quinta-feira, 4 de agosto de 2022

O mesmo amor, o mesmo ânimo, sentindo uma mesma coisa

Um dos maiores desafios da Igreja do Senhor é alcançar unidade na fé. Esta unidade é essencial para que o povo de Deus seja bem sucedido no propósito de representar Cristo na Terra, da forma correta, pois Jesus falou que as pessoas reconheceriam Seus discípulos apenas quando estes se amassem uns aos outros. Veja só:

Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros. (João 13:35)

Se não andarmos em amor – a Deus e aos irmãos –, não teremos a motivação correta para vivermos em unidade, pois, para tal, é necessário abrir mão de algumas de nossas vontades, a fim de andarmos em unidade de fé.

Além disso, a bênção de Deus só é derramada quando há união entre o Seu povo. Por exemplo, o Salmo 133 diz que é “bom e agradável” (diante de Deus) que os irmãos convivam em “união”. Esta mesma palavra foi traduzida como unidade na Bíblia do Rei Tiago (King James), neste mesmo versículo.

Isso nos ensina que viver em unidade não é algo opcional, mas fundamental para a Igreja atingir seus propósitos. De fato, quando há divisões e contendas entre os irmãos, o nosso inimigo, o diabo, encontrará lugar para promover todo tipo de obra maligna.


Portar-se dignamente do evangelho

Há alguns anos, uma colega de trabalho visitou, com o seu marido, a Tchecoslováquia. Já tarde da noite, quando voltavam de um restaurante rumo ao hotel onde estavam hospedados, eles resolveram atravessar a rua, na faixa de pedestres, quando o sinal estava vermelho para eles (e verde para os carros). Eles julgaram que não haveria problemas, porque não havia trânsito de carros naquele exato momento. Se estivessem no Brasil, isso não teria dado problema algum, mas não estavam... 

Pouco tempo após terem cruzado a faixa de pedestres, um carro da polícia local os alcançou e os policiais os abordaram. Isso os deixou aterrorizados, pois os policiais rapidamente saíram da viatura e questionaram, em tcheco, porque eles haviam cruzado a faixa, estando o sinal vermelho para pedestres.

Bastante assustados, eles tentaram responder, em inglês, pois não falavam tcheco, explicando que eram estrangeiros e não sabiam que deveriam ter aguardado o sinal ficar verde para os pedestres, mesmo quando não havia tráfego de veículos. Por muito pouco, escaparam de ser presos. Mostraram os passaportes e vistos e, após terem sido repreendidos pelos policiais, foram liberados.

Quando se está em outro país, é necessário andar de forma “digna”, ou seja, de acordo com as leis e cultura daquele país. Se você estiver no exterior e tentar agir como se estivesse no Brasil, poderá ter problemas bem sérios.

Pois bem, quando aceitamos Cristo como nosso Senhor, nós passamos a fazer parte de um outro país, mais especificamente, de um reino: o Reino de Deus. Este Reino, assim como qualquer país do mundo, possui leis e cultura característicos. Vejamos o que o apóstolo Paulo orienta com relação a isso:

Somente deveis portar-vos dignamente conforme o evangelho de Cristo, para que, quer vá e vos veja, quer esteja ausente, ouça acerca de vós que estais num mesmo espírito, combatendo juntamente com o mesmo ânimo pela fé do evangelho. (Filipenses 1:27)

O termo aqui traduzido por "portar-se", originalmente, é o verbo grego πολιτεύομαι (politeúomai), que vem da palavra πολίτης (polítes), que quer dizer "cidadão". As duas palavras têm origem na palavra grega πόλις (pólis), que quer dizer "cidade".

Literalmente, então, este verbo "portar-se" quer dizer "ser/agir como um cidadão". Portanto, as Escrituras estão nos ensinando como devemos agir dignamente enquanto cidadãos do Reino de Deus. Assim como ocorreu com aquela minha colega de trabalho, que, estando em outro país, agiu como se estivesse no Brasil, e sofreu consequências, assim também o povo de Deus sofre muito, por não agirem de forma digna da cidadania que receberam no Reino.


Unidade: cultura do Reino

A cultura da unidade é característica do Reino de Deus e, portanto, precisamos aprender a viver em unidade. Não podemos esperar que o Céu se adapte a nós, mas nós é que precisamos nos adequar ao Reino, de forma a nos portarmos (como cidadãos) de forma digna.

Continuando a nossa meditação no verso citado anteriormente – Filipenses 1:27 –, nós perceberemos que precisamos estar "num mesmo espírito". Mas o que isso significa?

