quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

Não estejam inquietos por coisa alguma

Imagem 1: a ansiedade tem atingido boa parte da população.

Viver uma vida sem preocupações e inquietações é praticamente uma utopia nos dias de hoje. A não ser que você seja um eremita e viva nas montanhas isoladamente, o mundo que nos cerca nos dá muitas razões para nos preocuparmos, principalmente se nós estivermos muito mergulhados na mídia secular, nos enchendo das más notícias que são despejadas sobre nós diariamente.

No entanto, da mesma maneira que Deus, através do livro de Filipenses, nos orienta a vivermos uma vida de alegria, também traz a impressionante e maravilhosa opção de vivermos uma vida sem preocupações. Não é uma coisa que se consegue automaticamente, mas podemos pôr isso como um alvo para nós.

A passagem bíblica que estudaremos nesta postagem nos orienta sobre o que precisa ser feito, a fim de que não vivamos cheios de inquietações ou preocupações. Vejamos:

“Não estejais inquietos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças.

E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus.” (Filipenses 4:6,7)


O Mal do Século

A preocupação e a ansiedade já fazem parte da vida humana desde que o pecado entrou no mundo. O livro de Gênesis, em seu capítulo 3, descreve o que chamamos de “queda do homem”. Esse trecho das Escrituras revela o que aconteceu após o pecado do primeiro casal, ou seja, quais as consequências dessa desobediência: a serpente passaria a ferir o calcanhar do homem, houve a multiplicação das dores e a dominação do marido sobre a esposa, a terra se tornou maldita e, com dor, o homem obtém dela o seu sustento. Por fim, entra a morte.

Todas essas coisas têm o potencial de trazer muitas preocupações e ansiedade para nós. Mais recentemente, a história fala sobre o “mal do século”. Vejamos uma definição disso, obtida da Wikipédia:

“Mal do século é uma expressão, original de Chateaubriand (em francês: mal du siècle), utilizada como um tópico literário para se referir à crise de crenças e valores desencadeada na Europa no século XIX, comumente no contexto do romantismo. Trata-se de um sentimento de decadência, tédio, desilusão e melancolia, da inutilidade e futilidade da existência, que afetou profundamente os jovens e permeou a literatura da época.” (Wikipédia: verbete “Mal do Século”)

Imagem 2: o mal do século

Tendo em vista que a humanidade ocidental começou a caminhar para a “remoção de Deus” das artes e da ciência, um sentimento de falta de razão para viver começou a tomar corpo, permeando o sentimento de muitos, isso antes da chegada do século XX. A famosa expressão do filósofo prussiano Nietzsche – “Deus está morto” – retrata bem as ideias que começaram a dominar a filosofia.

Mas Deus, através do livro de Filipenses, nos orienta ao correto sentido da vida, que é viver para Cristo, não nos prendendo às coisas deste mundo material caído. Um sentimento de “missão a ser desempenhada” deve nos motivar, de maneira que as tribulações e perseguições que chegam até nós sejam encaradas como obstáculos a serem vencidos e como situações temporárias frente à eternidade que está diante de nós.

Deus nos entrega um propósito, para vivermos por ele, e assim, tendo um sentido para as nossas vidas, já temos o primeiro passo para não vivermos inquietos e preocupados com as coisas deste mundo, pois…

“Tu pois, sofre as aflições, como bom soldado de Jesus Cristo.

Ninguém que milita se embaraça com negócios desta vida, a fim de agradar àquele que o alistou para a guerra.” (2 Timóteo 2:3,4)

Um soldado que está no meio de uma guerra precisa estar concentrado apenas em cumprir sua missão, pois está ali para matar ou morrer, e não deve se preocupar com os problemas da vida civil, caso contrário, não desempenhará bem sua função e as chances de morrer rápido aumentam.


Oração contínua

Bem, tendo estabelecido esse primeiro princípio, passemos a estudar a questão da oração.

Podemos resumir o conceito de oração como sendo, simplesmente, conversar com Deus. No entanto, o trecho de Filipenses que estamos estudando trata especificamente sobre aquela oração de petição, ou seja, quando vamos pedir coisas ao Senhor.

Nesta postagem, não pretendo fazer um estudo exaustivo sobre oração, pois poderia tomar muito tempo e não é o alvo do nosso estudo de Filipenses aprofundar uma única temática. Mas vamos meditar acerca do efeito da oração em nossos corações.

O primeiro ponto, algo importante sobre oração, é que ela deve ser feita de acordo com a vontade de Deus, assim como está escrito na Primeira Epístola do apóstolo João:

“E esta é a confiança que temos nele, que, se pedirmos alguma coisa, segundo a sua vontade, ele nos ouve.” (1 João 5:14)

Ora, praticamente todas as religiões praticam algum tipo de oração, mas sabemos que Deus não responde a maioria dessas preces. Isso quer dizer que não é a oração de si mesma que tem resposta do Senhor, mas apenas aquela oração que fazemos voltada ao Deus verdadeiro, Pai do nosso Senhor Jesus Cristo, e que é feita de acordo com a vontade d’Ele.

Assim sendo, é fundamental que o cristão conheça a vontade de Deus, através das Escrituras, e desenvolva um relacionamento pessoal com Deus, pois o Pai não é uma mera energia impessoal. Deus é uma pessoa e precisa ser tratado como tal. Qualquer pessoa tem vontades específicas e ficará feliz em poder atender aos outros, quando estes pedem alguma coisa que seja do seu agrado. Assim também, Deus fica feliz em atender nossas orações, quando as fazemos segundo aquilo que Ele mesmo quer operar no mundo.

Outro ponto muito importante acerca da oração é que ela não funciona como “mágica”.

Acredito que você já tenha assistido a shows de mágica e sabe que basta dizer algumas palavras específicas ou balançar a varinha de condão e a mágica acontece diante dos nossos olhos, de forma instantânea. Mas não é assim com a oração.

Por mais paradoxal que seja, muitas pessoas do povo de Deus têm a ideia de que, se Deus quer uma coisa, aquilo vai acontecer de forma instantânea. Ou ainda, se a pessoa tem uma grande fé, a sua oração será respondida de imediato.

Porém, Deus não é um tirano ditador, que age de forma aleatória e arbitrária, Deus opera através das Suas leis, dentre elas, a principal com relação às respostas às orações, eu diria que é a Lei da Semeadura. Por isso, é super importante entendermos que, quando estamos orando, estamos como que “lançando sementes” no mundo espiritual, as quais darão seu fruto após um determinado tempo de desenvolvimento.

Falei que era paradoxal (aparenta uma contradição) porque isso é tão importante, mas o povo que deveria conhecer o seu Deus, em geral, não faz ideia de que as coisas funcionam assim, por isso se frustram com a oração e o jejum, por não verem resultados rápidos, como em uma mágica.

Compreender a Lei da Semeadura é de fundamental importância, para que possamos colher as respostas das nossas orações.

“...porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará.” (Gálatas 6:7)

Se alguma vez você já plantou, sabe que não se semeia uma árvore hoje para colher frutos amanhã. Isso é um processo que geralmente leva meses ou mesmo anos. A nossa geração tem a sensação de que tudo acontece de forma rápida, porque vamos ao supermercado e as frutas e verduras estão lá prontas para serem “colhidas”. No entanto, sabemos que aquelas frutas e verduras não surgiram instantaneamente no supermercado, houve todo um processo de plantio, colheita e transporte, de forma a ficarem prontas para serem compradas e consumidas.

Portanto é necessário perseverança em oração, a fim de que colhamos os frutos. Mesmo que a nossa oração esteja sendo feita de acordo com a vontade de Deus, será necessário esperar o processo de semeadura e colheita das nossas orações.


Não deixe a inquietação se enraizar

Assim como a oração necessita de perseverança, pois a colheita geralmente demora a ser vista, também precisamos vigiar para não permitirmos que a ansiedade e as preocupações se enraízem em nosso coração e comecem a produzir frutos. Esta é a razão pela qual Deus nos orienta a “não estarmos inquietos por coisa alguma”, ou seja, não vivermos inquietos, preocupados, de forma constante.

Desenvolva o hábito de orar continuamente, todos os dias, e sempre levar ao Senhor tudo aquilo que está a lhe inquietar. Outra coisa que eu sempre oriento é jejuar, sempre que for necessário, pois o jejum funciona como uma espécie de “catalisador” para as nossas orações.

O jejum, por si só, já é um sacrifício aceitável diante de Deus, sendo que, combinado com a oração, se torna uma ferramenta poderosa para mortificar a carne e nos deixar sensíveis para recebermos de Deus sabedoria e força.

Portanto, não permita que a ansiedade e a preocupação permaneçam muito tempo dentro do seu coração, ocupando seus pensamentos e emoções, pois isso vai fazer com que tais coisas sem enraízem e comecem a se estabelecer, provocando alterações psíquicas e físicas, que vão levar você a se tornar uma pessoa ansiosa, inclusive gerando doenças.

