quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

Não estejam inquietos por coisa alguma

Imagem 1: a ansiedade tem atingido boa parte da população.

Viver uma vida sem preocupações e inquietações é praticamente uma utopia nos dias de hoje. A não ser que você seja um eremita e viva nas montanhas isoladamente, o mundo que nos cerca nos dá muitas razões para nos preocuparmos, principalmente se nós estivermos muito mergulhados na mídia secular, nos enchendo das más notícias que são despejadas sobre nós diariamente.

No entanto, da mesma maneira que Deus, através do livro de Filipenses, nos orienta a vivermos uma vida de alegria, também traz a impressionante e maravilhosa opção de vivermos uma vida sem preocupações. Não é uma coisa que se consegue automaticamente, mas podemos pôr isso como um alvo para nós.

A passagem bíblica que estudaremos nesta postagem nos orienta sobre o que precisa ser feito, a fim de que não vivamos cheios de inquietações ou preocupações. Vejamos:

“Não estejais inquietos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças.

E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus.” (Filipenses 4:6,7)


O Mal do Século

A preocupação e a ansiedade já fazem parte da vida humana desde que o pecado entrou no mundo. O livro de Gênesis, em seu capítulo 3, descreve o que chamamos de “queda do homem”. Esse trecho das Escrituras revela o que aconteceu após o pecado do primeiro casal, ou seja, quais as consequências dessa desobediência: a serpente passaria a ferir o calcanhar do homem, houve a multiplicação das dores e a dominação do marido sobre a esposa, a terra se tornou maldita e, com dor, o homem obtém dela o seu sustento. Por fim, entra a morte.

Todas essas coisas têm o potencial de trazer muitas preocupações e ansiedade para nós. Mais recentemente, a história fala sobre o “mal do século”. Vejamos uma definição disso, obtida da Wikipédia:

“Mal do século é uma expressão, original de Chateaubriand (em francês: mal du siècle), utilizada como um tópico literário para se referir à crise de crenças e valores desencadeada na Europa no século XIX, comumente no contexto do romantismo. Trata-se de um sentimento de decadência, tédio, desilusão e melancolia, da inutilidade e futilidade da existência, que afetou profundamente os jovens e permeou a literatura da época.” (Wikipédia: verbete “Mal do Século”)

Imagem 2: o mal do século

Tendo em vista que a humanidade ocidental começou a caminhar para a “remoção de Deus” das artes e da ciência, um sentimento de falta de razão para viver começou a tomar corpo, permeando o sentimento de muitos, isso antes da chegada do século XX. A famosa expressão do filósofo prussiano Nietzsche – “Deus está morto” – retrata bem as ideias que começaram a dominar a filosofia.

Mas Deus, através do livro de Filipenses, nos orienta ao correto sentido da vida, que é viver para Cristo, não nos prendendo às coisas deste mundo material caído. Um sentimento de “missão a ser desempenhada” deve nos motivar, de maneira que as tribulações e perseguições que chegam até nós sejam encaradas como obstáculos a serem vencidos e como situações temporárias frente à eternidade que está diante de nós.

Deus nos entrega um propósito, para vivermos por ele, e assim, tendo um sentido para as nossas vidas, já temos o primeiro passo para não vivermos inquietos e preocupados com as coisas deste mundo, pois…

“Tu pois, sofre as aflições, como bom soldado de Jesus Cristo.

Ninguém que milita se embaraça com negócios desta vida, a fim de agradar àquele que o alistou para a guerra.” (2 Timóteo 2:3,4)

Um soldado que está no meio de uma guerra precisa estar concentrado apenas em cumprir sua missão, pois está ali para matar ou morrer, e não deve se preocupar com os problemas da vida civil, caso contrário, não desempenhará bem sua função e as chances de morrer rápido aumentam.


Oração contínua

Bem, tendo estabelecido esse primeiro princípio, passemos a estudar a questão da oração.

