terça-feira, 21 de março de 2023

A Cidadania Celestial


Se pudesse dar um título ao livro de Filipenses, eu escolheria “aprendendo a mente de Cristo” – ou algo desse tipo –, pois na medida em que venho estudando este livro, percebo Deus revelando o coração do Seu Filho: Suas vontades e sentimentos para nós, o seu povo.

O final do capítulo 3 adiciona a essa “transferência de mentalidade”, chamando a nossa atenção para uma questão de suma importância: a cidadania. Isso compreende nossas ideias e sentimentos acerca do governo que está sobre nós, nosso relacionamento com outros cidadãos e nossos direitos e deveres.

A questão dos “direitos e deveres” é bem importante. As leis de um país se aplicam a você diretamente, quer você as aceite ou não, quer você acredite nelas ou não. Ainda que você esteja morando em outro país, a sua cidadania afetará você de forma profunda.

Ser cidadão de um país rico e poderoso é muito bom, porque essa cidadania nos abençoará com muitas possibilidades de desenvolvimento de nossas vidas pessoais. Não é à toa que tantos brasileiros se aventuram, ao tentar moradia em outros países mais ricos do que o Brasil, muitas vezes sacrificando o bem-estar, trabalhando em subempregos, a fim de tentar melhores condições de vida.

Como discípulos de Cristo, recebemos uma nova cidadania, ao aceitarmos ao Senhor como o nosso Rei. Portanto, para um cristão, essa questão não deveria ser um problema, porque nós já temos uma cidade que é a mais rica, mais justa, mais maravilhosa de todas!

Agora, vamos ao versículo que estudaremos hoje:

“A nossa cidadania, porém, está nos céus, de onde esperamos ansiosamente um Salvador, o Senhor Jesus Cristo.” (Filipenses 3:20)


Nascemos em um novo reino

O Senhor Jesus Cristo recebeu uma missão de seu Pai: trazer de volta o Reino de Deus para a Terra. Este Reino existia originalmente aqui, mas, devido ao pecado de Adão, ele foi retirado. Assim, o reino dos homens foi separado do Reino de Deus.

Muitas pessoas, inclusive os cristãos, não têm a “consciência de reino”, mas uma consciência voltada para os rituais e para a religião. Contudo, não foi para trazer uma nova religião à Terra que Jesus foi enviado. Cristo veio para trazer um reino.

O profeta Isaías, quando profetizou acerca do Messias, disse:

“Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o principado está sobre os seus ombros, e se chamará o seu nome: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz.

Do aumento deste principado e da paz não haverá fim, sobre o trono de Davi e no seu reino, para o firmar e o fortificar com juízo e com justiça, desde agora e para sempre; o zelo do Senhor dos Exércitos fará isto.” (Isaías 9:6,7)

Lendo a profecia de Isaías com cuidado, percebemos que o Cristo prometido não viria ao mundo para trazer uma nova religião, mas para estabelecer um reino de paz e justiça. E, de fato, era isso que Israel aguardava. Tanto é que desejaram consagrar a Jesus como rei antecipadamente:

“Vendo, pois, aqueles homens o milagre que Jesus tinha feito, diziam: Este é verdadeiramente o profeta que devia vir ao mundo.

Sabendo, pois, Jesus que haviam de vir arrebatá-lo, para o fazerem rei, tornou a retirar-se, ele só, para o monte.” (João 6:14,15)

Verdadeiramente, o Senhor Jesus veio para ser rei, mas, na ocasião de Sua primeira vinda, ainda não era tempo de Ele se tornar um rei aqui neste mundo. No presente momento, o reinado de Cristo é nos Céus e através da igreja, que é o Seu corpo. Ele reina na Terra, a fim de salvar pessoas da morte e levá-las para o seu reino eterno.

Ainda não é tempo de um reino físico sobre a Terra, assim como acreditavam os judeus da época do Novo Testamento. O reino de Deus, neste tempo da Graça, não vem com “aparência exterior”, mas está entre nós, na esfera espiritual (Lucas 17:20-21), habitando dentro de cada um de nós.


Desenvolvendo a consciência de reino

O fato de o Reino de Deus ainda não estar implantado fisicamente na Terra não quer dizer que devemos negligenciar esta realidade. Em muitas passagens bíblicas, principalmente do Novo Testamento, encontramos versículos que demonstram que Deus deseja que tenhamos essa consciência de reino.

O evangelho pregado por Jesus Cristo, de fato, pode ser resumido como as boas novas do Reino de Deus. Vejamos alguns versículos:

“Mas, se é pelo Espírito de Deus que eu expulso os demônios, logo é chegado a vós o reino de Deus.” (Mateus 12:28)

“Ele, porém, lhes disse: É necessário que também às outras cidades eu anuncie o evangelho do reino de Deus; porque para isso é que fui enviado.” (Lucas 4:43)

“Curai os enfermos que nela houver, e dizei-lhes: É chegado a vós o reino de Deus.” (Lucas 10:9)

“Mas, quando creram em Filipe, que lhes pregava acerca do reino de Deus e do nome de Jesus, batizavam-se homens e mulheres.” (Atos 8:12)

“Paulo, entrando na sinagoga, falou ousadamente por espaço de três meses, discutindo e persuadindo acerca do reino de Deus.” (Atos 19:8)

Ora, vemos claramente que a mensagem trazida por Jesus, e que foi propagada pelos seus discípulos, era acerca de um reino e não de uma nova religião na Terra. Infelizmente, de forma gradativa, a igreja perdeu a consciência de reino e foi levada pelos rituais, muitas vezes influenciados pelas religiões pagãs, vindas de povos que não conheciam o Deus vivo, ou mesmo derivados dos rituais da Lei de Moisés (sobre isso, veja a postagem anterior).


O que é um reino?

Vamos começar do mais básico, pois atualmente vivemos – pelo menos aqui no Brasil – em uma nação que não é monarquia, mas uma democracia. Dessa forma, é necessário construirmos um entendimento básico acerca de reino.

Pois bem, um reino é uma nação e, portanto, tem um território. O território de um reino é governado pelas leis oriundas do governo do reino. Este governo não é eleito democraticamente, mas é transmitido pela genealogia, ou seja, o descendente mais velho do rei receberá o reino por herança.

Um exemplo disso é  que recentemente o mundo acompanhou a transmissão do poder da Rainha Elizabeth  II para o seu filho mais velho, Charles III, que agora é o rei da Inglaterra e chefe da Commonwealth, uma grande organização intergovernamental composta por 56 países independentes.

Quando falamos de reino, existem algumas diferenças desse sistema de governo com relação à democracia, as quais são importantes para entendermos bem as Escrituras. Em especial, devemos lembrar que Deus falava dentro de uma cultura de reino antiga.

Nos tempos passados, a palavra de um rei não podia voltar atrás, e essa deve ser a nossa consciência com relação ao reino de Deus. A palavra de Deus, uma vez emitida, não volta atrás. A exceção é quando Deus profere um juízo passível de arrependimento. Nesse caso, quando os homens se arrependem de seus pecados, Deus retrocede no juízo que havia decretado. Vemos isso em algumas ocasiões nas escrituras (por exemplo, no livro do profeta Jonas).

Em geral, nos reinos da atualidade, é possível haver mudança das leis, mas, no Reino de Deus, as leis são eternas. Assim sendo, é necessário que os cidadãos celestiais compreendam bem as leis do Senhor, a fim de se beneficiarem delas e não caírem em condenação.


Nosso governo é celestial

Muitos cristãos da atualidade parecem não ter a mentalidade nas coisas celestiais, demonstrando uma visão limitada às coisas da Terra. Mas, através do livro de Filipenses, Deus busca realinhar a nossa mente com o seu Reino.

Aqueles cuja mentalidade é voltada para as coisas terrenas são condenados por Deus através dos versículos que antecedem o versículo ora estudado:

“Porque muitos há, dos quais muitas vezes vos disse, e agora também digo, chorando, que são inimigos da cruz de Cristo, cujo fim é a perdição; cujo Deus é o ventre, e cuja glória é para confusão deles, que só pensam nas coisas terrenas.” (Filipenses 3:18-19)

Acredito que o apóstolo Paulo estava falando aqui dos religiosos judeus, os quais tentavam matá-lo. Eram pessoas que pertenciam a Israel, o povo de Deus, mas não conheciam a Deus e perseguiam os discípulos do Senhor. O próprio Jesus criticou pesadamente os fariseus por terem uma aparência de piedade, mas, por dentro, serem espiritualmente mortos.

“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda a imundícia.” (Mateus 23:27)

Uma vez que você aceitou Jesus como seu Senhor, você também O aceitou como o seu rei. Desta forma, o governo que deve comandar a sua vida é o governo celestial, e não mais um governo terreno. Da mesma maneira, a nossa fonte de justiça, paz, alegria, provisão e saúde torna-se os Céus e não os governos terrenos.

Claro que, considerando que o Reino de Deus é um reino espiritual, Deus poderá usar o governo humano para executar o Seu propósito na Terra, mas precisamos ter a consciência de que a fonte dos nossos benefícios vem da nossa cidadania no Reino de Deus. Assim, “não temeremos, ainda que a terra se mude, e ainda que os montes se transportem para o meio dos mares” (Salmos 46:2), ou seja, ainda que as circunstâncias deste mundo físico mudem, os Céus não mudarão a sua lei ou o seu governo, e continuaremos tendo os benefícios desta cidadania.


Direitos e deveres celestiais

No versículo que estamos estudando hoje (Filipenses 3:20), o apóstolo Paulo, pelo Espírito Santo, nos fala que a “nossa cidadania é dos Céus”. Você encontrará algumas traduções da Bíblia usando a palavra “cidade”. Vamos examinar a palavra originalmente usada aqui:

πολίτευμα (políteuma) vem da palavra πολίτης (polites) “cidadão”, e pode ser traduzida como: corpo de cidadãos de uma cidade, cidadania, direitos de cidadão, governo (de uma cidade), etc.

Nos tempos bíblicos, era normal que as cidades tivessem um governo independente e autônomo, sendo chamadas de “cidade-estado”. Por isso que as palavras utilizadas aqui se referem a uma cidade e não a um país. O termo “cidadania” vem da palavra “cidade”, mas atualmente é usado para se referir ao conjunto de direitos e deveres relativos a um país, geralmente composto de muitas cidades.

Deus nos chama a atenção para o fato de que a nossa cidadania é de um país espiritual,  chamado de Reino de Deus. Esta cidadania implica em direitos e deveres específicos desse reino.