Como fala o dito popular: corte o mal pela raiz!


As emoções estão envolvidas na oração

“…antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica…” (Filipenses 4:6)

Em nossa rotina diária de oração, podemos passar a maior parte do tempo simplesmente conversando com o nosso Pai Celestial, afinal, um relacionamento tem tudo a ver com o compartilhar a vida, e isso de forma amena e prazerosa. Mas, quando estamos inquietos e preocupados, é necessário despejar o nosso coração diante de Deus, e isso precisa ser feito com “súplicas”.

A oração, muitas vezes, precisa ser usada como uma arma de combate, assim como o próprio apóstolo Paulo a referencia. Veja como ele trata a oração em algumas passagens do livro de Colossenses:

“Porque quero que saibais quão grande combate tenho por vós, e pelos que estão em Laodicéia, e por quantos não viram o meu rosto em carne; para que os seus corações sejam consolados…” (Colossenses 2:1,2)

“Saúda-vos Epafras, que é dos vossos, servo de Cristo, combatendo sempre por vós em orações, para que vos conserveis firmes, perfeitos e consumados em toda a vontade de Deus.” (Colossenses 4:12)

É praticamente impossível você entrar em luta corporal e não estar emocionalmente envolvido nisso.

Quando eu era adolescente treinava karatê. Os exercícios preparatórios eram bem puxados, mas eu gostava muito de praticar o “katá”, que são aqueles movimentos demonstrando as técnicas e golpes. O katá é feito sozinho ou em grupo, mas não envolve luta, apenas essas demonstrações de técnica.

O bicho pegava mesmo quando chegava a hora do “kumitê” (luta)... O sangue fervia e as emoções iam às nuvens, principalmente quando o sensei (o professor) nos colocava para lutar contra os mais graduados: você sabia que iria apanhar.

Pois bem, precisamos entender que, em muitos momentos, nossas orações serão “arma de guerra” e precisamos colocar todo o nosso coração nelas. Isso implica em que nossas vozes poderão se levantar, podemos chorar, e até mesmo nos irritar contra Satanás e suas obras, tudo isso durante a oração.

Derramar nosso coração em oração é necessário, para que a paz prometida encha nosso interior.

Imagem 3: súplica

Ações de graças

O último ponto acerca da oração refere-se às ações de graças, que simplesmente significa agradecer a Deus.

Quando agradecemos a Deus por alguma coisa, estamos alimentando a nossa fé naquele sentido específico, ou seja, quando oramos por alguma coisa e permanecemos dando graças pela resposta, mantemos a nossa fé ativa sobre aquilo que oramos.

Isso é fundamental para que nosso coração permaneça crendo que vamos receber aquilo que pedimos. Se não mantivermos as ações de graças, fatalmente vamos duvidar, e quando duvidamos, o poder de Deus para de operar.

“Perseverai em oração, velando nela com ação de graças;” (Colossenses 4:2)

A palavra aqui traduzida por “velando” (γρηγορεύω - gregoreúo) significa “vigiar”, e é a mesma palavra usada no verso de Mateus 24:43:

“Mas considerai isto: se o pai de família soubesse a que vigília da noite havia de vir o ladrão, vigiaria e não deixaria que fosse arrombada a sua casa.”

Portanto, é necessário haver uma “vigilância” no que diz respeito às ações de graças, a fim de que a nossa fé permaneça viva e intensa naquilo pelo qual estamos orando ao Senhor.


A paz que guarda o nosso coração

Por fim, a maravilhosa promessa que Deus nos faz é que, quando obedecemos ao mandamento anterior acerca da oração, uma paz sobrenatural vai guardar o nosso coração e os nossos pensamentos.

O sentido original da palavra “guardar” deve ser estudado. Vejamos a definição dela no dicionário de grego de Thayer:

φρουρέω (froureo) - Guardar, proteger com uma guarda militar, seja para evitar invasão hostil ou para manter os habitantes de uma cidade cercada de fugirem

Achei interessante essa definição da palavra grega usada neste versículo, pois mostra que essa paz que vem de Deus protegerá o nosso coração contra a invasão de maus pensamentos ou emoções negativas. Observando que nossos corações e nossos pensamentos serão protegidos “em Cristo”.

Isso significa que essa paz não depende de circunstâncias deste mundo físico, mas é uma paz que vem do mundo espiritual, uma paz que é pertinente ao Reino de Deus, uma paz sobrenatural.

Portanto, ainda que estejamos passando por situações adversas neste mundo, tais como perseguições, tribulações, críticas, decepções, etc. ainda assim, podemos andar em paz, sendo guardados em Cristo Jesus por uma paz que vai além deste mundo físico, que vai além das nossas ideias, dos nossos pensamentos, das nossas emoções.

Que esta paz guarde seu coração, em Nome de Jesus!


Pr. Wendell Costa



APÊNDICE

Texto sobre ansiedade, do Ministério da Saúde Brasileiro

A ansiedade estimula o indivíduo a entrar em ação, porém, em excesso, faz exatamente o contrário, impedindo reações.

Os transtornos de ansiedade são doenças relacionadas ao funcionamento do corpo e às experiências de vida. Pode-se sentir ansioso a maior parte do tempo sem nenhuma razão aparente; pode-se ter ansiedade às vezes, mas tão intensamente que a pessoa se sentirá imobilizada. A sensação de ansiedade pode ser tão desconfortável que, para evitá-la, as pessoas deixam de fazer coisas simples (como usar o elevador), por causa do desconforto que sentem.

Os transtornos da ansiedade têm sintomas muito mais intensos do que aquela ansiedade normal do dia a dia. Eles aparecem como:

– preocupações, tensões ou medos exagerados (a pessoa não consegue relaxar);

– sensação contínua de que um desastre ou algo muito ruim vai acontecer;

– preocupações exageradas com saúde, dinheiro, família ou trabalho;

– medo extremo de algum objeto ou situação em particular;

– medo exagerado de ser humilhado publicamente;

– falta de controle sobre os pensamentos, imagens ou atitudes, que se repetem independentemente da vontade;

– pavor depois de uma situação muito difícil.

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(Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde, tópico: Ansiedade. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/ansiedade)



Índice de imagens

[1] Imagem por Pete Linforth de Pixabay
[2] Imagem por Darwin Laganzon de Pixabay
[3] Imagem por Alemdar Alemdar de Pixabay

sábado, 5 de agosto de 2023

Alegrem-se Sempre no Senhor


A busca pela felicidade é algo que está no coração do homem desde o princípio. Claro que isso foi colocado pelo próprio Deus, afinal, não fomos criados para a tristeza, contudo, depois que o pecado entrou no mundo, a dor, a tristeza, o desespero, dentre outras coisas ruins, entraram na nossa vida e passaram a fazer parte do nosso cotidiano.

Como eu já falei em outros estudos desta série, o livro de Filipenses nos comunica a mente de Cristo, ou seja, a mente do próprio Deus, a sua natureza divina. Assim, esta ideia de um Deus iracundo e carrancudo não corresponde à verdade. O Criador é o Autor da Vida e a fonte da verdadeira alegria.

Por causa disso, a palavra de Deus nos fala:

“Alegrem-se sempre no Senhor. Novamente direi: alegrem-se!” (Filipenses 4:4)

Se lembrarmos de que o apóstolo Paulo estava preso, sob ameaça de morte, quando escreveu estas palavras, vamos perceber que a alegria que Deus nos dá independe  das circunstâncias momentâneas que estamos experimentando. Mas como podemos nos alegrar quando passamos por tribulações, perseguições, necessidades ou críticas?

Pois bem, longe de querer esgotar o tema, pretendo falar um pouco sobre como podemos nos alegrar, mesmo diante de circunstâncias negativas e, mais que isso, como podemos ter uma vida feliz, de forma constante, ou seja, como podemos SER felizes.


A perspectiva correta

Quando eu era um novo convertido na fé – acredito que tinha menos de um ano de conversão –, eu trabalhava para a prefeitura da minha cidade, em uma escola municipal. Trabalhava como ASG (auxiliar de serviços gerais) e ganhava apenas um salário mínimo. Fazia praticamente de tudo nessa escola: datilografava as provas, fazia cópias  no “mecanógrafo”, servia merenda escolar, abria e fechava o portão de entrada, para que os alunos, funcionários e demais pessoas pudessem entrar ou sair, etc. 

Eu não tinha carro e me deslocava até o trabalho no transporte público (ônibus), tendo que caminhar uma distância considerável todos os dias, cruzando um morro de areia. Lembro bem que, sempre que chegava na escola, tinha que tirar os sapatos, para jogar a areia fora. Não acho que era um trabalho tão duro, mas o salário realmente era baixo. Se você é casado e precisa sobreviver com um salário mínimo, sabe do que estou falando.

