito que trouxe Jesus para morrer por nós não foi apenas perdoar os nossos pecados...
"Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna." (João 3:16)
Se você ler direitinho, verá que o perdão dos pecados não é o objetivo final, mas sim nos dar a “vida eterna”. Somos livrados da morte para que tenhamos “a vida eterna”. E, como vimos no versículo anterior, a vida eterna é conhecer verdadeiramente o Pai e Jesus Cristo.

À medida em que conhecemos ao nosso Pai, somos transformados por Sua luz, pois esta luz ilumina nosso entendimento e podemos vê-lo como Ele realmente é. À medida em que O conhecemos, nossas orações vão sendo transformadas em momentos prazerosos com nosso o Papai.

EM RESUMO

  • O grande propósito da oração não é apenas “pedir, pedir”, mas sim ter comunhão com nosso Pai Celestial.
  • Jesus nos permite voltar a ser filhos de Deus, abrindo, assim, a porta para um relacionamento entre o Pai e Seus filhos.
  • A vida eterna é conhecer ao Pai e a Seu Filho Jesus Cristo e desfrutar de um relacionamento com Eles.

VÍDEO

Veja um vídeo com este mesmo assunto em nosso canal no YouTube:




Que a paz de Jesus Cristo seja com a sua vida. Amém.

Pr. Wendell Costa

Não estejam inquietos por coisa alguma

Imagem 1: a ansiedade tem atingido boa parte da população. Viver uma vida sem preocupações e inquietações é praticamente uma utopia nos dias...