Para entendermos a importância da unidade, precisamos entender o que acontece quando somos salvos.

Ora, no momento da nossa conversão, ocorre uma ação sobrenatural, pois somos inseridos em Cristo, pelo Pai, através do Espírito Santo. Agora formamos uma unidade, chamada, na Bíblia, de o "Corpo de Cristo", que é a Igreja. Nos tornamos membros uns dos outros. Veja só:

Assim nós, que somos muitos, somos um só corpo em Cristo, mas individualmente somos membros uns dos outros. (Romanos 12:5)

Por isso deixai a mentira, e falai a verdade cada um com o seu próximo; porque somos membros uns dos outros. (Efésios 4:25)

Para que não haja divisão no corpo, mas antes tenham os membros igual cuidado uns dos outros. (1 Coríntios 12:25)

Pois bem, estes são apenas alguns versículos que tratam da unidade da igreja e que explicam que, sob a ótica de Deus, formamos um só corpo, ligados espiritualmente uns aos outros. Deus nos vê como uma grande família, onde Ele é o nosso Pai, e todos nós somos irmãos. Quando a família de Deus não opera em unidade está descaracterizando a sua imagem divina, recebida de Cristo.

Estar em um só espírito significa agir com base nessa realidade espiritual, onde estamos ligados, em espírito, uns com os outros, formando um único corpo.


Quebrando a unidade

Existem alguns inimigos da unidade. Sentimentos como inveja e competição são alguns dos seus destruidores. Em algumas traduções mais eruditas da Bíblia, encontramos palavras mais difíceis, tais como: emulação (incitação, competição), porfia (disputa, contenda), etc. Em todos os casos, existe um sentimento faccioso, que impulsiona o indivíduo à quebra da unidade, provocando divisão no Corpo de Cristo.

Sempre que ocorre essa quebra de unidade, abre-se a brecha para que Satanás aja dentro da igreja. Veja o que alerta Tiago em sua epístola:

Mas, se tendes amarga inveja, e sentimento faccioso em vosso coração, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade.
Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica.
Porque onde há inveja e espírito faccioso aí há perturbação e toda a obra perversa.
(Tiago 3:14-16)

Muitos cristãos não reconhecem isso, mas quando dão lugar às divisões dentro do Corpo de Cristo, estão cedendo à inspiração demoníaca. A consequência será destruidora, porque onde Satanás consegue brecha para agir, ele trará todo o tipo de perturbação e obras malignas e perversas na vida das pessoas da congregação.

Alguns até dão desculpas para a sua carnalidade, falando coisas do tipo "sou assim desde criança", "é o meu temperamento", "minha família é assim", etc. Ora, não importa qual seja a desculpa dada, pois a Palavra de Deus é a Verdade, e nada podemos contra ela. Não é papel de um filho de Deus contradizer a Palavra do Senhor, seja qual for o argumento, mas sim se submeter a ela, ainda que isso custe a sua própria vida.


Como manter a unidade

No capítulo 2, da epístola aos filipenses, Deus nos dá as orientações sobre como podemos manter a unidade da igreja. Vejamos os versos:

Portanto, se há algum conforto em Cristo, se alguma consolação de amor, se alguma comunhão no Espírito, se alguns entranháveis afetos e compaixões,
Completai o meu gozo, para que sintais o mesmo, tendo o mesmo amor, o mesmo ânimo, sentindo uma mesma coisa.
Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo.
Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros.
De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus...
(Filipenses 2:1-5)

Antes de mais nada Deus, nos mostra, através do apóstolo Paulo, que Ele se alegra quando o Seu povo está operando em unidade e vencendo as divisões, pois quando Paulo fala que a igreja “completaria o seu gozo”, ele está aqui revelando o coração de Cristo. Ou seja, alegramos o coração de Deus quando andamos em unidade.

É muito importante entender que Deus ama a unidade e trabalha arduamente para mantê-la. Veja só o que está escrito em Provérbios: 

Estas seis coisas o Senhor odeia, e a sétima a sua alma abomina:
Olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente,
O coração que maquina pensamentos perversos, pés que se apressam a correr para o mal,
A testemunha falsa que profere mentiras, e o que semeia contendas entre irmãos
(Provérbios 6:16-19)

Assim sendo, haverá um juízo sobre todo aquele que semeia discórdia entre os irmãos, ou seja, a ira divina virá sobre aqueles que promovem a quebra da unidade do corpo de Cristo, tendo em vista que é algo que Deus abomina.