Certa vez, ao receber o contracheque, eu reclamei do baixo salário. Imediatamente, uma senhora que trabalhava comigo, copeira, me repreendeu dizendo “não reclame não, a gente tem que dar graças a Deus por este salário!”.

Aquilo foi como um tapa no meu rosto, pois eu era o único cristão naquele lugar, e fui  repreendido por uma mulher ímpia. Ao invés de dar graças a Deus porque tinha um emprego, eu estava murmurando porque o salário era baixo. Ora, mesmo sendo um salário baixo, o Senhor nunca deixou que faltasse nada. Aquela situação que eu vivi era temporária, pois, depois de alguns anos, meu Pai Celestial me fez prosperar e passamos a ter uma situação mais confortável financeiramente. Mas aqueles tempos de poucos recursos financeiros me ensinaram a dar mais valor ao que tenho hoje e, também, a administrar melhor os recursos. Tudo é uma questão de perspectiva.

O apóstolo Paulo, certamente, foi um homem que sofreu muito pelo evangelho. Ele passou por situações que, provavelmente, nenhum de nós passou ou passará. No entanto, ele fala que as tribulações que ele viveu eram leves e momentâneas. Veja o versículo abaixo:

“Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente.” (2 Coríntios 4:17)

Antes que você pense, caso não conheça a história deste grande apóstolo, que Paulo estava em sua mansão, desfrutando de uma vida fácil e abastada, é interessante vermos um pouco do que seriam essas “leves e momentâneas” tribulações que ele passou. Algumas dessas situações ele mesmo cita nessa mesma epístola, no capítulo 11:

“São ministros de Cristo? (falo como fora de mim) eu ainda mais: em trabalhos, muito mais; em açoites, mais do que eles; em prisões, muito mais; em perigo de morte, muitas vezes.

Recebi dos judeus cinco quarentenas de açoites menos um.

Três vezes fui açoitado com varas, uma vez fui apedrejado, três vezes sofri naufrágio, uma noite e um dia passei no abismo;

Em viagens muitas vezes, em perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos dos da minha nação, em perigos dos gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre os falsos irmãos;

Em trabalhos e fadiga, em vigílias muitas vezes, em fome e sede, em jejum muitas vezes, em frio e nudez.” (2 Coríntios 11:23-27)

Eu mesmo já passei algumas coisas semelhantes a essas, tais como perseguições (não físicas), ameaças, enfado, vigílias, etc. Mas nunca recebi açoites, nunca fui preso, nunca sofri naufrágio… Ora, se Paulo pôde declarar que o que ele passou foi leve e momentâneo, muito mais o que eu ou você provavelmente passamos.

Quando percebemos a vida com sob a perspectiva da eternidade, tudo passa a ser leve e momentâneo.


O nosso Pai Celestial já preparou para nós uma eternidade de paz, alegria e plenitude. Afinal, o que são dez anos diante de um milhão de anos? O que são as marcas das chibatadas que Paulo levou diante de um corpo eterno glorificado que jamais vai adoecer ou morrer novamente?

“Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada.” (Romanos 8:18)

Mas, se tudo o que você enxerga é a realidade material deste mundo, a sua perspectiva será terrena e você realmente terá muita dificuldade em se alegrar no Senhor, pois a sua mentalidade estará presa às coisas mundanas e temporárias. Quando tudo que esperamos de Deus é relativo às coisas deste mundo, viveremos frustrados, pois esta não é a mentalidade de Cristo.

“Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens.” (1 Coríntios 15:19)

Portanto, a base para que a sua vida seja feliz no Senhor é, primeiramente, ter a perspectiva divina, ou seja enxergar com os olhos da eternidade e buscar as coisas do alto, desligando-se das coisas terrenas o máximo possível.

Dedique-se à Palavra de Deus, principalmente o Novo Testamento, buscando conhecer ao Senhor e viver a realidade espiritual, para que a sua mentalidade não esteja nas coisas terrenas, mas nas celestiais. Se você é muito afeito às mídias deste mundo, dedicando-se muito tempo ao entretenimento secular, aconselho você a cortar toda essas sementes de conhecimento mudando, a fim de que você possa construir uma cosmovisão bíblica em seu entendimento. Tenho observado que os cristãos de hoje estão mais mergulhados no mundo do que nunca: pensam e agem da mesma maneira que um descrente, exatamente porque participam das mesmas coisas que eles.


Recebemos uma nova natureza de alegria

O segundo ponto que eu quero tratar nesta postagem é a mudança interior que Deus opera na vida daquele que se converte a Cristo. Quando nos convertemos, ocorre um milagre conhecido como o “novo nascimento”, que é o nascimento espiritual: Deus regenera o nosso espírito, para que sejamos libertos da velha natureza pecaminosa que habitava dentro de nós.

O ser humano é uma criação muito interessante de Deus, somos feitos de três partes distintas, que são o espírito, a alma e o corpo. Aqui no meu blog, tenho um estudo bem completo sobre esse tema, basta você procurar. Tenho também uma série de vídeos no canal do ministério Águios.

Para compreendermos essa divisão, vamos começar do mais visível para o mais invisível.

Acredito que seja bastante intuitivo entender a parte do “corpo”, embora muitas coisas que são atribuídas à alma, são, na verdade, do corpo. Mas, basicamente, o corpo do homem foi aquilo que Deus fez do pó da terra, é a nossa parte material. No entanto, é importante entendermos que o corpo possui vontades próprias, e, tendo caído por causa do pecado, ele possui desejos que são contrários à vontade de Deus.

A nossa alma compreende nosso entendimento e sentimentos, ou seja, a nossa “mentalidade”. Ora essa mentalidade se inclina para as coisas do espírito, ora para as coisas da carne, dependendo do conhecimento que predomina dentro de nós.

Por fim, nosso espírito é aquela parte imaterial de nós, que é semelhante a Deus, aos anjos ou aos demônios, pois todos estes são seres espirituais, pertencentes a um outro mundo, a uma outra realidade.

O mundo espiritual é pouco compreendido pela maioria dos cristãos, o que é uma lástima, pois interagimos com esse mundo diariamente.

As religiões tentam revelar como é esse mundo espiritual, mas somente a Palavra de Deus traz a verdade sobre essa esfera. Para que possamos interagir da forma correta com esse mundo, é necessário termos a revelação da Palavra de Deus e do Espírito Santo operando nas nossas mentes. Um cristão carnal tentará interagir com o mundo espiritual apenas através dos sentimentos e pensamentos do corpo ou da alma, colocando-se em risco.

Assim sendo, é necessário buscarmos, nas Escrituras, a verdade sobre como é o nosso espírito nascido de novo. No livro de Gálatas temos a descrição do fruto do espírito:

“Mas o fruto do espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade…” (Gálatas 5:22)

Observamos que uma das características do fruto do espírito é exatamente a alegria. Esta é uma ideia que diverge da visão de espiritualidade que foi passada para nós pela religião, onde aprendemos que uma pessoa, para agradar a Deus, precisa estar triste, abatida ou desesperada. Inclusive essa é uma ideia muito passada em músicas cristãs.

Uma outra ideia muito comum na mente dos cristãos é que a natureza de Deus é de uma pessoa iracunda ou irritada. Essa ideia muitas vezes é originada a partir de uma leitura descontextualizada do Velho Testamento. Ora, como um Deus iracundo e impaciente pode nos ordenar a nos alegrarmos sempre nele? Você consegue se alegrar junto a alguém triste ou iracundo? Obviamente, isso não é possível.

Assim, é muito importante compreendermos que a natureza Divina é uma natureza de alegria e que assim como Deus é alegre, nós fomos regenerados com uma nova natureza, que é cheia de alegria. Este conhecimento precisa estar bem enraizado dentro de nós, para que possamos deixar esta alegria que está em nossos espíritos fluir para fora, através dos nossos corpos.


Deus é a fonte da nossa alegria, e a sua alegria nos fortalece:

“Disse-lhes mais: Ide, comei as gorduras, e bebei as doçuras, e enviai porções aos que não têm nada preparado para si; porque este dia é consagrado ao nosso Senhor; portanto não vos entristeçais; porque a alegria do Senhor é a vossa força.” (Neemias 8:10)


Alegre-se por aquilo que você não vê


Certa vez, Jesus enviou 70 discípulos para uma missão pelas cidades de Israel. Foi uma missão perigosa, tanto é que o senhor alertou seus discípulos que os enviaria como cordeiro ao meio de lobos. Certamente uma missão que exigiu coragem.

Mas Jesus não largou os discípulos ao bel prazer das pessoas ímpias, pois deu-lhes poder para desempenhar essa missão. Sobre toda força do maligno, o Senhor deu poder aos seus discípulos.

Os discípulos cumpriram a sua missão e, quando voltaram, estavam muito alegres, pois viram e sentiram o poder de Deus fluir através deles, assim como fluía através de Cristo. Claro que qualquer pessoa também se alegraria ao ver os doentes sendo curados e demônios sendo expulsos através das suas orações.

