quinta-feira, 8 de junho de 2023

Amados e queridos, minha alegria e coroa


Quando o mundo fala de amor, está se referindo a um sentimento que, muitas vezes, é efêmero e passageiro, estando mais para a “paixão” (um desejo intenso) do que para um sentimento duradouro e constante. No entanto, o amor revelado nas Escrituras Sagradas – como sendo do próprio Deus –, trata de algo muito mais amplo, pois o amor de Deus não se restringe a um mero sentimento, mas a uma “natureza”: a natureza de Deus.

No versículo que estudaremos nesta postagem, Cristo se manifesta, através do apóstolo Paulo, expressando o Seu sentimento divino por nós. Como já reforcei em outros textos desta série, Cristo nos comunica a Sua mente nesta epístola. Não devemos ver a carta de Filipenses como meras palavras humanas, mas como o próprio Jesus falando conosco de forma pessoal. Agora, vejamos o versículo:

“Portanto, meus amados e mui queridos irmãos, minha alegria e coroa, estai assim firmes no Senhor, amados.” (Filipenses 4:1)

Ao iniciarmos o capítulo 4, em uma leitura superficial, pode-se perder a profundidade das palavras ali escritas, mas quando estudamos este versículo de forma mais cuidadosa, palavra por palavra (inclusive usando o original grego), podemos nos aprofundar no texto e obter um vislumbre do grande amor de Deus por nós.

Passemos a analisar cada uma das palavras aplicadas à igreja e utilizadas neste versículo.


Amados e mui queridos

Cristo, através de Paulo, começa declarando que somos “amados”, usando, originalmente, a palavra ἀγαπητός (agapetós), palavra esta derivada da conhecida palavra ἀγάπη (agápe) (amor) e do verbo amar: ἀγαπάω (agapáo).

É de se observar que temos uma outra palavra, que era comumente usada no grego, para descrever o verbo amar, que é a palavra φιλέω (filéo). De acordo com o dicionário de grego bíblico Strong, filéo é traduzido como:

fileo - ser amigo de (apreciador de) [um indivíduo ou um objeto], isto é, ter afeição por (denotando apego pessoal, ligado a sentimento)

Desta palavra, temos uma outra, derivada, que é φίλος (philos) “amigo, associado”. Dela, tiramos, por exemplo, a palavra filosofia (philos-amigo, sophia-sabedoria), dentre outras.

Enfim, trago estas explicações, porque o uso da palavra agapetós, no lugar de philos, demonstra que o amor com o qual Deus nos ama vai além da mera amizade.

O amor “agape” tem um sentido mais amplo, sendo usado na Bíblia para descrever o amor que Deus tem por nós. De fato, quando se trata do amor de Deus, isso é mais que um mero sentimento, porque o amor é a própria natureza de Deus.

“Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor [agápe].” (1 João 4:8)

Voltando ao verso de hoje, devemos nos lembrar que a divisão da Bíblia em capítulos e versículos não é original, ou seja, é algo que foi acrescentado posteriormente. Assim, podemos entender que o texto de Filipenses 4:1, funciona como uma conclusão para o que o apóstolo escreve no capítulo 3, assuntos esses que já estudamos em outras postagens.

Nos versos que antecedem ao ora estudado, ou seja, Filipenses 3:20-21, as Escrituras nos revelam um pouco daquilo que Deus preparou para nós através de Cristo: uma cidadania celestial que nos dá direito a uma vida eterna de glória inimaginável.

Ora, tudo o que Deus preparou  foi por causa de seu amor imenso por nós. O Criador de todo o universo foi capaz de se tornar homem e morrer uma morte humilhante e dolorosa, para assumir o lugar da criatura pecadora, a fim de nos salvar na separação eterna de Deus.

Deus Pai não tinha nenhuma obrigação de fazer tal coisa, mas Ele preparou um plano para nos salvar e levou este plano a efeito. Tudo isso motivado por Si mesmo, por Seu grande amor com que nos amou.

A outra palavra utilizada no que se refere a nós é a palavra grega ἐπιπόθητος (epipóthetos), que quer dizer “desejado” ou “querido”.

Quando amamos alguém, nós desejamos o melhor para ela. Além disso, desejamos estar perto e queremos compartilhar nossa vida com tal pessoa. Pois bem, esse é o desejo de Deus com relação a nós, Ele nos quer tanto que pagou um preço altíssimo para poder nos ter consigo.

Em diversos pontos das Escrituras, o amor de Deus pelo homem é comparado ao desejo de um marido por sua esposa. Em especial, temos na Bíblia um livro que, por muitos, é considerado um livro “erótico”, não no sentido malicioso da palavra (não é um livro pornográfico), mas um livro que mostra o desejo do homem pela mulher e o desejo da mulher pelo homem. No seu sentido espiritual, o livro de Cantares (Cântico dos Cânticos) revela todo o desejo que o próprio Deus sente pelo homem.