Movidos por humildade 

Logo depois de falar estas coisas, o Espírito Santo nos orienta a nada a fazer movidos por contenda ou vanglória, mas por humildade.

Para sermos movidos por humildade, precisamos entender que as nossas vidas foram resgatadas de uma vã maneira de viver, com o fim de darmos louvor e glória a Deus, assim como está escrito em Filipenses 1:11. Tudo o que somos, falamos, fazemos precisa exaltar a Cristo e a Deus, caso contrário será em vão.

Imagine alguém que passa o mês trabalhando arduamente, e quando vai receber o seu salário, ao final do mês, é assaltado e tem todo o dinheiro roubado. Os sentimentos de frustração e tristeza, além da preocupação com suas contas, certamente vai encher seu coração, pois tal pessoa terá a sensação que trabalhou tanto, porém em vão.

Da mesma maneira, se sua vida não dá honra a Deus, tudo o que você faz será em vão. Assim, é fundamental ter uma atitude de humildade, principalmente no trato com as pessoas. A orientação do apóstolo é que “cada um considere os outros superiores a si mesmo”.

Quando você vai tratar com um superior hierárquico, geralmente é bem mais cuidadoso com as palavras e atitudes que terá, pois está ciente de que poderá sofrer prejuízo, caso o superior se sinta ofendido. Desta forma, devemos considerar nossos irmãos como se fossem "superiores hierárquicos", de forma a lembrarmos de tratar a todos com amor e respeito, a fim de preservar a unidade da família de Deus.


Cuidar dos outros

Um outro grande inimigo da unidade é o egoísmo (ou egocentrismo). A palavra “ego” tem origem no grego, pois significa o pronome “eu”. Egoísmo é a “atitude daquele que busca o próprio interesse, acima dos interesses dos demais”

Quando nós colocamos os nossos próprios interesses acima dos interesses dos outros, estamos agindo de forma egoísta e, fatalmente, isso se refletirá na unidade do corpo. A vida em família ou em comunidade requer uma atitude altruísta, que é o contrário da atitude egoísta. Altruísmo pode ser definido como “amor espontâneo pelo próximo” (Dicionário Michaelis). 

“Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros” mostra que nossa vida não deve ser vivida apenas para nosso próprio deleite, mas para que a coletividade também desfrute do mesmo bem que Deus tem para todos.

Lembremos que o maior mandamento da Lei não é apenas “amar a Deus sobre todas as coisas”, mas existe o segundo maior mandamento de “amar ao próximo como a si mesmo”, e que estes dois estão conectados, assim como Cristo explicou em Mateus 22:39. Inclusive, quando refletimos sobre estes dois maiores mandamentos da Lei, perceberemos que Jesus os colocou em pé de igualdade, apenas observando que o primeiro é o amor a Deus, mas que logo em seguida, viria o amor ao nosso próximo.

E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento.
E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.
Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.
(Mateus 22:37-40)

Observe que destes dois mandamentos (não apenas do primeiro) dependem TODA A LEI E OS PROFETAS. Não se consegue amar a Deus, deixando de amar ao nosso irmão. Não se consegue agradar a Deus se não atentarmos para o amor ao próximo.

Uma das características do amor é exatamente que ele “não busca os seus próprios interesses”, portanto a unidade da Igreja é baseada no amor e na busca pelos interesses dos outros. Obviamente, tudo isso precisa ser feito de acordo com a vontade santa de Deus. Não estamos falando aqui em agradar aos homens e seus desejos carnais.


Conclusão

Com o fim de mantermos a unidade na Igreja, é necessário empreendermos esforços no sentido de, humildemente, nos sujeitarmos uns aos outros em amor, considerando os outros como sendo superiores a nós mesmos, a fim de não quebrarmos a unidade. Lembre-se que você não é o centro do universo, que o mundo não gira em torno de você.

Existem coisas mais importantes do que os seus próprios desejos egoístas. Além disso, a bênção de Deus só se manifesta quando o Seu povo está em um só espírito e alma. A Igreja tem uma missão a cumprir, que é refletir a glória de Cristo, mostrando ao mundo as virtudes de Deus. Não temos condições de cumprir este importante chamado se vivermos em contendas e divisões.

Muitas vezes, é preferível calar-se e “engolir muitos sapos”, a fim de evitar ferir e magoar os irmãos. O andar em unidade requer sacrifício, mas traz grande recompensa.

Que a graça do nosso Senhor e Rei Jesus seja com a sua vida. Amém.

Pr. Wendell Costa

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