No entanto o comentário que Cristo fez parece jogar um balde de água fria nessa alegria:

“Mas, não vos alegreis porque se vos sujeitem os espíritos; alegrai-vos antes por estarem os vossos nomes escritos nos céus.” (Lucas 10:20)

Ora, como vou me alegrar com tal coisa? Porventura Deus escreveu o nome dos discípulos nas nuvens, de forma que eles pudessem ler isso no céu? Obviamente não foi isso que Jesus falou. Na própria epístola de Filipenses, Paulo também fala algo nesse sentido, quando diz: “e com os meus outros cooperadores, cujos nomes estão no livro da vida” (Filipenses 4:3).

Afinal onde fica esse tal livro da vida? Temos como vê-lo? Talvez algum dia, mas não neste momento.

Nós somos chamados por Deus para vivermos pela fé, e a fé é a convicção de realidades que não podem ser vistas com os olhos naturais. Quando compreendemos bem uma coisa, em certo sentido, começamos a enxergar algo dentro de nós, sem, necessariamente, termos visto isso. Obviamente, nossa mente pode imaginar coisas que nunca existiram nem existirão, portanto, para que nossas mentes visualizem alguma coisa real é necessário que nosso entendimento seja modelado pela verdade.

Quando recebemos a verdade em nosso coração, nossa mente vai começar a formar uma imagem mental dentro de nós que corresponde à realidade. A isso podemos chamar de fé.

O escritor aos hebreus fala sobre isso, citando a vida de Moisés, e como este, movido por esta visão interior, conduziu o povo de Israel para fora do Egito em direção à Terra Prometida:

“Pela fé deixou o Egito, não temendo a ira do rei; porque ficou firme, como vendo o invisível.” (Hebreus 11:27)

É de fundamental importância compreendermos que a fé não é simplesmente uma crença aleatória e arbitrária sobre qualquer coisa que queremos. Se essa visão interior não for gerada pela Palavra de Deus, então isso não é fé, pois a fé é uma convicção de realidades espirituais e não um mero “achismo” nosso. A fé precisa ser baseada em realidade, e não em uma crença individual pessoal.

Portanto, você precisa ter convicção das realidades espirituais reveladas por Deus, através das Escrituras, para que possa viver baseado nessas realidades e, assim, se alegrar e se regozijar com base nessas verdades, as quais são invisíveis aos olhos naturais, mas são perfeitamente reais.


O poder do louvor

Muitas pessoas na igreja não compreendem o que realmente significa louvor. Elas têm uma visão limitada do que é louvor e adoração, relacionando isso tão somente à música “gospel”. Mas louvor é muito mais do que isso, louvor é expressar uma realidade espiritual em forma de cânticos, música, adoração, ações de graças etc.

Quando adoramos a Deus de todo o nosso coração, estamos deixando fluir, através de nós, o Reino Celestial, e assim podemos manifestar no nosso corpo a alegria que existe no mundo espiritual, ou seja, a alegria que já é uma realidade em nosso espírito recriado.

“Está alguém entre vós aflito? Ore. Está alguém contente? Cante louvores.” (Tiago 5:13)

O verso acima foi praticado por Paulo e Silas quando foram presos na cidade de Filipos. Após terem libertado uma mulher que tinha um espírito de adivinhação, eles foram açoitados e presos no cárcere interior tendo os pés acorrentados no tronco. Ora, sem poder nem ao menos ir ao banheiro, tendo sido surrados, provavelmente estavam sentindo dores, estavam sujos e talvez com fome ou sede.

Definitivamente, essa seria uma situação onde tudo que nós não desejaríamos fazer era exatamente cantar músicas. Ainda assim, vemos que a dupla, já perto da meia-noite, orava e cantava louvores. Não sabemos por quanto tempo eles oraram e cantaram, mas não deve ter sido por pouco tempo.

De fato, Paulo e Silas não estavam fazendo isso em troca de serem libertados da prisão.  Eles fizeram isso porque estavam trazendo a realidade celestial para dentro da escuridão daquele calabouço. Não temos como nos alegrar no Senhor sem termos uma vida de gratidão e louvor a Deus, com o fim de nos enchermos do seu poder.


Conclusão

Como cidadãos do Reino de Deus, temos direito a viver uma vida de alegria, não uma alegria circunstancial, mas uma alegria perene. Contudo, para desfrutarmos de tal alegria, existem alguns princípios sobre os quais precisamos edificar a nossa vida.

“Puseste alegria no meu coração, mais do que no tempo em que se lhes multiplicaram o trigo e o vinho.” (Salmos 4:7)

A alegria que existe nos Céus, para nós, é bem superior a alegria deste mundo, maior que a alegria proporcionada pelas riquezas materiais, superior a alegria obtida por meio do humor, das piadas, etc. Esta alegria está disponível para você, bastando que você a conheça, a compreenda e busque praticá-la em sua vida.

Que a graça, a paz e a alegria do Senhor sejam com você.

Pr. Wendell



quinta-feira, 8 de junho de 2023

Amados e queridos, minha alegria e coroa


Quando o mundo fala de amor, está se referindo a um sentimento que, muitas vezes, é efêmero e passageiro, estando mais para a “paixão” (um desejo intenso) do que para um sentimento duradouro e constante. No entanto, o amor revelado nas Escrituras Sagradas – como sendo do próprio Deus –, trata de algo muito mais amplo, pois o amor de Deus não se restringe a um mero sentimento, mas a uma “natureza”: a natureza de Deus.

No versículo que estudaremos nesta postagem, Cristo se manifesta, através do apóstolo Paulo, expressando o Seu sentimento divino por nós. Como já reforcei em outros textos desta série, Cristo nos comunica a Sua mente nesta epístola. Não devemos ver a carta de Filipenses como meras palavras humanas, mas como o próprio Jesus falando conosco de forma pessoal. Agora, vejamos o versículo:

“Portanto, meus amados e mui queridos irmãos, minha alegria e coroa, estai assim firmes no Senhor, amados.” (Filipenses 4:1)

Ao iniciarmos o capítulo 4, em uma leitura superficial, pode-se perder a profundidade das palavras ali escritas, mas quando estudamos este versículo de forma mais cuidadosa, palavra por palavra (inclusive usando o original grego), podemos nos aprofundar no texto e obter um vislumbre do grande amor de Deus por nós.

Passemos a analisar cada uma das palavras aplicadas à igreja e utilizadas neste versículo.


Amados e mui queridos

Cristo, através de Paulo, começa declarando que somos “amados”, usando, originalmente, a palavra ἀγαπητός (agapetós), palavra esta derivada da conhecida palavra ἀγάπη (agápe) (amor) e do verbo amar: ἀγαπάω (agapáo).

É de se observar que temos uma outra palavra, que era comumente usada no grego, para descrever o verbo amar, que é a palavra φιλέω (filéo). De acordo com o dicionário de grego bíblico Strong, filéo é traduzido como:

fileo - ser amigo de (apreciador de) [um indivíduo ou um objeto], isto é, ter afeição por (denotando apego pessoal, ligado a sentimento)

Desta palavra, temos uma outra, derivada, que é φίλος (philos) “amigo, associado”. Dela, tiramos, por exemplo, a palavra filosofia (philos-amigo, sophia-sabedoria), dentre outras.

Enfim, trago estas explicações, porque o uso da palavra agapetós, no lugar de philos, demonstra que o amor com o qual Deus nos ama vai além da mera amizade.

O amor “agape” tem um sentido mais amplo, sendo usado na Bíblia para descrever o amor que Deus tem por nós. De fato, quando se trata do amor de Deus, isso é mais que um mero sentimento, porque o amor é a própria natureza de Deus.

“Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor [agápe].” (1 João 4:8)

Voltando ao verso de hoje, devemos nos lembrar que a divisão da Bíblia em capítulos e versículos não é original, ou seja, é algo que foi acrescentado posteriormente. Assim, podemos entender que o texto de Filipenses 4:1, funciona como uma conclusão para o que o apóstolo escreve no capítulo 3, assuntos esses que já estudamos em outras postagens.

Nos versos que antecedem ao ora estudado, ou seja, Filipenses 3:20-21, as Escrituras nos revelam um pouco daquilo que Deus preparou para nós através de Cristo: uma cidadania celestial que nos dá direito a uma vida eterna de glória inimaginável.

Ora, tudo o que Deus preparou  foi por causa de seu amor imenso por nós. O Criador de todo o universo foi capaz de se tornar homem e morrer uma morte humilhante e dolorosa, para assumir o lugar da criatura pecadora, a fim de nos salvar na separação eterna de Deus.

Deus Pai não tinha nenhuma obrigação de fazer tal coisa, mas Ele preparou um plano para nos salvar e levou este plano a efeito. Tudo isso motivado por Si mesmo, por Seu grande amor com que nos amou.