As escrituras nos revelam quais são os nossos direitos e deveres enquanto cidadãos do Reino de Deus. Vejamos alguns desses direitos e deveres.


O fundamento do amor

“Amados, amemo-nos uns aos outros; porque o amor é de Deus; e qualquer que ama é nascido de Deus e conhece a Deus.

Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor.” (1 João 4:7,8)

O Reino de Deus é caracterizado com base na natureza divina, pois Deus é o seu criador e é o governo sobre esse lugar. Assim, a base das leis e da cultura do reino é o amor divino. Tanto no Velho como no Novo testamento, o amor é a base dos mandamentos, ou seja, todas as leis de Deus são fundamentadas com base nessa característica do Pai.

Justiça, paz e alegria

“Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo.” (Romanos 14:17)

Este verso demonstra que o reino de Deus não consiste em alimentos específicos ou rituais físicos, mas primeiramente em justiça. A palavra “justiça” aqui usada se refere ao “caráter do justo”, e não à justiça de julgamento, pois nesse caso a Bíblia usaria o termo “juízo”.

O Reino de Deus é um lugar onde prevalece um caráter justo, ou seja, puro, honesto e benigno. Também é um lugar de muita alegria e paz. Portanto, como cidadãos do Reino de Deus, temos o dever, e ao mesmo tempo o direito, de vivermos uma vida de paz e alegria.

Tudo isso baseado na realidade espiritual e não neste mundo terreno.

Saúde e cura

“E, em qualquer cidade em que entrardes, e vos receberem, comei do que vos for oferecido.

E curai os enfermos que nela houver, e dizei-lhes: É chegado a vós o reino de Deus.” (Lucas 10:8,9)

Quando Jesus ordenou aos seus discípulos que fossem às cidades de Israel, para anunciar o evangelho, um dos primeiros sinais da manifestação física do Reino de Deus na Terra era a cura. Isso porque no reino de Deus não há doença, e a saúde e a cura são sinais de manifestação do poder que emana do Reino.

Libertação do poder das trevas

“E, se Satanás expulsa a Satanás, está dividido contra si mesmo; como subsistirá, pois, o seu reino?

E, se eu expulso os demônios por Belzebu, por quem os expulsam então vossos filhos? Portanto, eles mesmos serão os vossos juízes.

Mas, se eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, logo é chegado a vós o reino de Deus.” (Mateus 12:26-28)

Quando o reino de Deus se manifesta na Terra, ele traz, também, libertação do pecado, da opressão maligna, e tudo o mais que são características do reino das trevas. Na passagem acima, os fariseus hipócritas e de mentalidade terrena afirmavam que Jesus expulsava os demônios por meio de Belzebu, mas Jesus explicou que não havia sentido em um reino expulsar o próprio reino.

O que na verdade acontecia – e acontece até os dias de hoje – é que o Reino de Deus expulsa o reino de Satanás.


Conclusão

Há muito o que se falar sobre os direitos e deveres de cidadãos do Reino de Deus, obviamente não há como cobrir toda a Bíblia apenas nesta postagem. O meu objetivo é fazer com que você entenda que é cidadão de um reino espiritual, governado pelo próprio Deus, através de Seu Filho Jesus.

Como cidadãos deste Reino, precisamos ter a consciência e o entendimento de que somos governados por leis eternas, sendo necessário que compreendamos essas leis e as obedeçamos, para desfrutarmos da maravilhosa realidade deste Reino na Terra.

Que a paz e alegria do Reino de Deus sejam com a tua vida. Amém.


Wendell Costa



quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

Para Conhecê-lo


Dentre os sábios do seu tempo, certamente, o apóstolo Paulo era um dos mais proeminentes. Inclusive, quando se defendeu perante o rei Agripa, Paulo foi acusado pelo governador Festo de que “as muitas letras (que Paulo sabia) faziam com que ele “delirasse”. (Atos 26:24).

No entanto, para poder adquirir um conhecimento superior, esse grande homem de Deus teria que abrir mão de muitas coisas. Ele precisaria renunciar ao que ele era e aos saberes que detinha, e Paulo escolheu pagar esse preço. Este é o conhecimento de Cristo, ou seja, o conhecimento da salvação que Deus Pai proporcionou para o homem pecador através de Seu Filho.

Passemos aos versos que estudaremos nesta postagem:

“Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo.

E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas e as considero como esterco, para que possa ganhar a Cristo.

E seja achado nele, não tendo a minha justiça que vem da lei, mas a que vem pela fé em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus, pela fé;

Para conhecê-lo, e a virtude da sua ressurreição, e a comunicação de suas aflições, sendo feito conforme a sua morte;” (Filipenses 3:7-10)


A influência do agnosticismo dentro da igreja

Nestes tempos, tenho percebido uma forte influência da filosofia agnóstica dentro da cultura cristã. Caso você não saiba o que é agnosticismo, vou esclarecer:

Agnosticismo

“Doutrina que reputa inacessível ou incognoscível ao entendimento humano a compreensão dos problemas propostos pela metafísica ou religião (a existência de Deus, o sentido da vida e do universo etc.), na medida em que ultrapassam o método empírico de comprovação científica.” (Dicionário Oxford Languages)

Basicamente, o agnóstico nega a capacidade do homem de compreender as coisas metafísicas, o que inclui muitas das verdades reveladas pelas Escrituras. De maneira geral, isso implica em uma negação ao conhecimento das realidades eternas e espirituais, em especial, o conhecimento que as religiões (entre as quais o cristianismo) oferece.

Em termos práticos, no dia a dia da vida cristã, é possível encontrarmos pessoas, na igreja, que afirmam coisas do tipo: “os caminhos de Deus são misteriosos”, “Não há como conhecer Deus”, etc., ou seja, dá-se a entender que não é possível o ser humano compreender Deus e a Sua vontade.

Nos versículos que citei anteriormente, vemos Deus, através de Paulo, falando sobre a “excelência do conhecimento de Cristo Jesus” e, depois, no verso 10, ele nos fala o objetivo de ter que abrir mão do que tinha antes: “Para conhecê-lo”. O que nos mostra que Deus deseja ser conhecido e proveu os caminhos para isso.

Ora, o próprio Senhor Jesus Cristo resume a vida eterna da seguinte forma:

“E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste.” (João 17:3)

A palavra traduzida por “conheçam” é o verbo grego γινώσκω (gnosko), que significa conhecer, compreender, etc. Este verbo vem da palavra γνῶσις (gnosis), que quer dizer “inquérito, investigação ou conhecimento”. A própria palavra “agnosticismo” deriva da palavra gnosis com o acréscimo da letra “a” (em grego, é usado a letra “alfa”). Assim, a palavra a-gnóstico refere-se a algo que não pode ser conhecido/compreendido/investigado.

Assim sendo, o agnosticismo é uma filosofia contrária às Escrituras, pois nega a nossa capacidade em compreender Deus e as coisas espirituais. A própria revelação divina, que veio das Escrituras Sagradas, perderia totalmente o sentido se, de fato, não pudéssemos compreender as coisas “metafísicas” (espirituais).


Os rituais religiosos


Como fariseu, o apóstolo Paulo era um profundo conhecedor da lei de Moisés. De acordo com o livro de Hebreus, a Lei mosaica trazia diversos tipos de sacrifícios, rituais e abluções (purificações), que deveriam ser praticadas continuamente (Hebreus 9:10).

Apesar de a lei de Moisés ter cumprido o seu papel de apontar a necessidade de salvação, ela foi cumprida e encerrada por Jesus, que inaugurou uma Nova Aliança, não mais sobre o sangue de animais, mas com Seu próprio sangue (Hebreus 9:12).

Todos aqueles elementos da Lei eram tipos ou figuras, que apontavam para Cristo e a Nova Aliança, a qual haveria de ser inaugurada por Deus num futuro. Agora, nesta aliança, não há mais necessidade da manutenção de figuras, pois já temos o “real”. De fato, a Lei é chamada de “sombra”:

“Porque tendo a lei a sombra dos bens futuros, e não a imagem exata das coisas (...)” (Hebreus 10:1a)

Vou criar uma espécie de parábola, para que você compreenda essa questão. Imagine que você vai se encontrar com alguém que nunca viu pessoalmente, e marcam o encontro em uma esquina. Na hora marcada, você se aproxima da esquina e percebe que a outra pessoa está chegando, através da sombra projetada.

Pela sombra, você consegue identificar algumas características da pessoa: se é magra ou gorda, se tem barriga, o tamanho do cabelo, etc. Contudo, muitos outros detalhes não são mostrados pela sombra, tais como cor da pele, cor dos olhos, detalhes da roupa, etc.

Finalmente, você vira a esquina e vê a outra pessoa em todos os detalhes. Mas então, você age de forma estranha, pois começa a olhar pra sombra dessa pessoa, tentando conhecê-la melhor!

Ora, se você já está olhando para o indivíduo, não há mais necessidade de tentar entender os detalhes dele através da sombra! Não é verdade?

No entanto, existem diversas igrejas e movimentos que tentam resgatar as imagens da lei mosaica para dentro do culto neotestamentário, tentando implantar elementos da Lei, tais como a arca da aliança, o candelabro e certas roupas características, bem como doutrinas extraídas exclusivamente a partir do Velho Testamento.

Por causa disso, no livro de Filipenses, mais uma vez, o apóstolo Paulo combate a prática dos rituais da Lei mosaica dentro da igreja, reforçando o fato de que a nossa justificação não vem pela prática da Lei, mas simplesmente pela fé em Jesus Cristo. Daí, também inferimos que o conhecimento de Cristo não é obtido por meio da prática de rituais religiosos, semelhantes aos da Lei, mas através das revelações de Deus, por meio de Cristo, tendo, agora, o “real” e não mais uma “sombra”.

Importante destacar que o Velho Testamento é sim a Palavra de Deus, contudo ele precisa ser interpretado com a luz que veio no Novo Testamento, de forma a ser corretamente compreendido. Muitas pessoas e igrejas da atualidade erram quando desconsideram a doutrina da Nova Aliança e se baseiam quase que completamente nos textos do Velho Testamento para ensinar sobre Deus.

“Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo.” (João 1:17)

Somente a partir da Nova Aliança, o Espírito Santo foi colocado dentro de nossos espíritos, porque o novo nascimento só veio através de Cristo. A lei de Moisés não foi dada para tornar o homem justo, mas para expor o pecado, ou seja, a natureza pecaminosa que havia dentro do homem. Assim sendo, os santos do velho testamento não tinham condições de compreender plenamente as realidades espirituais da mesma forma como hoje temos e, por isso, precisavam das figuras trazidas pela lei para formarem seu entendimento.