Podemos resumir o conceito de oração como sendo, simplesmente, conversar com Deus. No entanto, o trecho de Filipenses que estamos estudando trata especificamente sobre aquela oração de petição, ou seja, quando vamos pedir coisas ao Senhor.

Nesta postagem, não pretendo fazer um estudo exaustivo sobre oração, pois poderia tomar muito tempo e não é o alvo do nosso estudo de Filipenses aprofundar uma única temática. Mas vamos meditar acerca do efeito da oração em nossos corações.

O primeiro ponto, algo importante sobre oração, é que ela deve ser feita de acordo com a vontade de Deus, assim como está escrito na Primeira Epístola do apóstolo João:

“E esta é a confiança que temos nele, que, se pedirmos alguma coisa, segundo a sua vontade, ele nos ouve.” (1 João 5:14)

Ora, praticamente todas as religiões praticam algum tipo de oração, mas sabemos que Deus não responde a maioria dessas preces. Isso quer dizer que não é a oração de si mesma que tem resposta do Senhor, mas apenas aquela oração que fazemos voltada ao Deus verdadeiro, Pai do nosso Senhor Jesus Cristo, e que é feita de acordo com a vontade d’Ele.

Assim sendo, é fundamental que o cristão conheça a vontade de Deus, através das Escrituras, e desenvolva um relacionamento pessoal com Deus, pois o Pai não é uma mera energia impessoal. Deus é uma pessoa e precisa ser tratado como tal. Qualquer pessoa tem vontades específicas e ficará feliz em poder atender aos outros, quando estes pedem alguma coisa que seja do seu agrado. Assim também, Deus fica feliz em atender nossas orações, quando as fazemos segundo aquilo que Ele mesmo quer operar no mundo.

Outro ponto muito importante acerca da oração é que ela não funciona como “mágica”.

Acredito que você já tenha assistido a shows de mágica e sabe que basta dizer algumas palavras específicas ou balançar a varinha de condão e a mágica acontece diante dos nossos olhos, de forma instantânea. Mas não é assim com a oração.

Por mais paradoxal que seja, muitas pessoas do povo de Deus têm a ideia de que, se Deus quer uma coisa, aquilo vai acontecer de forma instantânea. Ou ainda, se a pessoa tem uma grande fé, a sua oração será respondida de imediato.

Porém, Deus não é um tirano ditador, que age de forma aleatória e arbitrária, Deus opera através das Suas leis, dentre elas, a principal com relação às respostas às orações, eu diria que é a Lei da Semeadura. Por isso, é super importante entendermos que, quando estamos orando, estamos como que “lançando sementes” no mundo espiritual, as quais darão seu fruto após um determinado tempo de desenvolvimento.

Falei que era paradoxal (aparenta uma contradição) porque isso é tão importante, mas o povo que deveria conhecer o seu Deus, em geral, não faz ideia de que as coisas funcionam assim, por isso se frustram com a oração e o jejum, por não verem resultados rápidos, como em uma mágica.

Compreender a Lei da Semeadura é de fundamental importância, para que possamos colher as respostas das nossas orações.

“...porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará.” (Gálatas 6:7)

Se alguma vez você já plantou, sabe que não se semeia uma árvore hoje para colher frutos amanhã. Isso é um processo que geralmente leva meses ou mesmo anos. A nossa geração tem a sensação de que tudo acontece de forma rápida, porque vamos ao supermercado e as frutas e verduras estão lá prontas para serem “colhidas”. No entanto, sabemos que aquelas frutas e verduras não surgiram instantaneamente no supermercado, houve todo um processo de plantio, colheita e transporte, de forma a ficarem prontas para serem compradas e consumidas.

Portanto é necessário perseverança em oração, a fim de que colhamos os frutos. Mesmo que a nossa oração esteja sendo feita de acordo com a vontade de Deus, será necessário esperar o processo de semeadura e colheita das nossas orações.