A outra palavra utilizada no que se refere a nós é a palavra grega ἐπιπόθητος (epipóthetos), que quer dizer “desejado” ou “querido”.

Quando amamos alguém, nós desejamos o melhor para ela. Além disso, desejamos estar perto e queremos compartilhar nossa vida com tal pessoa. Pois bem, esse é o desejo de Deus com relação a nós, Ele nos quer tanto que pagou um preço altíssimo para poder nos ter consigo.

Em diversos pontos das Escrituras, o amor de Deus pelo homem é comparado ao desejo de um marido por sua esposa. Em especial, temos na Bíblia um livro que, por muitos, é considerado um livro “erótico”, não no sentido malicioso da palavra (não é um livro pornográfico), mas um livro que mostra o desejo do homem pela mulher e o desejo da mulher pelo homem. No seu sentido espiritual, o livro de Cantares (Cântico dos Cânticos) revela todo o desejo que o próprio Deus sente pelo homem.

Vejamos apenas alguns desses versículos:

“Eis que és formosa, ó meu amor, eis que és formosa; os teus olhos são como os das pombas.” (Cânticos 1:15)

“Que belos são os teus amores, minha irmã, esposa minha! Quanto melhor é o teu amor do que o vinho! E o aroma dos teus unguentos do que o de todas as especiarias!

Favos de mel manam dos teus lábios, minha esposa! Mel e leite estão debaixo da tua língua, e o cheiro dos teus vestidos é como o cheiro do Líbano.

Jardim fechado és tu, minha irmã, esposa minha, manancial fechado, fonte selada.” (Cânticos 4:10-12)

Quando Deus criou o casamento, Ele desejava revelar a Sua vontade para nós. Por esse motivo, o casamento deve ser “venerado”, ou seja, digno de toda honra, assim como está escrito no livro de Hebreus 13:4. Portanto, o casamento tem uma função didática, no sentido de nos revelar o amor e o desejo de Deus por nós, assim como o marido ama e deseja a sua esposa.

Esta ideia de que o casamento representa, na Terra, a relação entre Cristo e a Igreja é desenvolvida, explicitamente, em Efésios 5:22-33, nos conhecidos versos que orientam como o marido deve tratar sua esposa e vice-versa.


Alegria e coroa

No livro do profeta Isaías, é falado que Deus olhou o trabalho da sua alma e ficou satisfeito (Isaías 53:11). O texto se refere à obra redentora de Cristo, ao entregar Sua vida por nós. Apesar de ter sido muito sofrido para o Pai e o Filho, o resultado desse sacrifício trouxe salvação eterna para a humanidade, o que deixou Deus “satisfeito”, pois Ele nos ama muito.

É interessante entender que Deus ficou satisfeito com o resultado da salvação, provida por meio de Cristo, e que, portanto, somos a sua “alegria”. Deus sente alegria em nos ter como Seus filhos, Ele se alegra em ter comunhão conosco.

Essa ideia, no entanto, é contrária àquela que muitas pessoas, inclusive cristãos, têm. 

Viemos do mundo, com muitas ideias equivocadas acerca de Deus, por exemplo, a de um homem barbudo e carrancudo assentado no trono, pronto para castigar-nos ao menor sinal de erro. Nossa mente tende a não aceitar a ideia de que nós somos uma alegria para o nosso Pai celestial.

Quando meus filhos eram pequenos, era muito prazeroso brincar com eles e vivermos “grandes aventuras”... Essas aventuras podiam ser apenas um passeio ao redor da casa, fingindo que estávamos em uma floresta. Mas tanto eu como eles amávamos esses momentos de comunhão juntos. Até hoje lembramos com alegria dessas ocasiões.

Assim também Deus sente alegria por nos ter como Seus filhos e, em especial, quando passamos tempo juntos com Ele, compartilhando nossas vidas e andando conforme a Sua Palavra.

O esforço e o trabalho que Deus Pai fez para nos trazer de volta para Ele mesmo foi imenso, e acredito que nós não possamos compreendê-lo plenamente neste presente tempo. O plano de Deus foi posto em ação desde o Éden, assim que o homem pecou.

“E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.” (Gênesis 3:15)

Aqui é necessário interpretação com base no restante da revelação vinda das Escrituras. Após a desobediência de Adão, Satanás obteve acesso à humanidade para trazer a morte, por causa do pecado. Mas a semente da mulher, que se refere a Cristo, feriria a cabeça da serpente, ou seja, removeria o poder do diabo sobre o homem, permitindo a nossa redenção.

A partir de então, ao longo das eras, Deus pôs em atividade o seu plano de salvação. Este plano culminou com a vinda do Seu Filho para a Terra, em forma de servo, em forma de homem, para oferecer-se em sacrifício no nosso lugar. Assim, Cristo absorveu os pecados de toda a humanidade, em todos os tempos, e ressuscitou, vencendo a morte.

A coroa era dada a todo aquele que vencesse, quer uma batalha, quer uma competição. Portanto, a coroa representa uma premiação, algo que Jesus conquistou. E a Bíblia revela o que Jesus conquistou: nós.

Nós somos o objeto do amor de Deus desde o princípio. Fomos nós que nos perdemos, nos desviando do nosso Criador e Pai. Então, nós, que fomos alcançados por sua graça e decidimos seguir o Seu Filho, somos a Sua coroa, ou seja, o seu prêmio.

É fundamental entendermos tais coisas, pois já aconselhei muitas pessoas que estavam arrasadas, algumas até pensando em tirar a sua própria vida, se achando indignas de continuarem vivendo, pois acreditavam que Deus as tinha rejeitado. Isso não poderia ser mais distante da verdade.

Todo o trabalho divino e o alto preço que Deus pagou, para nos ter como filhos novamente, demonstram Seu grande amor e desejo por nós. Somos uma alegria para Ele, a despeito de nossas fraquezas e imperfeições.

Compreenda que o Criador de todas as coisas ama você e deseja você para Ele. Este amor é a própria base da mensagem do evangelho. Infelizmente, a religião distorce a verdadeira mensagem do evangelho, trazendo uma pregação que mostra um Deus insatisfeito, iracundo e que não parece ser o “Deus de amor” falado na Bíblia.


Estai, assim, firmes

Quando eu era criança, meus pais comumente estavam fora de casa. Meu pai trabalhava para a prefeitura e costumava fazer tarefas externas, embora não trabalhasse viajando. Minha mãe também trabalhava fora e saia de casa para dar seu expediente. Assim, era comum eu e meu irmão ficarmos apenas com a empregada.

Lembro que quando meus pais estavam em casa, eu me sentia mais seguro. Meu pai não era tão amoroso mas, ainda assim, eu tinha essa sensação de segurança. Quando um filho tem o sentimento de que seu pai está pertinho, ele se sente seguro e, portanto, possui mais firmeza no agir.


Quando eu tinha 14 anos de idade, meus pais se separaram. Lembro bem da conversa que minha mãe teve comigo e com meu irmão. Ao nos contar que eles estavam se divorciando, a sensação que eu tive foi de muita insegurança. Foi um sentimento muito ruim, que eu não desejo para ninguém: senti-me só e desamparado.

Trazendo para o contexto do nosso relacionamento com Deus, quando compreendemos este grande amor que o nosso Criador tem por nós, a sensação de segurança enche e domina os nossos corações.

Por isso, o versículo que estamos estudando nesta postagem, traz esta conclusão lógica: somos amados e queridos por Deus, somos a sua alegria e coroa. Portanto, nosso coração pode descansar neste amor que Deus sente por nós e que O moveu a fazer todo o sacrifício necessário para que pudéssemos ser Seus filhos.

De acordo com o dicionário de Thayer, o verbo aqui traduzido como “estar firme” é este:

στήκω (steko)

  • 1) estar (de pé) firme
  • 2) perseverar, persistir
  • 3) manter-se firme na posição

No meio das tribulações da vida, entender que Deus nos ama e nos deseja, e saber que Ele se dispôs a pagar um altíssimo preço por nós, nos ajudará a nos mantermos firmes na fé, pois nos trará toda a segurança de sabermos que o nosso Pai jamais nos abandonará.

Esteja firme no Senhor, amado/amada.


Wendell Costa



IMAGENS (disponibilizadas gratuitamente)

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terça-feira, 21 de março de 2023

A Cidadania Celestial


Se pudesse dar um título ao livro de Filipenses, eu escolheria “aprendendo a mente de Cristo” – ou algo desse tipo –, pois na medida em que venho estudando este livro, percebo Deus revelando o coração do Seu Filho: Suas vontades e sentimentos para nós, o seu povo.

O final do capítulo 3 adiciona a essa “transferência de mentalidade”, chamando a nossa atenção para uma questão de suma importância: a cidadania. Isso compreende nossas ideias e sentimentos acerca do governo que está sobre nós, nosso relacionamento com outros cidadãos e nossos direitos e deveres.