Abrir mão do conhecimento do mundo


Mesmo com todo o status trazido pela sua posição social enquanto fariseu, Paulo optou por abrir mão de tudo aquilo, em prol do conhecimento de Cristo. O que nos traz uma importante lição: é necessário abrirmos mão do conhecimento mundano para que possamos adquirir o conhecimento divino.

O apóstolo Tiago nos ensina que não é possível termos uma fonte que jogue água doce e amarga ao mesmo tempo:

“Porventura, deita alguma fonte, de um mesmo manancial, água doce e água amargosa?

Meus irmãos, pode também a figueira produzir azeitonas ou a videira, figos? Assim, tampouco pode uma fonte dar água salgada e doce.” (Tiago 3:11,12)

Uma vez que o mundo foi contaminado pelo mal, praticamente todo o conhecimento que existe nesta terra está misturado. Você se recorda que a tentação inicial que houve no Jardim do Éden foi exatamente para que o homem comesse da árvore do “conhecimento do bem e do mal”?

Uma vez que Adão permitiu que o conhecimento misturado entrasse dentro de si, isso afetou toda a raça humana. A partir de então, o homem ficou exposto a um conhecimento corrompido, que tem seu lado bom, mas que mistura com a rebelião contra Deus. Um bom exemplo é o conhecimento obtido pela ciência da Biologia: por um lado, aprendemos coisas importantes sobre a natureza, por outro lado, aprendemos que o homem e o macaco vieram de um mesmo ancestral.

Mas, em Filipenses 2:15, já vimos que somos chamados para sermos “irrepreensíveis e sinceros [GREGO: AKÉRAIOS], filhos de Deus inculpáveis, no meio de uma geração corrompida e perversa”. Isso nos mostra que precisamos buscar uma purificação do conhecimento (o qual gera comportamento) misturado deste mundo. A palavra grega AKÉRAIOS significa puro ou “não misturado”.

Não é que seja errado você estudar a ciência humana, mas é necessário guardarmos o nosso coração, para não nos deixarmos corromper pela rebelião contra Deus, que está misturada dentro das ciências humanas. É preciso que a nossa base seja a Palavra de Deus. Todas as demais coisas precisam ser julgadas por ela.

Além disso, na medida do possível, devemos ter uma atitude de separação diante do mundo, tentando, ao máximo, evitar a contaminação com o conhecimento misturado que Adão permitiu entrar na terra.

Portanto, minimize o conhecimento secular que entra no seu coração, restringindo ao que seja essencial ao seu ofício ou aos seus estudos. Principalmente, dedique-se ao estudo e meditação das Escrituras Sagradas, para que a Palavra de Deus seja o fundamento da sua vida e você tenha condições de examinar tudo por meio dela.


Participantes do sofrimento de Cristo

O último ponto que tratarei neste estudo é de fundamental importância. Já percebi um engano presente em muitas pessoas que desejam conhecer mais da Bíblia: querem apenas conhecer intelectualmente as Escrituras, muitas vezes, apenas para ganhar discussões ou debates com as outras pessoas, e não para viver a natureza divina em suas vidas.

Vejamos o último versículo estudado:

“Para conhecê-lo, e a virtude da sua ressurreição, e a comunicação de suas aflições, sendo feito conforme a sua morte;” (Filipenses 3:10)

É fundamental compreendermos que os itens que o apóstolo Paulo citou, no versículo acima, estão interligados: não há como conhecermos a virtude da ressurreição de Cristo sem sermos também participantes de Seus sofrimentos.

O conhecimento e a sabedoria que Deus nos entrega não são para desenvolver em nós a soberba, sobressaindo-nos das outras pessoas em discussões e contendas de palavras. O conhecimento divino nos é dado para que possamos viver Cristo aqui na terra, andando em amor e sendo imitadores do Senhor em tudo. De fato, são ferramentas para que possamos cumprir o chamado divino de filhos e servos, assim como foi com Cristo, que sendo Deus, se fez escravo (Filipenses 2:5-8).

Sobre os sofrimentos de Cristo, há muito que se falar, no entanto, não está no escopo deste estudo. Mas, de forma resumida, podemos listar alguns desses sofrimentos:

  • Deixou a Sua glória de Rei Celestial e veio a este mundo caído, nascendo em um estábulo, ficando sobre uma manjedoura, que é o local onde se coloca alimento para os cavalos.
  • Sendo um Espírito eterno, se fez mortal e suscetível ao cansaço, fome, dores, sangramento e à morte.
  • Sendo o Criador de tudo, foi humilhado, criticado, espancado e assassinado injustamente pelas suas próprias criaturas.
  • Foi fiel até a morte, e morte de cruz.
  • Dentre outras coisas…

Assim, para compreendermos plenamente o conhecimento de Cristo, é necessário ir muito além do mero conhecimento intelectual. É necessário experimentarmos Cristo por completo, pois o conhecimento que Deus nos dá em Cristo não é apenas informação, mas vida.

Por fim, é necessário também entender que o crescimento espiritual é gradativo. Não teremos condições de implementar todas estas coisas em nossas vidas da noite para o dia. Mas é necessário a vez um passo firme nessa direção. Deus é aquele que nos conduz nesse processo, implantando Sua Palavra em nosso coração e nos dando força para prosseguir na jornada de crescimento.


Conclusão

O “pacote” da salvação é completo, tendo um conhecimento e sabedoria superiores, mas que também envolve certos tipos de sofrimentos que passamos por causa do nosso Senhor.

Somos abençoados com toda sorte de bênçãos, nas regiões celestiais, mas fomos alertados que neste mundo teríamos aflições e que seríamos perseguidos por causa de Cristo.

Temos acesso à Palavra que salva, instrui e liberta, mas devemos vigiar, para que esta Palavra encontre solo fértil no nosso coração e dê muitos frutos.

Para isso, precisamos ter um alvo claro em nossa mente, a fim de nos motivarmos para encarar esse processo de adquirir o conhecimento de Cristo.

Que a graça do Senhor Jesus Cristo seja com você.

Wendell Costa

segunda-feira, 21 de novembro de 2022

Guardai-vos dos cães


Quando me converti ao Senhor, em maio de 1995, minha primeira impressão era de que as pessoas que frequentavam as igrejas evangélicas eram todas muito santas e quase “perfeitas”. Contudo, pouco tempo depois, eu entendi que não era bem assim.

Eu mesmo percebi que, embora eu tivesse sinceramente decidido por seguir a Cristo, ainda havia muitos defeitos em mim, que levariam anos para serem vencidos. Alguns deles ainda precisam ser tratados até hoje! O processo de santificação dura toda a nossa vida.

Voltando à época da minha conversão, recordo que, como era músico profissional, não podia frequentar a igreja nos finais de semana, pois estava, geralmente, viajando a trabalho. Por causa disso, eu frequentava um culto que acontecia no meio da semana, onde iam muitos jovens. Nessa época, eu já era casado, mas tinha apenas 21 anos de idade.

Lembro que, no primeiro domingo em que pude ir à escola dominical, o pastor da igreja estava pedindo perdão aos irmãos por um fato que considerei inusitado: um “irmão” da igreja havia defraudado outros irmãos. Aquele membro da igreja havia pedido dinheiro emprestado a alguns e comprado no nome de outros, depois havia sumido da congregação.

Aquele fato, de certa forma, foi um choque para mim, pois eu acreditava que aquelas pessoas eram muito “perfeitinhas” e que esse tipo de problema não acontecia dentro das igrejas evangélicas.

Hoje, eu entendo que nos círculos cristãos existe todo tipo de indivíduo. Deus, através do apóstolo Paulo, nos alerta sobre algumas categorias de pessoas que comumente encontramos no ambiente comunitário da igreja. Nesta postagem, falaremos sobre os “cães”.

“Guardai-vos dos cães, guardai-vos dos maus obreiros, guardai-vos da circuncisão;” (Filipenses 3:2)

 

O que representam os “cães”

Cães (cachorros) são animais domésticos, ou seja, convivem conosco no dia a dia. Atualmente a importância dos cães tem aumentado, sendo, inclusive, permitida a entrada desse tipo de animal em shoppings e até mesmo em voos, como acompanhantes. Em termos de animais domésticos, o cão é considerado o “melhor amigo do homem”.

Nos tempos bíblicos, isso já era comum, ou seja, os cães viviam na sociedade, fazendo parte da vida dos homens. Assim sendo, quando Deus fala sobre “cães”, Ele se refere a pessoas “domésticas”, ou seja, que convivem conosco dentro da igreja. Essa comparação entre seres humanos e animais é bastante comum na Bíblia, não com intuito de menosprezar o ser humano, mas de, tão somente, criar uma imagem mental, para fins de aprendizado.

No caso do “cão”, seu uso se referindo a um ser humano, de fato, possui uma conotação negativa dentro do contexto bíblico. Vejamos o que o apóstolo Pedro explica acerca de tal comparação:

“Porquanto se, depois de terem escapado das corrupções do mundo, pelo conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, forem outra vez envolvidos nelas e vencidos, tornou-se-lhes o último estado pior do que o primeiro.

Porque melhor lhes fora não conhecerem o caminho da justiça, do que, conhecendo-o, desviarem-se do santo mandamento que lhes fora dado;

Deste modo sobreveio-lhes o que por um verdadeiro provérbio se diz: O cão voltou ao seu próprio vômito, e a porca lavada ao espojadouro de lama.” (2 Pedro 2:20-22)

Pedro cita Provérbios 26:11, um verso que já usa essa imagem mental de um “cão voltando ao seu próprio vômito”, a fim de mostrar qual a visão de Deus acerca das pessoas que se convertem, mas acabam voltando à prática do pecado, ainda que permaneçam dentro da igreja.


Por que se guardar?

Existem vários motivos pelos quais precisamos nos guardar, ou seja, observar e nos proteger dos “cães”. Vejamos alguns desses motivos.

1º) As más companhias corrompem os bons costumes

“Não se deixem enganar: as más companhias corrompem os bons costumes.