Não deixe a inquietação se enraizar

Assim como a oração necessita de perseverança, pois a colheita geralmente demora a ser vista, também precisamos vigiar para não permitirmos que a ansiedade e as preocupações se enraízem em nosso coração e comecem a produzir frutos. Esta é a razão pela qual Deus nos orienta a “não estarmos inquietos por coisa alguma”, ou seja, não vivermos inquietos, preocupados, de forma constante.

Desenvolva o hábito de orar continuamente, todos os dias, e sempre levar ao Senhor tudo aquilo que está a lhe inquietar. Outra coisa que eu sempre oriento é jejuar, sempre que for necessário, pois o jejum funciona como uma espécie de “catalisador” para as nossas orações.

O jejum, por si só, já é um sacrifício aceitável diante de Deus, sendo que, combinado com a oração, se torna uma ferramenta poderosa para mortificar a carne e nos deixar sensíveis para recebermos de Deus sabedoria e força.

Portanto, não permita que a ansiedade e a preocupação permaneçam muito tempo dentro do seu coração, ocupando seus pensamentos e emoções, pois isso vai fazer com que tais coisas sem enraízem e comecem a se estabelecer, provocando alterações psíquicas e físicas, que vão levar você a se tornar uma pessoa ansiosa, inclusive gerando doenças.

Como fala o dito popular: corte o mal pela raiz!


As emoções estão envolvidas na oração

“…antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica…” (Filipenses 4:6)

Em nossa rotina diária de oração, podemos passar a maior parte do tempo simplesmente conversando com o nosso Pai Celestial, afinal, um relacionamento tem tudo a ver com o compartilhar a vida, e isso de forma amena e prazerosa. Mas, quando estamos inquietos e preocupados, é necessário despejar o nosso coração diante de Deus, e isso precisa ser feito com “súplicas”.

A oração, muitas vezes, precisa ser usada como uma arma de combate, assim como o próprio apóstolo Paulo a referencia. Veja como ele trata a oração em algumas passagens do livro de Colossenses:

“Porque quero que saibais quão grande combate tenho por vós, e pelos que estão em Laodicéia, e por quantos não viram o meu rosto em carne; para que os seus corações sejam consolados…” (Colossenses 2:1,2)

“Saúda-vos Epafras, que é dos vossos, servo de Cristo, combatendo sempre por vós em orações, para que vos conserveis firmes, perfeitos e consumados em toda a vontade de Deus.” (Colossenses 4:12)

É praticamente impossível você entrar em luta corporal e não estar emocionalmente envolvido nisso.

Quando eu era adolescente treinava karatê. Os exercícios preparatórios eram bem puxados, mas eu gostava muito de praticar o “katá”, que são aqueles movimentos demonstrando as técnicas e golpes. O katá é feito sozinho ou em grupo, mas não envolve luta, apenas essas demonstrações de técnica.

O bicho pegava mesmo quando chegava a hora do “kumitê” (luta)... O sangue fervia e as emoções iam às nuvens, principalmente quando o sensei (o professor) nos colocava para lutar contra os mais graduados: você sabia que iria apanhar.

Pois bem, precisamos entender que, em muitos momentos, nossas orações serão “arma de guerra” e precisamos colocar todo o nosso coração nelas. Isso implica em que nossas vozes poderão se levantar, podemos chorar, e até mesmo nos irritar contra Satanás e suas obras, tudo isso durante a oração.

Derramar nosso coração em oração é necessário, para que a paz prometida encha nosso interior.

Imagem 3: súplica

Ações de graças

O último ponto acerca da oração refere-se às ações de graças, que simplesmente significa agradecer a Deus.

Quando agradecemos a Deus por alguma coisa, estamos alimentando a nossa fé naquele sentido específico, ou seja, quando oramos por alguma coisa e permanecemos dando graças pela resposta, mantemos a nossa fé ativa sobre aquilo que oramos.