A questão dos “direitos e deveres” é bem importante. As leis de um país se aplicam a você diretamente, quer você as aceite ou não, quer você acredite nelas ou não. Ainda que você esteja morando em outro país, a sua cidadania afetará você de forma profunda.

Ser cidadão de um país rico e poderoso é muito bom, porque essa cidadania nos abençoará com muitas possibilidades de desenvolvimento de nossas vidas pessoais. Não é à toa que tantos brasileiros se aventuram, ao tentar moradia em outros países mais ricos do que o Brasil, muitas vezes sacrificando o bem-estar, trabalhando em subempregos, a fim de tentar melhores condições de vida.

Como discípulos de Cristo, recebemos uma nova cidadania, ao aceitarmos ao Senhor como o nosso Rei. Portanto, para um cristão, essa questão não deveria ser um problema, porque nós já temos uma cidade que é a mais rica, mais justa, mais maravilhosa de todas!

Agora, vamos ao versículo que estudaremos hoje:

“A nossa cidadania, porém, está nos céus, de onde esperamos ansiosamente um Salvador, o Senhor Jesus Cristo.” (Filipenses 3:20)


Nascemos em um novo reino

O Senhor Jesus Cristo recebeu uma missão de seu Pai: trazer de volta o Reino de Deus para a Terra. Este Reino existia originalmente aqui, mas, devido ao pecado de Adão, ele foi retirado. Assim, o reino dos homens foi separado do Reino de Deus.

Muitas pessoas, inclusive os cristãos, não têm a “consciência de reino”, mas uma consciência voltada para os rituais e para a religião. Contudo, não foi para trazer uma nova religião à Terra que Jesus foi enviado. Cristo veio para trazer um reino.

O profeta Isaías, quando profetizou acerca do Messias, disse:

“Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o principado está sobre os seus ombros, e se chamará o seu nome: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz.

Do aumento deste principado e da paz não haverá fim, sobre o trono de Davi e no seu reino, para o firmar e o fortificar com juízo e com justiça, desde agora e para sempre; o zelo do Senhor dos Exércitos fará isto.” (Isaías 9:6,7)

Lendo a profecia de Isaías com cuidado, percebemos que o Cristo prometido não viria ao mundo para trazer uma nova religião, mas para estabelecer um reino de paz e justiça. E, de fato, era isso que Israel aguardava. Tanto é que desejaram consagrar a Jesus como rei antecipadamente:

“Vendo, pois, aqueles homens o milagre que Jesus tinha feito, diziam: Este é verdadeiramente o profeta que devia vir ao mundo.

Sabendo, pois, Jesus que haviam de vir arrebatá-lo, para o fazerem rei, tornou a retirar-se, ele só, para o monte.” (João 6:14,15)

Verdadeiramente, o Senhor Jesus veio para ser rei, mas, na ocasião de Sua primeira vinda, ainda não era tempo de Ele se tornar um rei aqui neste mundo. No presente momento, o reinado de Cristo é nos Céus e através da igreja, que é o Seu corpo. Ele reina na Terra, a fim de salvar pessoas da morte e levá-las para o seu reino eterno.

Ainda não é tempo de um reino físico sobre a Terra, assim como acreditavam os judeus da época do Novo Testamento. O reino de Deus, neste tempo da Graça, não vem com “aparência exterior”, mas está entre nós, na esfera espiritual (Lucas 17:20-21), habitando dentro de cada um de nós.


Desenvolvendo a consciência de reino

O fato de o Reino de Deus ainda não estar implantado fisicamente na Terra não quer dizer que devemos negligenciar esta realidade. Em muitas passagens bíblicas, principalmente do Novo Testamento, encontramos versículos que demonstram que Deus deseja que tenhamos essa consciência de reino.

O evangelho pregado por Jesus Cristo, de fato, pode ser resumido como as boas novas do Reino de Deus. Vejamos alguns versículos:

“Mas, se é pelo Espírito de Deus que eu expulso os demônios, logo é chegado a vós o reino de Deus.” (Mateus 12:28)

“Ele, porém, lhes disse: É necessário que também às outras cidades eu anuncie o evangelho do reino de Deus; porque para isso é que fui enviado.” (Lucas 4:43)

“Curai os enfermos que nela houver, e dizei-lhes: É chegado a vós o reino de Deus.” (Lucas 10:9)

“Mas, quando creram em Filipe, que lhes pregava acerca do reino de Deus e do nome de Jesus, batizavam-se homens e mulheres.” (Atos 8:12)

“Paulo, entrando na sinagoga, falou ousadamente por espaço de três meses, discutindo e persuadindo acerca do reino de Deus.” (Atos 19:8)

Ora, vemos claramente que a mensagem trazida por Jesus, e que foi propagada pelos seus discípulos, era acerca de um reino e não de uma nova religião na Terra. Infelizmente, de forma gradativa, a igreja perdeu a consciência de reino e foi levada pelos rituais, muitas vezes influenciados pelas religiões pagãs, vindas de povos que não conheciam o Deus vivo, ou mesmo derivados dos rituais da Lei de Moisés (sobre isso, veja a postagem anterior).


O que é um reino?

Vamos começar do mais básico, pois atualmente vivemos – pelo menos aqui no Brasil – em uma nação que não é monarquia, mas uma democracia. Dessa forma, é necessário construirmos um entendimento básico acerca de reino.

Pois bem, um reino é uma nação e, portanto, tem um território. O território de um reino é governado pelas leis oriundas do governo do reino. Este governo não é eleito democraticamente, mas é transmitido pela genealogia, ou seja, o descendente mais velho do rei receberá o reino por herança.

Um exemplo disso é  que recentemente o mundo acompanhou a transmissão do poder da Rainha Elizabeth  II para o seu filho mais velho, Charles III, que agora é o rei da Inglaterra e chefe da Commonwealth, uma grande organização intergovernamental composta por 56 países independentes.

Quando falamos de reino, existem algumas diferenças desse sistema de governo com relação à democracia, as quais são importantes para entendermos bem as Escrituras. Em especial, devemos lembrar que Deus falava dentro de uma cultura de reino antiga.

Nos tempos passados, a palavra de um rei não podia voltar atrás, e essa deve ser a nossa consciência com relação ao reino de Deus. A palavra de Deus, uma vez emitida, não volta atrás. A exceção é quando Deus profere um juízo passível de arrependimento. Nesse caso, quando os homens se arrependem de seus pecados, Deus retrocede no juízo que havia decretado. Vemos isso em algumas ocasiões nas escrituras (por exemplo, no livro do profeta Jonas).

Em geral, nos reinos da atualidade, é possível haver mudança das leis, mas, no Reino de Deus, as leis são eternas. Assim sendo, é necessário que os cidadãos celestiais compreendam bem as leis do Senhor, a fim de se beneficiarem delas e não caírem em condenação.


Nosso governo é celestial

Muitos cristãos da atualidade parecem não ter a mentalidade nas coisas celestiais, demonstrando uma visão limitada às coisas da Terra. Mas, através do livro de Filipenses, Deus busca realinhar a nossa mente com o seu Reino.

Aqueles cuja mentalidade é voltada para as coisas terrenas são condenados por Deus através dos versículos que antecedem o versículo ora estudado:

“Porque muitos há, dos quais muitas vezes vos disse, e agora também digo, chorando, que são inimigos da cruz de Cristo, cujo fim é a perdição; cujo Deus é o ventre, e cuja glória é para confusão deles, que só pensam nas coisas terrenas.” (Filipenses 3:18-19)

Acredito que o apóstolo Paulo estava falando aqui dos religiosos judeus, os quais tentavam matá-lo. Eram pessoas que pertenciam a Israel, o povo de Deus, mas não conheciam a Deus e perseguiam os discípulos do Senhor. O próprio Jesus criticou pesadamente os fariseus por terem uma aparência de piedade, mas, por dentro, serem espiritualmente mortos.

“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda a imundícia.” (Mateus 23:27)

Uma vez que você aceitou Jesus como seu Senhor, você também O aceitou como o seu rei. Desta forma, o governo que deve comandar a sua vida é o governo celestial, e não mais um governo terreno. Da mesma maneira, a nossa fonte de justiça, paz, alegria, provisão e saúde torna-se os Céus e não os governos terrenos.

Claro que, considerando que o Reino de Deus é um reino espiritual, Deus poderá usar o governo humano para executar o Seu propósito na Terra, mas precisamos ter a consciência de que a fonte dos nossos benefícios vem da nossa cidadania no Reino de Deus. Assim, “não temeremos, ainda que a terra se mude, e ainda que os montes se transportem para o meio dos mares” (Salmos 46:2), ou seja, ainda que as circunstâncias deste mundo físico mudem, os Céus não mudarão a sua lei ou o seu governo, e continuaremos tendo os benefícios desta cidadania.