Como justos, recuperem o bom senso e parem de pecar; pois alguns há que não têm conhecimento de Deus; digo isso para vergonha de vocês.” (1 Coríntios 15:33,34)

Quando Deus nos criou, Ele nos dotou de uma capacidade de agregação, que gera comunidades. É perfeitamente comum médicos se agregarem a outros médicos formando associações, músicos se agregarem a outros músicos, e assim por diante. De maneira geral, isso é salutar, porque há um compartilhamento de informação e sabedoria, que leva as pessoas a crescerem e se desenvolverem como pessoa e como profissional.

Contudo, devido ao pecado que entrou no mundo, temos que lidar com a influência negativa que as pessoas podem ter sobre nós. Quanto mais intensa for a convivência, mais forte será a influência daquela pessoa nas nossas vidas.

O empreendedor, autor e palestrante motivacional americano Jim Rohn chegou a formular a seguinte frase: “Você é a média das cinco pessoas com quem mais convive.” Ora, é inegável a influência das pessoas sobre nós e, portanto, é imprescindível que guardemos o nosso coração de pessoas que vivam para o pecado, mas que estejam vivendo muito próximas a nós, por causa dessa influência negativa, especialmente daqueles que chamamos de “irmãos”.

Nos versos citados acima (1 Coríntios 15:33,34), algumas pessoas que não tinham conhecimento de Deus estavam influenciando a Igreja em Corinto, negando a ressurreição de Cristo e, dessa maneira, provocando incredulidade na igreja.


2º) O pecado de alguns gera tentação para os que não estão firmes na fé

Quando estamos na fase da infância ou adolescência, somos mais vulneráveis às influências externas. Existem diversos estudos que provam a relação entre o que uma criança ou adolescente assiste na TV (ou outro tipo de mídia) e o seu comportamento. Assim também, quando nos convertemos a Cristo, somos como que “crianças na fé” e ainda não temos firmeza para suportar tentações mais intensas, pois a Palavra de Deus ainda não está suficientemente desenvolvida em nós.

Dessa maneira, é fundamental que questões de pecado entre os crentes sejam tratadas por pessoas maduras na fé, de forma a que os novos convertidos não sejam tentados a voltar aos seus pecados passados. Observe o conselho do apóstolo Paulo:

“Irmãos, se alguém for surpreendido em algum pecado, vocês que são espirituais deverão restaurá-lo com mansidão. Cuide-se, porém, cada um, para que também não seja tentado.” (Gálatas 6:1)

Assim, a presença de cristãos que constantemente caem em pecados passados precisa ser observada para não gerar escândalo e tentações nos demais, em especial, nos novos convertidos. O quanto for possível, é bom que evitemos a comunhão mais intensa com esse tipo de pessoa.


3º) Os cães rejeitam as coisas santas

Uma outra característica dos cães é que eles rejeitam as coisas santas, as quais são verdades bíblicas que geram santidade em nós. Vejamos a orientação dada pelo Senhor Jesus acerca disso:

“Não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as vossas pérolas, não aconteça que as pisem com os pés e, voltando-se, vos despedacem.” (Mateus 7:6)

Em minha vida pastoral, já tive oportunidade de orientar muitas pessoas acerca de quais são os comportamentos adequados (ou inadequados) ao discípulo de Cristo, ou seja, oriento as pessoas a que tenham uma disposição mental para a pureza, tanto da mente como do corpo. Mesmo quando a pessoa ainda é nova convertida e criança em Cristo, se ela estiver com o coração aberto ao Senhor, dará ouvidos aos meus conselhos, mesmo que tenha uma natural dificuldade de caminhar nos mandamentos, no começo da sua fé.

Contudo, quando a disposição mental do indivíduo for carnal, ele vai rejeitar os conselhos e pode até mesmo se voltar contra mim. Desta maneira, ao identificar um comportamento “canino”, a minha atitude será de alerta e cuidado, tanto comigo como com as demais pessoas do grupo ou igreja da qual faço parte.

Uma boa orientação é orar para que Deus quebrante o coração dessa pessoa, de forma que ela venha, no futuro, a dar ouvidos ao Espírito Santo.

Veja o conselho de Paulo a Timóteo:

“E rejeita as questões loucas e sem instrução, sabendo que produzem contendas.

E ao servo do Senhor não convém contender, mas, sim, ser manso para com todos, apto para ensinar, sofredor;” (2 Timóteo 2:23-24)

 

Devemos “observar”, a fim de nos proteger

Quando o apóstolo Paulo falou “guardai-vos dos cães”, o verbo utilizado, na verdade, é a palavra grega βλέπω (blepo), que quer dizer “ver, observar, perceber”, a qual foi traduzida como “acautelai-vos” ou “guardai-vos”. Então, por que não foi utilizado o verbo grego correspondente a “proteger-se”?

A explicação reside no fato de que esse tipo de pessoa, citado por Paulo em Filipenses 3:2, está na igreja, e não há muito o que fazer a respeito disso. As igrejas, em geral, são locais públicos, onde qualquer pessoa pode ter acesso. Simplesmente, não há como os líderes das igrejas expulsarem as pessoas pelo fato de elas ainda cometerem pecados.

Muitas pessoas que hoje podem ser consideradas “cães” têm o potencial de se arrependerem posteriormente e se tornarem discípulos exemplares de Cristo.

O Senhor Jesus contou a parábola do joio e do trigo para ilustrar uma situação parecida. Na parábola, um inimigo lança joio no meio de um campo de trigo, e os servos do dono do campo perguntam se devem arrancar o joio:

“E ele lhes disse: Um inimigo é quem fez isso. E os servos lhe disseram: Queres pois que vamos arrancá-lo?

Ele, porém, lhes disse: Não; para que, ao colher o joio, não arranqueis também o trigo com ele.

Deixai crescer ambos juntos até à ceifa; e, por ocasião da ceifa, direi aos ceifeiros: Colhei primeiro o joio, e atai-o em molhos para o queimar; mas, o trigo, ajuntai-o no meu celeiro.” (Mateus 13:28-30)

Portanto, vemos que o Senhor Jesus não vai fazer a separação do joio do trigo neste momento. Um dia isso acontecerá. Agora, no tempo presente, sempre há oportunidade de arrependimento para todos.


Conselhos práticos

1) Não entre em debates e contendas, pois isso não vai produzir santidade, mas sim divisões e perda de foco.

2) Se tiver oportunidade de aconselhar o irmão sobre alguma questão de pecado, faça, mas depois de algumas vezes, se perceber que ele se arrepende apenas da “boca pra fora”, evite tal pessoa.

“Mas não entres em questões loucas, genealogias e contendas, e nos debates acerca da lei; porque são coisas inúteis e vãs.

Ao homem herege, depois de uma e outra admoestação, evita-o,

Sabendo que esse tal está pervertido, e peca, estando já em si mesmo condenado.” (Tito 3:9-11)

3) Não tente aconselhar alguém que está preso em pecado se você não é maduro na fé e firme naquela área onde a pessoa está pecando, porque poderá levar você a ser tentado e a cair em pecado. (Gálatas 6:1)


Conclusão

Considerando que as igrejas são locais públicos, temos todo tipo de pessoa frequentando-as. Assim, algumas categorias merecem atenção e cuidado, a fim de que preservemos nossa vida de santidade.

Algo que precisamos atentar é tomar cuidado, também, em não rotular as pessoas de “cães” por acharmos, em uma análise superficial, que ela se enquadra nessa categoria. Somente com a convivência e com maturidade de nossa parte, temos condições de avaliar corretamente.

E se você tem sido essa pessoa que continua caindo em pecados do passado, e tem rejeitado aqueles que tentam lhe alertar, saiba que ainda há espaço para um verdadeiro arrependimento, pois Deus nos presenteou com esta possibilidade, graças ao sacrifício de Cristo por nossos pecados. Continuar vivendo em pecado só trará destruição para você, pois satanás terá livre acesso à sua vida.

Que a graça do Senhor Jesus Cristo seja com a sua vida. Amém.

Pr. Wendell Costa

quarta-feira, 12 de outubro de 2022

Irrepreensíveis, sinceros e inculpáveis


No início da era cristã, houve algumas acusações contra a “superstição cristã”. Dizia-se que alguns cristãos praticavam canibalismo e incesto, que queriam se rebelar contra o Império Romano, dentre outras coisas. Quando Paulo começou a pregar o evangelho da salvação, por meio da fé, foi acusado de incentivar a prática do pecado (Romanos 3:8), por afirmar que o homem não era salvo pelas obras da Lei (Romanos 3:20-24), mas tão somente pela fé.

Verdadeiramente, a salvação provida por Deus não vem de nós mesmos, sendo dada mediante uma fé viva. Quando respondemos positivamente ao chamado divino, crendo no Salvador Jesus, recebemos o perdão dos pecados e a vida eterna. Tudo isso é feito sem que tenhamos que dar nada em troca a Deus, exceto crermos na mensagem do evangelho.

Diante dessa realidade, um dos primeiros questionamentos que podemos fazer é exatamente esse: se a salvação não depende de obras minhas, posso continuar vivendo uma vida de pecado?

A resposta a essa pergunta é bem detalhada no próprio livro de Romanos. Como não é o foco do nosso estudo – pois não é o objetivo principal do livro de Filipenses –, não farei uma exposição muito aprofundada sobre o tema do pecado sob a Nova Aliança, mas tão somente trataremos da importância da santificação, com base em alguns versos de Filipenses.

A Importância da Santificação

Quando somos salvos, isso acontece em nível espiritual, pois a salvação começa nessa esfera. Uma vez salvos em espírito, nos tornamos ligados a Cristo e, caso morramos fisicamente, iremos para o Paraíso. Contudo, na medida em que permanecemos na Terra, essa realidade espiritual precisa se manifestar no mundo terreno.

Esse processo é chamado de “santificação” e pode ser resumido da seguinte maneira: por meio da atuação da Palavra de Deus e do Espírito Santo, nossas almas (entendimento e sentimentos) são transformadas para se assemelharem à mente de Cristo.

É necessário obedecermos a palavra de Deus, pela fé, de forma que, na medida em que agimos segundo as Escrituras, estas vão se incorporando à nossa vida, se tornando parte de nós.

De sorte que, meus amados, assim como sempre obedecestes, não só na minha presença, mas muito mais agora na minha ausência, assim também operai a vossa salvação com temor e tremor; (Filipenses 2:12)

Por mais que a nossa salvação já tenha sido completada em espírito – pois nossos espíritos já foram aperfeiçoados (Hebreus 12:23) –, será necessário trabalhar esta salvação no nível do nosso intelecto e dos nossos hábitos, ou seja, na alma e no corpo.