Isso é fundamental para que nosso coração permaneça crendo que vamos receber aquilo que pedimos. Se não mantivermos as ações de graças, fatalmente vamos duvidar, e quando duvidamos, o poder de Deus para de operar.

“Perseverai em oração, velando nela com ação de graças;” (Colossenses 4:2)

A palavra aqui traduzida por “velando” (γρηγορεύω - gregoreúo) significa “vigiar”, e é a mesma palavra usada no verso de Mateus 24:43:

“Mas considerai isto: se o pai de família soubesse a que vigília da noite havia de vir o ladrão, vigiaria e não deixaria que fosse arrombada a sua casa.”

Portanto, é necessário haver uma “vigilância” no que diz respeito às ações de graças, a fim de que a nossa fé permaneça viva e intensa naquilo pelo qual estamos orando ao Senhor.


A paz que guarda o nosso coração

Por fim, a maravilhosa promessa que Deus nos faz é que, quando obedecemos ao mandamento anterior acerca da oração, uma paz sobrenatural vai guardar o nosso coração e os nossos pensamentos.

O sentido original da palavra “guardar” deve ser estudado. Vejamos a definição dela no dicionário de grego de Thayer:

φρουρέω (froureo) - Guardar, proteger com uma guarda militar, seja para evitar invasão hostil ou para manter os habitantes de uma cidade cercada de fugirem

Achei interessante essa definição da palavra grega usada neste versículo, pois mostra que essa paz que vem de Deus protegerá o nosso coração contra a invasão de maus pensamentos ou emoções negativas. Observando que nossos corações e nossos pensamentos serão protegidos “em Cristo”.

Isso significa que essa paz não depende de circunstâncias deste mundo físico, mas é uma paz que vem do mundo espiritual, uma paz que é pertinente ao Reino de Deus, uma paz sobrenatural.

Portanto, ainda que estejamos passando por situações adversas neste mundo, tais como perseguições, tribulações, críticas, decepções, etc. ainda assim, podemos andar em paz, sendo guardados em Cristo Jesus por uma paz que vai além deste mundo físico, que vai além das nossas ideias, dos nossos pensamentos, das nossas emoções.

Que esta paz guarde seu coração, em Nome de Jesus!


Pr. Wendell Costa



APÊNDICE

Texto sobre ansiedade, do Ministério da Saúde Brasileiro

A ansiedade estimula o indivíduo a entrar em ação, porém, em excesso, faz exatamente o contrário, impedindo reações.

Os transtornos de ansiedade são doenças relacionadas ao funcionamento do corpo e às experiências de vida. Pode-se sentir ansioso a maior parte do tempo sem nenhuma razão aparente; pode-se ter ansiedade às vezes, mas tão intensamente que a pessoa se sentirá imobilizada. A sensação de ansiedade pode ser tão desconfortável que, para evitá-la, as pessoas deixam de fazer coisas simples (como usar o elevador), por causa do desconforto que sentem.

Os transtornos da ansiedade têm sintomas muito mais intensos do que aquela ansiedade normal do dia a dia. Eles aparecem como:

– preocupações, tensões ou medos exagerados (a pessoa não consegue relaxar);

– sensação contínua de que um desastre ou algo muito ruim vai acontecer;

– preocupações exageradas com saúde, dinheiro, família ou trabalho;

– medo extremo de algum objeto ou situação em particular;

– medo exagerado de ser humilhado publicamente;

– falta de controle sobre os pensamentos, imagens ou atitudes, que se repetem independentemente da vontade;

– pavor depois de uma situação muito difícil.

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(Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde, tópico: Ansiedade. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/ansiedade)



Índice de imagens

[1] Imagem por Pete Linforth de Pixabay
[2] Imagem por Darwin Laganzon de Pixabay
[3] Imagem por Alemdar Alemdar de Pixabay

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Não estejam inquietos por coisa alguma

Imagem 1: a ansiedade tem atingido boa parte da população. Viver uma vida sem preocupações e inquietações é praticamente uma utopia nos dias...