Direitos e deveres celestiais

No versículo que estamos estudando hoje (Filipenses 3:20), o apóstolo Paulo, pelo Espírito Santo, nos fala que a “nossa cidadania é dos Céus”. Você encontrará algumas traduções da Bíblia usando a palavra “cidade”. Vamos examinar a palavra originalmente usada aqui:

πολίτευμα (políteuma) vem da palavra πολίτης (polites) “cidadão”, e pode ser traduzida como: corpo de cidadãos de uma cidade, cidadania, direitos de cidadão, governo (de uma cidade), etc.

Nos tempos bíblicos, era normal que as cidades tivessem um governo independente e autônomo, sendo chamadas de “cidade-estado”. Por isso que as palavras utilizadas aqui se referem a uma cidade e não a um país. O termo “cidadania” vem da palavra “cidade”, mas atualmente é usado para se referir ao conjunto de direitos e deveres relativos a um país, geralmente composto de muitas cidades.

Deus nos chama a atenção para o fato de que a nossa cidadania é de um país espiritual,  chamado de Reino de Deus. Esta cidadania implica em direitos e deveres específicos desse reino.

As escrituras nos revelam quais são os nossos direitos e deveres enquanto cidadãos do Reino de Deus. Vejamos alguns desses direitos e deveres.


O fundamento do amor

“Amados, amemo-nos uns aos outros; porque o amor é de Deus; e qualquer que ama é nascido de Deus e conhece a Deus.

Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor.” (1 João 4:7,8)

O Reino de Deus é caracterizado com base na natureza divina, pois Deus é o seu criador e é o governo sobre esse lugar. Assim, a base das leis e da cultura do reino é o amor divino. Tanto no Velho como no Novo testamento, o amor é a base dos mandamentos, ou seja, todas as leis de Deus são fundamentadas com base nessa característica do Pai.

Justiça, paz e alegria

“Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo.” (Romanos 14:17)

Este verso demonstra que o reino de Deus não consiste em alimentos específicos ou rituais físicos, mas primeiramente em justiça. A palavra “justiça” aqui usada se refere ao “caráter do justo”, e não à justiça de julgamento, pois nesse caso a Bíblia usaria o termo “juízo”.

O Reino de Deus é um lugar onde prevalece um caráter justo, ou seja, puro, honesto e benigno. Também é um lugar de muita alegria e paz. Portanto, como cidadãos do Reino de Deus, temos o dever, e ao mesmo tempo o direito, de vivermos uma vida de paz e alegria.

Tudo isso baseado na realidade espiritual e não neste mundo terreno.

Saúde e cura

“E, em qualquer cidade em que entrardes, e vos receberem, comei do que vos for oferecido.

E curai os enfermos que nela houver, e dizei-lhes: É chegado a vós o reino de Deus.” (Lucas 10:8,9)

Quando Jesus ordenou aos seus discípulos que fossem às cidades de Israel, para anunciar o evangelho, um dos primeiros sinais da manifestação física do Reino de Deus na Terra era a cura. Isso porque no reino de Deus não há doença, e a saúde e a cura são sinais de manifestação do poder que emana do Reino.

Libertação do poder das trevas

“E, se Satanás expulsa a Satanás, está dividido contra si mesmo; como subsistirá, pois, o seu reino?

E, se eu expulso os demônios por Belzebu, por quem os expulsam então vossos filhos? Portanto, eles mesmos serão os vossos juízes.

Mas, se eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, logo é chegado a vós o reino de Deus.” (Mateus 12:26-28)

Quando o reino de Deus se manifesta na Terra, ele traz, também, libertação do pecado, da opressão maligna, e tudo o mais que são características do reino das trevas. Na passagem acima, os fariseus hipócritas e de mentalidade terrena afirmavam que Jesus expulsava os demônios por meio de Belzebu, mas Jesus explicou que não havia sentido em um reino expulsar o próprio reino.

O que na verdade acontecia – e acontece até os dias de hoje – é que o Reino de Deus expulsa o reino de Satanás.


Conclusão

Há muito o que se falar sobre os direitos e deveres de cidadãos do Reino de Deus, obviamente não há como cobrir toda a Bíblia apenas nesta postagem. O meu objetivo é fazer com que você entenda que é cidadão de um reino espiritual, governado pelo próprio Deus, através de Seu Filho Jesus.

Como cidadãos deste Reino, precisamos ter a consciência e o entendimento de que somos governados por leis eternas, sendo necessário que compreendamos essas leis e as obedeçamos, para desfrutarmos da maravilhosa realidade deste Reino na Terra.

Que a paz e alegria do Reino de Deus sejam com a tua vida. Amém.


Wendell Costa



quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

Para Conhecê-lo


Dentre os sábios do seu tempo, certamente, o apóstolo Paulo era um dos mais proeminentes. Inclusive, quando se defendeu perante o rei Agripa, Paulo foi acusado pelo governador Festo de que “as muitas letras (que Paulo sabia) faziam com que ele “delirasse”. (Atos 26:24).

No entanto, para poder adquirir um conhecimento superior, esse grande homem de Deus teria que abrir mão de muitas coisas. Ele precisaria renunciar ao que ele era e aos saberes que detinha, e Paulo escolheu pagar esse preço. Este é o conhecimento de Cristo, ou seja, o conhecimento da salvação que Deus Pai proporcionou para o homem pecador através de Seu Filho.

Passemos aos versos que estudaremos nesta postagem:

“Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo.

E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas e as considero como esterco, para que possa ganhar a Cristo.

E seja achado nele, não tendo a minha justiça que vem da lei, mas a que vem pela fé em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus, pela fé;

Para conhecê-lo, e a virtude da sua ressurreição, e a comunicação de suas aflições, sendo feito conforme a sua morte;” (Filipenses 3:7-10)


A influência do agnosticismo dentro da igreja

Nestes tempos, tenho percebido uma forte influência da filosofia agnóstica dentro da cultura cristã. Caso você não saiba o que é agnosticismo, vou esclarecer:

Agnosticismo

“Doutrina que reputa inacessível ou incognoscível ao entendimento humano a compreensão dos problemas propostos pela metafísica ou religião (a existência de Deus, o sentido da vida e do universo etc.), na medida em que ultrapassam o método empírico de comprovação científica.” (Dicionário Oxford Languages)

Basicamente, o agnóstico nega a capacidade do homem de compreender as coisas metafísicas, o que inclui muitas das verdades reveladas pelas Escrituras. De maneira geral, isso implica em uma negação ao conhecimento das realidades eternas e espirituais, em especial, o conhecimento que as religiões (entre as quais o cristianismo) oferece.

Em termos práticos, no dia a dia da vida cristã, é possível encontrarmos pessoas, na igreja, que afirmam coisas do tipo: “os caminhos de Deus são misteriosos”, “Não há como conhecer Deus”, etc., ou seja, dá-se a entender que não é possível o ser humano compreender Deus e a Sua vontade.

Nos versículos que citei anteriormente, vemos Deus, através de Paulo, falando sobre a “excelência do conhecimento de Cristo Jesus” e, depois, no verso 10, ele nos fala o objetivo de ter que abrir mão do que tinha antes: “Para conhecê-lo”. O que nos mostra que Deus deseja ser conhecido e proveu os caminhos para isso.

Ora, o próprio Senhor Jesus Cristo resume a vida eterna da seguinte forma:

“E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste.” (João 17:3)

A palavra traduzida por “conheçam” é o verbo grego γινώσκω (gnosko), que significa conhecer, compreender, etc. Este verbo vem da palavra γνῶσις (gnosis), que quer dizer “inquérito, investigação ou conhecimento”. A própria palavra “agnosticismo” deriva da palavra gnosis com o acréscimo da letra “a” (em grego, é usado a letra “alfa”). Assim, a palavra a-gnóstico refere-se a algo que não pode ser conhecido/compreendido/investigado.

Assim sendo, o agnosticismo é uma filosofia contrária às Escrituras, pois nega a nossa capacidade em compreender Deus e as coisas espirituais. A própria revelação divina, que veio das Escrituras Sagradas, perderia totalmente o sentido se, de fato, não pudéssemos compreender as coisas “metafísicas” (espirituais).


Os rituais religiosos


Como fariseu, o apóstolo Paulo era um profundo conhecedor da lei de Moisés. De acordo com o livro de Hebreus, a Lei mosaica trazia diversos tipos de sacrifícios, rituais e abluções (purificações), que deveriam ser praticadas continuamente (Hebreus 9:10).

Apesar de a lei de Moisés ter cumprido o seu papel de apontar a necessidade de salvação, ela foi cumprida e encerrada por Jesus, que inaugurou uma Nova Aliança, não mais sobre o sangue de animais, mas com Seu próprio sangue (Hebreus 9:12).