Por meio da Sua Palavra, Deus vai colocando em nós a Sua Vontade, de forma que isso nos impulsiona a buscar a santidade em nossas vidas diárias.

Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade. (Filipenses 2:13)

É importante entendermos que o fato de Deus ser aquele que opera em nós o “querer e o efetuar” não quer dizer que Ele force Sua vontade em nós, como se fôssemos meros autômatos. A natureza do amor divino não é manipuladora. O Senhor envia a Sua Palavra, e cabe ao homem sujeitar-se a ela.

Em certa ocasião, Jesus fez um lamento sobre Jerusalém afirmando que, muitas vezes, Ele quis “ajuntar os teus filhos, como a galinha os seus pintos debaixo das asas, e não quiseste (Lucas 13:34). Ora, se conhecemos a História, sabemos que Jerusalém foi destruída diversas vezes por conta do pecado do povo. Isso mostra que a vontade do povo foi feita, ao invés da vontade de Deus, ainda que eles não quisessem esse resultado de forma específica, mas, ao desobedecerem os mandamentos, sofreram terríveis consequências, das quais Deus queria guardá-los.

Irrepreensíveis e sinceros

O objetivo do mandamento é exatamente produzir em nós um caráter semelhante ao de Cristo. As acusações feitas ao apóstolo Paulo, de que ele aprovava o pecado, eram apenas ataques dos inimigos do evangelho, movidos por falta de entendimento.

Observe que se o povo de Deus não andar de forma irrepreensível, o mundo não vai poder nem ao menos ser salvo, porque ninguém verá o Senhor em nós. Vejamos a passagem que dá título a esta postagem:

Para que sejais irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis, no meio de uma geração corrompida e perversa, entre a qual resplandeceis como astros no mundo; (Filipenses 2:15)

O pecado corrompeu a humanidade, tornando os homens perversos. O evangelho foi dado exatamente para nos salvar dos nossos pecados. Deus, através de Cristo, nos purifica de toda maldade, removendo o pecado que há em nós, isto é, a natureza caída. Agora, com uma nova natureza interior, podemos viver a vida de santidade, que a Lei de Moisés não conseguiu produzir.

Embora a salvação não seja concedida por causa de nossas obras de justiça, ela deverá produzir em nós esse tipo de obra. Ou seja, os atos de justiça não causam a nossa salvação, mas são decorrentes desta. Outra forma de dizer isso é a seguinte: as obras não produzem fé, mas a fé verdadeira produz obras de justiça.

De fato, quando manifestamos em nossas vidas os princípios do Reino, está sendo emitida uma luz espiritual, mas, para que a nossa luz brilhe no mundo, é necessário que nossas ações sejam puras, santas, irrepreensíveis, de forma a que o mundo seja “iluminado”.

O problema acontece quando nós, que deveríamos andar em perfeição, somos achados praticando atos pervertidos, pecaminosos. Assim, nosso testemunho é destruído, e nos tornamos como aquele “sal que perde o seu gosto”, tornando-se insípido (Mateus 5:13).

Retendo a Palavra da Vida

A verdadeira vida está em Deus, pois Ele é o Autor dela. Portanto, somente Ele pode nos orientar acerca de como podemos experimentar essa vida. Além disso, a vida verdadeira procede do próprio Deus, não é apenas um conceito, mas uma força. Esta vida é comunicada por Deus, para nós, através de Sua Palavra:
Retendo a palavra da vida, para que no dia de Cristo possa gloriar-me de não ter corrido nem trabalhado em vão. (Filipenses 2:16)

A Palavra de Deus precisa estar em nosso coração, para que dê fruto de justiça, assim como uma semente precisa estar dentro do solo, a fim de que a planta se desenvolva e produza. Essa coisa de reter uma palavra dentro do coração é desafiadora, principalmente nos tempos modernos, onde as palavras estão descartáveis.

Quando eu viajava para o interior aqui do meu estado, tive a companhia de uma tia avó, que me contou como as coisas aconteciam quando ela era criança. Eles não tinham rádio ou TV, e a programação da família, ao final de um dia de trabalho, era se reunir em frente ao sítio onde moravam e ouvir os mais velhos contarem histórias.

Como até os mais velhos não tinham tantas histórias assim pra contar, os mesmos casos eram repetidos muitas vezes. Até hoje, já idosa, ela lembra das histórias contadas. Elas ficaram em seu coração.

Hoje em dia, a multiplicação do conhecimento – com uma inundação de informações em formato de áudios e vídeos, além dos textos –, faz com que não tenhamos mais condições de reter alguma coisa no coração por muito tempo. E assim a igreja sofre, porque as pessoas não sabem mais meditar nas Escrituras de dia e de noite, já que aquilo que você lê pela manhã é completamente engolido pelos vídeos que assiste ao longo do dia.


A Academia Americana de Psiquiatria de Crianças e Adolescentes, em um artigo, revela que uma criança entre 8 e 12 anos, em média, nos EUA, gasta de 4 a 6 horas no dia assistindo ou usando telas. Já com os adolescentes, esse tempo chega a 9 horas [1]. Veja que é um período de tempo superior a uma jornada padrão de trabalho.

O artigo também traz algumas das consequências dessa super exposição às telas, incluindo:

  • Baixo rendimento escolar
  • Menos leitura de livros

O estudo não fala especificamente sobre a Bíblia, mas, a partir do seu resultado, podemos inferir que pessoas muito expostas à diversidade de conhecimentos obtidos nos mais diversos tipos de mídia, certamente lerão menos as Escrituras e, quando lerem, terão dificuldade em reter a Palavra em seu coração, que estará completamente tomado pelas informações acessadas diariamente.

Para sermos santificados pela Palavra, é preciso que ela entre em nosso coração, nele permaneça e crie raízes. Isso vai nos distinguir dos cristãos carnais. A igreja do Senhor, em toda sua história, foi perseguida e atacada. Como cristãos, devemos mostrar a nossa fé por meio das obras, ou seja, devemos fazer com que o mundo conheça que somos de Cristo, por meio do que fazemos, embora não seja por meio de tais obras que obtemos a salvação.

Vivam entre os pagãos de maneira exemplar para que, naquilo em que eles os acusam de praticarem o mal, observem as boas obras que vocês praticam e glorifiquem a Deus no dia da sua intervenção.

1 Pedro 2:12
Vivam entre os pagãos de maneira exemplar para que, naquilo em que eles os acusam de praticarem o mal, observem as boas obras que vocês praticam e glorifiquem a Deus no dia da sua intervenção.

1 Pedro 2:12
Vivam entre os pagãos de maneira exemplar para que, naquilo em que eles os acusam de praticarem o mal, observem as boas obras que vocês praticam e glorifiquem a Deus no dia da sua intervenção.

1 Pedro 2:12

E só teremos condições de dar frutos de fé se a Palavra do Senhor estiver, verdadeiramente, em nosso coração, sendo as nossas ações um reflexo disso.

Conclusão

O Espírito Santo, através do livro de Filipenses, nos exorta a termos uma vida de santidade, a fim de que o evangelho seja pregado a todos, por meio de um caráter irrepreensível, sincero e inculpável. Nossas atitudes falarão, mesmo quando não estamos explicitamente pregando a Bíblia.

Ralph Waldo Emerson, um famoso escritor, filósofo e poeta estadunidense, falecido em 1882, disse o seguinte, em um ensaio intitulado “Social Aims” (Alvos Sociais):

“Não diga coisas. O que você é se sobrepõe a você nesse momento e troveja de forma que não consigo ouvir o que você diz de forma contrária.” (Letters and Social Aims, 1875)

Posteriormente, a frase foi simplificada para “o que você é fala tão alto que não consigo ouvir o que você está dizendo”, mas carregando o mesmo sentido.

A Igreja do Senhor, o povo de Deus, foi chamada para ser luz através de nossas obras de amor e justiça. Procure trabalhar a sua salvação, a fim de atingir esse objetivo.

Que a paz de Cristo domine em seu coração. Amém.

Wendell Costa


Referências

[1] https://www.aacap.org/AACAP/Families_and_Youth/Facts_for_Families/FFF-Guide/Children-And-Watching-TV-054.aspx

quinta-feira, 4 de agosto de 2022

O mesmo amor, o mesmo ânimo, sentindo uma mesma coisa

Um dos maiores desafios da Igreja do Senhor é alcançar unidade na fé. Esta unidade é essencial para que o povo de Deus seja bem sucedido no propósito de representar Cristo na Terra, da forma correta, pois Jesus falou que as pessoas reconheceriam Seus discípulos apenas quando estes se amassem uns aos outros. Veja só:

Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros. (João 13:35)

Se não andarmos em amor – a Deus e aos irmãos –, não teremos a motivação correta para vivermos em unidade, pois, para tal, é necessário abrir mão de algumas de nossas vontades, a fim de andarmos em unidade de fé.

Além disso, a bênção de Deus só é derramada quando há união entre o Seu povo. Por exemplo, o Salmo 133 diz que é “bom e agradável” (diante de Deus) que os irmãos convivam em “união”. Esta mesma palavra foi traduzida como unidade na Bíblia do Rei Tiago (King James), neste mesmo versículo.

Isso nos ensina que viver em unidade não é algo opcional, mas fundamental para a Igreja atingir seus propósitos. De fato, quando há divisões e contendas entre os irmãos, o nosso inimigo, o diabo, encontrará lugar para promover todo tipo de obra maligna.


Portar-se dignamente do evangelho

Há alguns anos, uma colega de trabalho visitou, com o seu marido, a Tchecoslováquia. Já tarde da noite, quando voltavam de um restaurante rumo ao hotel onde estavam hospedados, eles resolveram atravessar a rua, na faixa de pedestres, quando o sinal estava vermelho para eles (e verde para os carros). Eles julgaram que não haveria problemas, porque não havia trânsito de carros naquele exato momento. Se estivessem no Brasil, isso não teria dado problema algum, mas não estavam... 

Pouco tempo após terem cruzado a faixa de pedestres, um carro da polícia local os alcançou e os policiais os abordaram. Isso os deixou aterrorizados, pois os policiais rapidamente saíram da viatura e questionaram, em tcheco, porque eles haviam cruzado a faixa, estando o sinal vermelho para pedestres.

Bastante assustados, eles tentaram responder, em inglês, pois não falavam tcheco, explicando que eram estrangeiros e não sabiam que deveriam ter aguardado o sinal ficar verde para os pedestres, mesmo quando não havia tráfego de veículos. Por muito pouco, escaparam de ser presos. Mostraram os passaportes e vistos e, após terem sido repreendidos pelos policiais, foram liberados.