Todos aqueles elementos da Lei eram tipos ou figuras, que apontavam para Cristo e a Nova Aliança, a qual haveria de ser inaugurada por Deus num futuro. Agora, nesta aliança, não há mais necessidade da manutenção de figuras, pois já temos o “real”. De fato, a Lei é chamada de “sombra”:

“Porque tendo a lei a sombra dos bens futuros, e não a imagem exata das coisas (...)” (Hebreus 10:1a)

Vou criar uma espécie de parábola, para que você compreenda essa questão. Imagine que você vai se encontrar com alguém que nunca viu pessoalmente, e marcam o encontro em uma esquina. Na hora marcada, você se aproxima da esquina e percebe que a outra pessoa está chegando, através da sombra projetada.

Pela sombra, você consegue identificar algumas características da pessoa: se é magra ou gorda, se tem barriga, o tamanho do cabelo, etc. Contudo, muitos outros detalhes não são mostrados pela sombra, tais como cor da pele, cor dos olhos, detalhes da roupa, etc.

Finalmente, você vira a esquina e vê a outra pessoa em todos os detalhes. Mas então, você age de forma estranha, pois começa a olhar pra sombra dessa pessoa, tentando conhecê-la melhor!

Ora, se você já está olhando para o indivíduo, não há mais necessidade de tentar entender os detalhes dele através da sombra! Não é verdade?

No entanto, existem diversas igrejas e movimentos que tentam resgatar as imagens da lei mosaica para dentro do culto neotestamentário, tentando implantar elementos da Lei, tais como a arca da aliança, o candelabro e certas roupas características, bem como doutrinas extraídas exclusivamente a partir do Velho Testamento.

Por causa disso, no livro de Filipenses, mais uma vez, o apóstolo Paulo combate a prática dos rituais da Lei mosaica dentro da igreja, reforçando o fato de que a nossa justificação não vem pela prática da Lei, mas simplesmente pela fé em Jesus Cristo. Daí, também inferimos que o conhecimento de Cristo não é obtido por meio da prática de rituais religiosos, semelhantes aos da Lei, mas através das revelações de Deus, por meio de Cristo, tendo, agora, o “real” e não mais uma “sombra”.

Importante destacar que o Velho Testamento é sim a Palavra de Deus, contudo ele precisa ser interpretado com a luz que veio no Novo Testamento, de forma a ser corretamente compreendido. Muitas pessoas e igrejas da atualidade erram quando desconsideram a doutrina da Nova Aliança e se baseiam quase que completamente nos textos do Velho Testamento para ensinar sobre Deus.

“Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo.” (João 1:17)

Somente a partir da Nova Aliança, o Espírito Santo foi colocado dentro de nossos espíritos, porque o novo nascimento só veio através de Cristo. A lei de Moisés não foi dada para tornar o homem justo, mas para expor o pecado, ou seja, a natureza pecaminosa que havia dentro do homem. Assim sendo, os santos do velho testamento não tinham condições de compreender plenamente as realidades espirituais da mesma forma como hoje temos e, por isso, precisavam das figuras trazidas pela lei para formarem seu entendimento.


Abrir mão do conhecimento do mundo


Mesmo com todo o status trazido pela sua posição social enquanto fariseu, Paulo optou por abrir mão de tudo aquilo, em prol do conhecimento de Cristo. O que nos traz uma importante lição: é necessário abrirmos mão do conhecimento mundano para que possamos adquirir o conhecimento divino.

O apóstolo Tiago nos ensina que não é possível termos uma fonte que jogue água doce e amarga ao mesmo tempo:

“Porventura, deita alguma fonte, de um mesmo manancial, água doce e água amargosa?

Meus irmãos, pode também a figueira produzir azeitonas ou a videira, figos? Assim, tampouco pode uma fonte dar água salgada e doce.” (Tiago 3:11,12)

Uma vez que o mundo foi contaminado pelo mal, praticamente todo o conhecimento que existe nesta terra está misturado. Você se recorda que a tentação inicial que houve no Jardim do Éden foi exatamente para que o homem comesse da árvore do “conhecimento do bem e do mal”?

Uma vez que Adão permitiu que o conhecimento misturado entrasse dentro de si, isso afetou toda a raça humana. A partir de então, o homem ficou exposto a um conhecimento corrompido, que tem seu lado bom, mas que mistura com a rebelião contra Deus. Um bom exemplo é o conhecimento obtido pela ciência da Biologia: por um lado, aprendemos coisas importantes sobre a natureza, por outro lado, aprendemos que o homem e o macaco vieram de um mesmo ancestral.

Mas, em Filipenses 2:15, já vimos que somos chamados para sermos “irrepreensíveis e sinceros [GREGO: AKÉRAIOS], filhos de Deus inculpáveis, no meio de uma geração corrompida e perversa”. Isso nos mostra que precisamos buscar uma purificação do conhecimento (o qual gera comportamento) misturado deste mundo. A palavra grega AKÉRAIOS significa puro ou “não misturado”.

Não é que seja errado você estudar a ciência humana, mas é necessário guardarmos o nosso coração, para não nos deixarmos corromper pela rebelião contra Deus, que está misturada dentro das ciências humanas. É preciso que a nossa base seja a Palavra de Deus. Todas as demais coisas precisam ser julgadas por ela.

Além disso, na medida do possível, devemos ter uma atitude de separação diante do mundo, tentando, ao máximo, evitar a contaminação com o conhecimento misturado que Adão permitiu entrar na terra.

Portanto, minimize o conhecimento secular que entra no seu coração, restringindo ao que seja essencial ao seu ofício ou aos seus estudos. Principalmente, dedique-se ao estudo e meditação das Escrituras Sagradas, para que a Palavra de Deus seja o fundamento da sua vida e você tenha condições de examinar tudo por meio dela.


Participantes do sofrimento de Cristo

O último ponto que tratarei neste estudo é de fundamental importância. Já percebi um engano presente em muitas pessoas que desejam conhecer mais da Bíblia: querem apenas conhecer intelectualmente as Escrituras, muitas vezes, apenas para ganhar discussões ou debates com as outras pessoas, e não para viver a natureza divina em suas vidas.

Vejamos o último versículo estudado:

“Para conhecê-lo, e a virtude da sua ressurreição, e a comunicação de suas aflições, sendo feito conforme a sua morte;” (Filipenses 3:10)

É fundamental compreendermos que os itens que o apóstolo Paulo citou, no versículo acima, estão interligados: não há como conhecermos a virtude da ressurreição de Cristo sem sermos também participantes de Seus sofrimentos.

O conhecimento e a sabedoria que Deus nos entrega não são para desenvolver em nós a soberba, sobressaindo-nos das outras pessoas em discussões e contendas de palavras. O conhecimento divino nos é dado para que possamos viver Cristo aqui na terra, andando em amor e sendo imitadores do Senhor em tudo. De fato, são ferramentas para que possamos cumprir o chamado divino de filhos e servos, assim como foi com Cristo, que sendo Deus, se fez escravo (Filipenses 2:5-8).

Sobre os sofrimentos de Cristo, há muito que se falar, no entanto, não está no escopo deste estudo. Mas, de forma resumida, podemos listar alguns desses sofrimentos:

  • Deixou a Sua glória de Rei Celestial e veio a este mundo caído, nascendo em um estábulo, ficando sobre uma manjedoura, que é o local onde se coloca alimento para os cavalos.
  • Sendo um Espírito eterno, se fez mortal e suscetível ao cansaço, fome, dores, sangramento e à morte.
  • Sendo o Criador de tudo, foi humilhado, criticado, espancado e assassinado injustamente pelas suas próprias criaturas.
  • Foi fiel até a morte, e morte de cruz.
  • Dentre outras coisas…

Assim, para compreendermos plenamente o conhecimento de Cristo, é necessário ir muito além do mero conhecimento intelectual. É necessário experimentarmos Cristo por completo, pois o conhecimento que Deus nos dá em Cristo não é apenas informação, mas vida.

Por fim, é necessário também entender que o crescimento espiritual é gradativo. Não teremos condições de implementar todas estas coisas em nossas vidas da noite para o dia. Mas é necessário a vez um passo firme nessa direção. Deus é aquele que nos conduz nesse processo, implantando Sua Palavra em nosso coração e nos dando força para prosseguir na jornada de crescimento.


Conclusão

O “pacote” da salvação é completo, tendo um conhecimento e sabedoria superiores, mas que também envolve certos tipos de sofrimentos que passamos por causa do nosso Senhor.

Somos abençoados com toda sorte de bênçãos, nas regiões celestiais, mas fomos alertados que neste mundo teríamos aflições e que seríamos perseguidos por causa de Cristo.

Temos acesso à Palavra que salva, instrui e liberta, mas devemos vigiar, para que esta Palavra encontre solo fértil no nosso coração e dê muitos frutos.

Para isso, precisamos ter um alvo claro em nossa mente, a fim de nos motivarmos para encarar esse processo de adquirir o conhecimento de Cristo.

Que a graça do Senhor Jesus Cristo seja com você.

Wendell Costa

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