Quando se está em outro país, é necessário andar de forma “digna”, ou seja, de acordo com as leis e cultura daquele país. Se você estiver no exterior e tentar agir como se estivesse no Brasil, poderá ter problemas bem sérios.

Pois bem, quando aceitamos Cristo como nosso Senhor, nós passamos a fazer parte de um outro país, mais especificamente, de um reino: o Reino de Deus. Este Reino, assim como qualquer país do mundo, possui leis e cultura característicos. Vejamos o que o apóstolo Paulo orienta com relação a isso:

Somente deveis portar-vos dignamente conforme o evangelho de Cristo, para que, quer vá e vos veja, quer esteja ausente, ouça acerca de vós que estais num mesmo espírito, combatendo juntamente com o mesmo ânimo pela fé do evangelho. (Filipenses 1:27)

O termo aqui traduzido por "portar-se", originalmente, é o verbo grego πολιτεύομαι (politeúomai), que vem da palavra πολίτης (polítes), que quer dizer "cidadão". As duas palavras têm origem na palavra grega πόλις (pólis), que quer dizer "cidade".

Literalmente, então, este verbo "portar-se" quer dizer "ser/agir como um cidadão". Portanto, as Escrituras estão nos ensinando como devemos agir dignamente enquanto cidadãos do Reino de Deus. Assim como ocorreu com aquela minha colega de trabalho, que, estando em outro país, agiu como se estivesse no Brasil, e sofreu consequências, assim também o povo de Deus sofre muito, por não agirem de forma digna da cidadania que receberam no Reino.


Unidade: cultura do Reino

A cultura da unidade é característica do Reino de Deus e, portanto, precisamos aprender a viver em unidade. Não podemos esperar que o Céu se adapte a nós, mas nós é que precisamos nos adequar ao Reino, de forma a nos portarmos (como cidadãos) de forma digna.

Continuando a nossa meditação no verso citado anteriormente – Filipenses 1:27 –, nós perceberemos que precisamos estar "num mesmo espírito". Mas o que isso significa?

Para entendermos a importância da unidade, precisamos entender o que acontece quando somos salvos.

Ora, no momento da nossa conversão, ocorre uma ação sobrenatural, pois somos inseridos em Cristo, pelo Pai, através do Espírito Santo. Agora formamos uma unidade, chamada, na Bíblia, de o "Corpo de Cristo", que é a Igreja. Nos tornamos membros uns dos outros. Veja só:

Assim nós, que somos muitos, somos um só corpo em Cristo, mas individualmente somos membros uns dos outros. (Romanos 12:5)

Por isso deixai a mentira, e falai a verdade cada um com o seu próximo; porque somos membros uns dos outros. (Efésios 4:25)

Para que não haja divisão no corpo, mas antes tenham os membros igual cuidado uns dos outros. (1 Coríntios 12:25)

Pois bem, estes são apenas alguns versículos que tratam da unidade da igreja e que explicam que, sob a ótica de Deus, formamos um só corpo, ligados espiritualmente uns aos outros. Deus nos vê como uma grande família, onde Ele é o nosso Pai, e todos nós somos irmãos. Quando a família de Deus não opera em unidade está descaracterizando a sua imagem divina, recebida de Cristo.

Estar em um só espírito significa agir com base nessa realidade espiritual, onde estamos ligados, em espírito, uns com os outros, formando um único corpo.


Quebrando a unidade

Existem alguns inimigos da unidade. Sentimentos como inveja e competição são alguns dos seus destruidores. Em algumas traduções mais eruditas da Bíblia, encontramos palavras mais difíceis, tais como: emulação (incitação, competição), porfia (disputa, contenda), etc. Em todos os casos, existe um sentimento faccioso, que impulsiona o indivíduo à quebra da unidade, provocando divisão no Corpo de Cristo.

Sempre que ocorre essa quebra de unidade, abre-se a brecha para que Satanás aja dentro da igreja. Veja o que alerta Tiago em sua epístola:

Mas, se tendes amarga inveja, e sentimento faccioso em vosso coração, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade.
Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica.
Porque onde há inveja e espírito faccioso aí há perturbação e toda a obra perversa.
(Tiago 3:14-16)

Muitos cristãos não reconhecem isso, mas quando dão lugar às divisões dentro do Corpo de Cristo, estão cedendo à inspiração demoníaca. A consequência será destruidora, porque onde Satanás consegue brecha para agir, ele trará todo o tipo de perturbação e obras malignas e perversas na vida das pessoas da congregação.

Alguns até dão desculpas para a sua carnalidade, falando coisas do tipo "sou assim desde criança", "é o meu temperamento", "minha família é assim", etc. Ora, não importa qual seja a desculpa dada, pois a Palavra de Deus é a Verdade, e nada podemos contra ela. Não é papel de um filho de Deus contradizer a Palavra do Senhor, seja qual for o argumento, mas sim se submeter a ela, ainda que isso custe a sua própria vida.


Como manter a unidade

No capítulo 2, da epístola aos filipenses, Deus nos dá as orientações sobre como podemos manter a unidade da igreja. Vejamos os versos:

Portanto, se há algum conforto em Cristo, se alguma consolação de amor, se alguma comunhão no Espírito, se alguns entranháveis afetos e compaixões,
Completai o meu gozo, para que sintais o mesmo, tendo o mesmo amor, o mesmo ânimo, sentindo uma mesma coisa.
Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo.
Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros.
De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus...
(Filipenses 2:1-5)

Antes de mais nada Deus, nos mostra, através do apóstolo Paulo, que Ele se alegra quando o Seu povo está operando em unidade e vencendo as divisões, pois quando Paulo fala que a igreja “completaria o seu gozo”, ele está aqui revelando o coração de Cristo. Ou seja, alegramos o coração de Deus quando andamos em unidade.

É muito importante entender que Deus ama a unidade e trabalha arduamente para mantê-la. Veja só o que está escrito em Provérbios: 

Estas seis coisas o Senhor odeia, e a sétima a sua alma abomina:
Olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente,
O coração que maquina pensamentos perversos, pés que se apressam a correr para o mal,
A testemunha falsa que profere mentiras, e o que semeia contendas entre irmãos
(Provérbios 6:16-19)

Assim sendo, haverá um juízo sobre todo aquele que semeia discórdia entre os irmãos, ou seja, a ira divina virá sobre aqueles que promovem a quebra da unidade do corpo de Cristo, tendo em vista que é algo que Deus abomina.


Movidos por humildade 

Logo depois de falar estas coisas, o Espírito Santo nos orienta a nada a fazer movidos por contenda ou vanglória, mas por humildade.

Para sermos movidos por humildade, precisamos entender que as nossas vidas foram resgatadas de uma vã maneira de viver, com o fim de darmos louvor e glória a Deus, assim como está escrito em Filipenses 1:11. Tudo o que somos, falamos, fazemos precisa exaltar a Cristo e a Deus, caso contrário será em vão.

Imagine alguém que passa o mês trabalhando arduamente, e quando vai receber o seu salário, ao final do mês, é assaltado e tem todo o dinheiro roubado. Os sentimentos de frustração e tristeza, além da preocupação com suas contas, certamente vai encher seu coração, pois tal pessoa terá a sensação que trabalhou tanto, porém em vão.

Da mesma maneira, se sua vida não dá honra a Deus, tudo o que você faz será em vão. Assim, é fundamental ter uma atitude de humildade, principalmente no trato com as pessoas. A orientação do apóstolo é que “cada um considere os outros superiores a si mesmo”.

Quando você vai tratar com um superior hierárquico, geralmente é bem mais cuidadoso com as palavras e atitudes que terá, pois está ciente de que poderá sofrer prejuízo, caso o superior se sinta ofendido. Desta forma, devemos considerar nossos irmãos como se fossem "superiores hierárquicos", de forma a lembrarmos de tratar a todos com amor e respeito, a fim de preservar a unidade da família de Deus.


Cuidar dos outros

Um outro grande inimigo da unidade é o egoísmo (ou egocentrismo). A palavra “ego” tem origem no grego, pois significa o pronome “eu”. Egoísmo é a “atitude daquele que busca o próprio interesse, acima dos interesses dos demais”

Quando nós colocamos os nossos próprios interesses acima dos interesses dos outros, estamos agindo de forma egoísta e, fatalmente, isso se refletirá na unidade do corpo. A vida em família ou em comunidade requer uma atitude altruísta, que é o contrário da atitude egoísta. Altruísmo pode ser definido como “amor espontâneo pelo próximo” (Dicionário Michaelis). 

“Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros” mostra que nossa vida não deve ser vivida apenas para nosso próprio deleite, mas para que a coletividade também desfrute do mesmo bem que Deus tem para todos.

Lembremos que o maior mandamento da Lei não é apenas “amar a Deus sobre todas as coisas”, mas existe o segundo maior mandamento de “amar ao próximo como a si mesmo”, e que estes dois estão conectados, assim como Cristo explicou em Mateus 22:39. Inclusive, quando refletimos sobre estes dois maiores mandamentos da Lei, perceberemos que Jesus os colocou em pé de igualdade, apenas observando que o primeiro é o amor a Deus, mas que logo em seguida, viria o amor ao nosso próximo.

E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento.
E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.
Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.
(Mateus 22:37-40)

Observe que destes dois mandamentos (não apenas do primeiro) dependem TODA A LEI E OS PROFETAS. Não se consegue amar a Deus, deixando de amar ao nosso irmão. Não se consegue agradar a Deus se não atentarmos para o amor ao próximo.

Uma das características do amor é exatamente que ele “não busca os seus próprios interesses”, portanto a unidade da Igreja é baseada no amor e na busca pelos interesses dos outros. Obviamente, tudo isso precisa ser feito de acordo com a vontade santa de Deus. Não estamos falando aqui em agradar aos homens e seus desejos carnais.


Conclusão

Com o fim de mantermos a unidade na Igreja, é necessário empreendermos esforços no sentido de, humildemente, nos sujeitarmos uns aos outros em amor, considerando os outros como sendo superiores a nós mesmos, a fim de não quebrarmos a unidade. Lembre-se que você não é o centro do universo, que o mundo não gira em torno de você.

Existem coisas mais importantes do que os seus próprios desejos egoístas. Além disso, a bênção de Deus só se manifesta quando o Seu povo está em um só espírito e alma. A Igreja tem uma missão a cumprir, que é refletir a glória de Cristo, mostrando ao mundo as virtudes de Deus. Não temos condições de cumprir este importante chamado se vivermos em contendas e divisões.

Muitas vezes, é preferível calar-se e “engolir muitos sapos”, a fim de evitar ferir e magoar os irmãos. O andar em unidade requer sacrifício, mas traz grande recompensa.

Que a graça do nosso Senhor e Rei Jesus seja com a sua vida. Amém.

Pr. Wendell Costa

quarta-feira, 27 de abril de 2022

O mesmo sentimento que houve em Cristo

Na cerimônia conhecida como "lava pés", Jesus faz um serviço
que era atribuído ao escravo menos importante de uma casa.


De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, q
ue, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz. (Filipenses 2:5-8)

É impressionante o mandamento que Deus nos dá em Filipenses 2:5, ao nos orientar que devemos ter "o mesmo sentimento que houve em Jesus Cristo". Mesmo sendo Filho, Cristo se faz um servo, a fim de nos salvar por meio do Seu sacrifício na cruz.

Sendo dono de tudo, se torna como uma de Suas criaturas e passa por todo o sofrimento de estar neste mundo caído, sendo criticado, resistido, perseguido, traído, cuspido, torturado, humilhado e morto, de forma maligna e covarde. Mas tudo isso Ele passou para que eu e você pudéssemos ter o que Ele tinha por natureza: a filiação divina.

Contudo, ter este mesmo sentimento, que movia Jesus, não é algo que simplesmente surge automaticamente em nossos corações. É algo que precisa ser desenvolvido! De fato, tendo em vista que somos novas criaturas, nós já temos a natureza divina em espírito, apesar disso, precisaremos desenvolver esta natureza em nossas almas.


A vida de um escravo

Sendo filho, Jesus toma a "forma de servo", a fim de assumir a culpa do homem. Mas, o que, realmente, significa ser um "servo"? 

Bem, a palavra aqui traduzida como "servo" é a conhecida palavra grega δοῦλος (dulos), que significa escravo. Ora, no mundo de hoje, em especial aqui no Brasil, nós não sabemos como é a vida de um escravo, pois a escravidão já foi banida da sociedade atual, sendo considerado um crime manter alguém na condição de escravo. Nossos antepassados, contudo, sabiam muito bem como era a vida de um escravo.

A escravidão fez parte da história humana durante muito tempo, por causa do pecado que entrou no mundo. Ao longo da história, nações vencidas em guerras eram escravizadas e, gradativamente, a escravidão tornou-se a principal forma de se obter trabalhadores para os serviços em geral, principalmente aquelas tarefas mais duras.

Além da palavra δοῦλος (dulos) – escravo, existem outras palavras derivadas que são muito usadas nas Escrituras em grego:

  • δουλεία (duléia) - escravidão
  • δουλεύω (duleúo) - servir (como um escravo)

Estas palavras são bastante comuns nos textos do Novo Testamento e da Septuaginta (Velho Testamento grego). Vejamos algumas passagens:

Ninguém pode servir [δουλεύω-duleúo] a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir [δουλεύω-duleúo] a Deus e a Mamom. (Mateus 6:24)

Não é esta a palavra que te falamos no Egito, dizendo: Deixa-nos, que sirvamos [δουλεύω-duleúo] aos egípcios? Pois que melhor nos fora servir [δουλεύω-duleúo] aos egípcios, do que morrermos no deserto. (Êxodo 14:12)

O que se entende por alegoria; porque estas são as duas alianças; uma, do monte Sinai, gerando filhos para a servidão [δουλεία-duléia], que é Agar. (Gálatas 4:24)

Pois bem, acredito que as características da vida de um escravo mudaram ao longo das eras, mas como o livro de Filipenses foi escrito no auge do Império Romano, vamos focar na forma como acontecia a escravidão naquele período.

A vida de um escravo não era nada fácil, pois eles tinham muitos deveres, mas poucos direitos, se é que tinham algum. Vejamos algumas características: 

  • O escravo era considerado propriedade do seu senhor. Portanto, fazia parte de seus bens, não era alguém que tivesse vontade própria.
  • Não havia direito à aposentadoria, o escravo trabalhava, literalmente, até morrer. Por causa disso, a vida de um escravo era curta, devido ao muito trabalho e pouco descanso.
  • Os escravos atuavam em praticamente todas as áreas da sociedade romana, sendo que os mais valorizados eram os gladiadores. O local mais difícil para trabalhar como escravo eram as minas romanas. Mas os escravos que trabalhavam nas plantações também tinham um trabalho muito duro.
  • As mulheres escravas geralmente trabalhavam nas tarefas domésticas, mas havia algumas mais habilidosas que trabalhavam como maquiadoras e cabeleireiras. Havia também as que trabalhavam em pequenas fábricas, fazendo artesanato e joias.
  • As crianças eram o tipo de escravo mais valorizado, tendo em vista que tinham toda uma vida pela frente, para trabalharem para seus senhores.
  • Qualquer desobediência de um escravo poderia lhe render graves surras. Se um escravo matasse o seu senhor, normalmente todos os escravos da casa morreriam como punição.
  • Existiam bons senhores, que tratavam seus escravos com mais dignidade, mas o contrário também era comum. Se o escravo tivesse a sorte de ter um bom senhor, este poderia até mesmo libertar esse escravo no futuro, algo que, de fato, acontecia.
  • Na cidade de Pompeia, por exemplo, uma casa possuía, em média, cerca de 7 escravos. Chegou a um ponto em que, no Império Romano, 1 em cada 5 habitantes era escravo. Li, certa vez, em um livro de grego, que na cidade de Atenas (na Grécia antiga),  houve um momento em que,  para cada cidadão livre, havia 2 escravos.
  • Nesse período, possuir escravos era algo tão comum como  ter empregados, nos dias de hoje. Portanto, não era algo considerado "injusto" pela sociedade da época. Quanto mais escravos alguém possuía, mais status tinha na sociedade.
Quando lemos acerca da vida de um escravo, chegamos ao entendimento de que se resumia a uma palavra: trabalho! A vida de um escravo tinha apenas o propósito de trabalhar. Ninguém comprava um escravo e o mantinha para que este pudesse se divertir ou ficar ocioso, mas para que o escravo rendesse ao seu senhor bastante trabalho.

Assim, é importante compreendermos que Jesus se tornou um servo, ou seja, um escravo, a fim de trabalhar para cumprir a obra do Pai. Podemos resumir esta obra da seguinte forma: Cristo se torna um homem, vive uma vida humana normal, depois começa a evangelizar e preparar a igreja inicial, Ele se oferece em sacrifício pelos nossos pecados e ressuscita, a fim de nos justificar. 

Após isso, Jesus se assenta à direita do trono da majestade nas alturas e vive para interceder, ou seja, Jesus não está ocioso no trono, Ele continua trabalhando por nós.
Bem como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos. (Mateus 20:28)
Desta vez, a palavra original grega usada no verso acima não é a duleo, anteriormente estudada, mas 
uma outra palavra bem conhecida que é:
  • διακονέω (diakoneo) - servir, originada da palavra diaconia (serviço). De onde tiramos a tão conhecida palavra "diácono", que são aqueles que servem na igreja nos serviços gerais.
É muito interessante observar que o propósito da vida do próprio Cristo era servir! Jesus serviu a Deus Pai servindo aos homens, ensinando-os e oferecendo-se a Si mesmo como um sacrifício. Este foi, certamente, o trabalho mais importante que já foi atribuído alguém. Somos extremamente gratos a Jesus por ter nos servido daquela maneira, morrendo em nosso lugar.

Agora, nós, que somos salvos por Cristo, devemos também dar as nossas vidas em oferta a Deus Pai, para servi-lo da mesma maneira que Jesus fez. Nossas vidas foram vivificadas por Deus, para que pudéssemos ser instrumentos dele para vivificar outros, que hoje estão mortos em seus pecados.
Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte;
Nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador, e dá luz a todos que estão na casa. (Mateus 5:14,15)
Sabemos que a Palavra de Deus é uma luz imensa, contudo, neste mundo, esta luz precisa brilhar através das nossas vidas, para que as pessoas vejam as nossas obras justas e possam se arrepender de seus pecados, vindo até Cristo, para serem salvas.

Em uma sociedade onde todos buscam os seus direitos, mas não se preocupam muito com os seus deveres, a palavra dita pelo apóstolo Paulo vai na contramão dessa mentalidade egoísta, mostrando qual deve ser a nossa expectativa e sentimento enquanto estamos aqui neste mundo:

Mas de nada faço questão, nem tenho a minha vida por preciosa, contanto que cumpra com alegria a minha carreira, e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus. (Atos 20:24)

Este é o verdadeiro sentimento de um servo! O apóstolo sabia muito bem o que lhe esperava adiante, quando fosse para Jerusalém, mas, categoricamente, afirma que não fazia questão de nada. Como isso é diferente da mentalidade atual!

Vivemos hoje no império do "eu", onde tudo o que importa é a mim mesmo, minha imagem, meus bens, minha família etc. "Porque todos buscam o que é seu, e não o que é de Cristo Jesus." (Filipenses 2:21). Mas vamos, agora, aprender que, no Reino de Deus, as prioridades são diferentes.


A ordem correta no reino de Deus

As leis que regem o reino de Deus existem antes mesmo dos reinos dos homens, são leis eternas, imutáveis. Assim, para um cidadão do Reino de Deus, é necessário que ele aprenda como funcionam essas leis. Algo muito importante que Jesus ensinou foi sobre como funciona a questão da autoridade dentro do Reino de Deus.

O caminho para que você suba no Reino é praticamente o inverso do que ocorre no mundo. Aquele que quer ser o maior no reino dos céus deve ser o menor aqui na terra e servo de todos (Marcos 10:44).

É importante esclarecer, contudo, que não servimos às pessoas de uma forma aleatória, mas sim orientada e determinada pelo Senhor Jesus. Alguém pode achar que ser servo de todos é sempre atender aos desejos das pessoas, o que não é verdade. Jesus não obedecia às pessoas embora estivesse aqui para servir.

Sim, nós servimos as pessoas, mas tudo conforme a vontade de Deus. Cada um de nós deve atender ao seu chamado, chamado este que está ligado à Grande Comissão deixada por Cristo. Como servos, precisamos atender ao chamado de Deus para servir aos homens, mas tudo de acordo com a vontade d'Ele.

O serviço para o qual somos chamados não é para nossa própria glória e exaltação, mas para a salvação dos homens e para glória e louvor de Deus. É importante entendermos que, mesmo quando servirmos bem ao Senhor, isso não nos dá garantia alguma que as pessoas vão nos dar tapinhas nas costas e nos elogiar. Pelo contrário, pois a Palavra de Deus nos adverte que os que vivem piedosamente sofrem perseguição (2 Timóteo 3:12), mas que você deve servir procurando agradar unicamente aquele que lhe chamou.

Um dos principais motivos pelos quais o apóstolo Paulo se sentia livre, mesmo estando preso, era que ele não tinha expectativa das pessoas, mas tinha consciência de que era um escravo de Jesus Cristo e procurava agradar unicamente ao seu Senhor.


Nossa recompensa vem do nosso Senhor

Como mostrado anteriormente, os escravos que tinham bons senhores eram beneficiados, pois estes poderiam até mesmo libertar seus escravos, depois de algum tempo. Nós, como servos de Jesus Cristo, podemos dizer que temos o melhor senhor de todos! Ele não apenas é nosso Senhor, mas também é nosso irmão e se tornou servo, assim como nós precisamos ser. Jesus é o nosso maior exemplo de alguém que se torna um escravo, por amor a Deus e aos homens.

Pois, assim como Cristo recebeu uma recompensa eterna do Pai, também nós teremos nosso galardão eterno, prometido por Deus, por nossos bons préstimos para a obra de salvação.

Um escravo deve olhar para o seu senhor como fonte de obediência e também de recompensa. Deus é recompensador daqueles que o buscam e, portanto, nós devemos ter a certeza de que Ele há de nos recompensar pelas nossas obras e por nosso serviço aos santos.

Porque Deus não é injusto para se esquecer da vossa obra, e do trabalho do amor que para com o seu nome mostrastes, enquanto servistes aos santos; e ainda servis. (Hebreus 6:10)

Servir a Deus significa servir aos homens, em especial servir aos santos do Senhor. Jesus nos ensinou que até um copo de água, servido a algum discípulo, terá o seu galardão! (Mateus 10:42)

Pr. Wendell Costa

segunda-feira, 21 de março de 2022

O Desejo de Partir e Estar com Cristo


Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de partir e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor.
(Filipenses 1:23)

Estando preso e com grande probabilidade de ser morto ao chegar em Roma, o apóstolo Paulo faz uma impressionante afirmação em sua carta aos Filipenses: o seu principal desejo era, de fato, morrer!

Não, não é que Paulo amasse a morte – ou que fosse suicida ou algo do gênero –, mas, sim, que ele sabia que a morte física seria seu "passaporte" para o Paraíso, algo que, com toda certeza, seria bem melhor que a vida neste mundo caído.

Esta frase do apóstolo nos confronta com uma realidade bem forte hoje, que é a falta da convicção da vida eterna, convicção esta que muitos cristãos ainda não têm.

Cristo veio para nos dar vida eterna 

Uma das principais coisas que o cristão precisa ter é a certeza da vida eterna, pois foi exatamente para isto que Cristo veio ao mundo:

E esta é a promessa que ele nos fez: a vida eterna. (1 João 2:25)

Aquele que crê no Filho tem a vida eterna, mas aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece. (João 3:36)

Observe que, neste último versículo, a Escritura afirma que, quem tem Cristo, já tem, no tempo presente, a vida eterna. A vida eterna não é algo que teremos apenas no futuro, mas é algo que temos no presente, por estarmos espiritualmente ligados a Cristo.

Para compreendermos melhor essa questão, é fundamental entendermos que o ser humano é um ser espiritual e que espíritos não morrem, pelo menos não no sentido que conhecemos.


Espírito, alma e corpo

Deus nos criou como seres capazes de interagir com o mundo espiritual e material ao mesmo tempo. Para isso, fomos dotados de uma parte espiritual (o espírito, que pertence ao mundo espiritual), uma parte material (o corpo, que pertence ao mundo material), ambos conectados por uma parte mental, a qual conhecemos como "alma", que permite que, através do conhecimento, possamos interagir com estes dois mundos: o espiritual e o físico.


Um estudo mais aprofundado sobre este tema não caberia nesta postagem, mas aqui, neste mesmo blog, temos um estudo completo sobre a temática de "espírito, alma e corpo". Além disso, temos também, no canal do Águios, um estudo completo em vídeo. Colocarei aqui os links respectivos:

Texto: Espírito, alma e corpo - parte 1: Os Dois Mundos

Playlist YouTube sobre "espírito, alma e corpo"

Agora, vamos entender um pouco sobre essa questão da composição do ser humano, sob a ótica bíblica. O texto base para o entendimento desta temática encontra-se na epístola aos Tessalonicenses:

E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. (1 Tessalonicenses 5:23)

Através desse texto, o apóstolo Paulo declara um mandamento e uma benção sobre a igreja, para que a plenitude de nosso ser seja santificada, e, então, ele cita as três partes do ser humano.


A queda do homem

O livro de Gênesis, em seus capítulos 2 e 3, relata a advertência do Senhor Deus sobre a árvore do conhecimento do bem e do mal, a qual o homem não deveria comer. Caso este escolhesse comer dessa árvore de conhecimento, naquele mesmo dia, morreria:

E ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda a árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás. (Gênesis 2:16,17)

No entanto, quando a mulher foi tentada, a serpente afirmou que ela "certamente não morreria" (Gênesis 3:4). E, de fato, ao provar do fruto da árvore, percebemos que o casal não morreu. Estaria Deus mentindo? Será que a serpente falou a verdade, enquanto que o que Deus falou era apenas figurado?

A resposta desta questão está no fato de que o homem é composto de uma parte espiritual, a qual Deus se referia quando disse que o homem "morreria" no mesmo dia em que desobedecesse. Ocorre que, no mundo espiritual, morte não significa o fim da existência, mas, na verdade, uma separação eterna de Deus.

Veja, por exemplo, o caso dos anjos que pecaram (2 Pedro 2:4): Eles foram separados de Deus eternamente, mas continuaram existindo e agindo nos homens. O que também nos mostra que mesmo quando um espírito está separado de Deus, ele tem consciência e consegue agir, dentro de certos limites.

Ora, o espírito humano é igual a qualquer outro espírito, ou seja, possui as mesmas características que os demais espíritos possuem. Não há base bíblica para acreditarmos que o espírito humano é diferente dos outros, ou seja, que ele findaria, ao ser separado de Deus. De fato, se o espírito humano findasse ao pecar, Adão e Eva teriam cessado de existir quando desobedeceram.

A morte de corpo não implica na cessação do espírito, pois são partes separadas. Um corpo pode existir sem um espírito e vice versa.

A salvação é primeiramente do espírito

Quando Cristo foi indagado pelo fariseu Nicodemos acerca do novo nascimento, Jesus respondeu o seguinte:

Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus.

O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito.

Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo. (João 3:5-7)

Carne não pode gerar espírito (embora o contrário não seja verdade, já que Deus é espírito e criou tudo). Portanto, ao falar da salvação, Jesus disse que era necessário que houvesse um novo nascimento, mas que seria com relação ao espírito e não à carne.

Jesus também jogou na cara de Nicodemos que ele era um mestre em Israel, mas não estava entendendo sobre o que Jesus falava. Ora, a promessa de dar ao povo um novo espírito estava predita nos profetas, no livro de Ezequiel:

E dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne.

E porei dentro de vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis os meus juízos, e os observeis. (Ezequiel 36:26,27)

Portanto, a nossa salvação é feita, inicialmente, no âmbito espiritual, onde recebemos um novo espírito, nos tornando novas criaturas, conforme dito em 2 Coríntios 5:17.


Nosso Destino: o Paraíso

Quando estava prestes a render o seu espírito, Jesus falou a um dos ladrões que estavam sendo crucificados ao Seu lado:

E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso. (Lucas 23:43)

A palavra Paraíso, no texto original grego, é παράδεισος (parádeisos), que é o mesmo termo utilizado pela versão grega do Velho Testamento – a Septuaginta – para se referir ao jardim do Éden, em Gênesis 2:8. Antes do pecado, o homem desfrutava da eternidade, da paz, da Presença do Senhor, "sem pecado e sem juízo".

O Paraíso se refere ao próprio Reino de Deus: um lugar eterno de perfeição, beleza, santidade, justiça, etc. Um lugar onde não há morte, nem pranto, nem clamor, nem dor.

O próprio apóstolo Paulo experimentou um pouco desse Paraíso, experiência esta que ele cita em 2 Coríntios:

E sei que o tal homem (se no corpo, se fora do corpo, não sei; Deus o sabe) foi arrebatado ao paraíso; e ouviu palavras inefáveis, que ao homem não é lícito falar. (2 Coríntios 12:3,4)

Veja que ele ouviu palavras "inefáveis" (que não se podem expressar), palavras estas que não foram concedidas ao homem falar, talvez até devido às nossas limitações físicas. Se até as palavras não conseguimos expressar, imagine a beleza, esplendor e majestade desse lugar maravilhoso.

Não é de se admirar que Paulo desejasse ir para lá e, por isso, tinha "o desejo de partir e estar com Cristo", pois isso seria ainda muito melhor!

Glórias a Deus para todo o sempre! Porque Ele não nos deixa aqui na Terra sem esperança, mas provê a certeza de que até mesmo a morte física não tem poder de nos destruir. A morte física é apenas uma separação temporária entre o espírito/alma e o corpo. Com a segunda vinda de Jesus, seremos ressuscitados e ganharemos novos corpos gloriosos e eternos.

Saber que permanecemos vivos e conscientes, mesmo com a morte do corpo, é uma das coisas essenciais para que desfrutemos dessa mesma liberdade que o "apóstolo prisioneiro" Paulo nos comunica. Se você não tem certeza disso, fatalmente terá medo da morte e não poderá desfrutar de plena paz diante do mundo mau em que vivemos.

Portanto, se você já recebeu Jesus como o seu Salvador, saiba que você já tem a vida eterna em seu novo espírito. A morte física não pode acabar com a sua existência. Tenha esta certeza e viva em paz!

Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória? (1 Coríntios 15:55)

Que a paz do Senhor Jesus Cristo seja com o seu espírito. Amém.


Wendell Costa


Imagens por Gerd Altmann em Pixabay

A Cidadania Celestial

Se pudesse dar um título ao livro de Filipenses, eu escolheria “aprendendo a mente de Cristo” – ou algo desse tipo –, pois na medida em que ...