Vejamos apenas alguns desses versículos:

“Eis que és formosa, ó meu amor, eis que és formosa; os teus olhos são como os das pombas.” (Cânticos 1:15)

“Que belos são os teus amores, minha irmã, esposa minha! Quanto melhor é o teu amor do que o vinho! E o aroma dos teus unguentos do que o de todas as especiarias!

Favos de mel manam dos teus lábios, minha esposa! Mel e leite estão debaixo da tua língua, e o cheiro dos teus vestidos é como o cheiro do Líbano.

Jardim fechado és tu, minha irmã, esposa minha, manancial fechado, fonte selada.” (Cânticos 4:10-12)

Quando Deus criou o casamento, Ele desejava revelar a Sua vontade para nós. Por esse motivo, o casamento deve ser “venerado”, ou seja, digno de toda honra, assim como está escrito no livro de Hebreus 13:4. Portanto, o casamento tem uma função didática, no sentido de nos revelar o amor e o desejo de Deus por nós, assim como o marido ama e deseja a sua esposa.

Esta ideia de que o casamento representa, na Terra, a relação entre Cristo e a Igreja é desenvolvida, explicitamente, em Efésios 5:22-33, nos conhecidos versos que orientam como o marido deve tratar sua esposa e vice-versa.


Alegria e coroa

No livro do profeta Isaías, é falado que Deus olhou o trabalho da sua alma e ficou satisfeito (Isaías 53:11). O texto se refere à obra redentora de Cristo, ao entregar Sua vida por nós. Apesar de ter sido muito sofrido para o Pai e o Filho, o resultado desse sacrifício trouxe salvação eterna para a humanidade, o que deixou Deus “satisfeito”, pois Ele nos ama muito.

É interessante entender que Deus ficou satisfeito com o resultado da salvação, provida por meio de Cristo, e que, portanto, somos a sua “alegria”. Deus sente alegria em nos ter como Seus filhos, Ele se alegra em ter comunhão conosco.

Essa ideia, no entanto, é contrária àquela que muitas pessoas, inclusive cristãos, têm. 

Viemos do mundo, com muitas ideias equivocadas acerca de Deus, por exemplo, a de um homem barbudo e carrancudo assentado no trono, pronto para castigar-nos ao menor sinal de erro. Nossa mente tende a não aceitar a ideia de que nós somos uma alegria para o nosso Pai celestial.

Quando meus filhos eram pequenos, era muito prazeroso brincar com eles e vivermos “grandes aventuras”... Essas aventuras podiam ser apenas um passeio ao redor da casa, fingindo que estávamos em uma floresta. Mas tanto eu como eles amávamos esses momentos de comunhão juntos. Até hoje lembramos com alegria dessas ocasiões.

Assim também Deus sente alegria por nos ter como Seus filhos e, em especial, quando passamos tempo juntos com Ele, compartilhando nossas vidas e andando conforme a Sua Palavra.

O esforço e o trabalho que Deus Pai fez para nos trazer de volta para Ele mesmo foi imenso, e acredito que nós não possamos compreendê-lo plenamente neste presente tempo. O plano de Deus foi posto em ação desde o Éden, assim que o homem pecou.

“E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.” (Gênesis 3:15)

Aqui é necessário interpretação com base no restante da revelação vinda das Escrituras. Após a desobediência de Adão, Satanás obteve acesso à humanidade para trazer a morte, por causa do pecado. Mas a semente da mulher, que se refere a Cristo, feriria a cabeça da serpente, ou seja, removeria o poder do diabo sobre o homem, permitindo a nossa redenção.

A partir de então, ao longo das eras, Deus pôs em atividade o seu plano de salvação. Este plano culminou com a vinda do Seu Filho para a Terra, em forma de servo, em forma de homem, para oferecer-se em sacrifício no nosso lugar. Assim, Cristo absorveu os pecados de toda a humanidade, em todos os tempos, e ressuscitou, vencendo a morte.

A coroa era dada a todo aquele que vencesse, quer uma batalha, quer uma competição. Portanto, a coroa representa uma premiação, algo que Jesus conquistou. E a Bíblia revela o que Jesus conquistou: nós.

Nós somos o objeto do amor de Deus desde o princípio. Fomos nós que nos perdemos, nos desviando do nosso Criador e Pai. Então, nós, que fomos alcançados por sua graça e decidimos seguir o Seu Filho, somos a Sua coroa, ou seja, o seu prêmio.

É fundamental entendermos tais coisas, pois já aconselhei muitas pessoas que estavam arrasadas, algumas até pensando em tirar a sua própria vida, se achando indignas de continuarem vivendo, pois acreditavam que Deus as tinha rejeitado. Isso não poderia ser mais distante da verdade.

Todo o trabalho divino e o alto preço que Deus pagou, para nos ter como filhos novamente, demonstram Seu grande amor e desejo por nós. Somos uma alegria para Ele, a despeito de nossas fraquezas e imperfeições.

Compreenda que o Criador de todas as coisas ama você e deseja você para Ele. Este amor é a própria base da mensagem do evangelho. Infelizmente, a religião distorce a verdadeira mensagem do evangelho, trazendo uma pregação que mostra um Deus insatisfeito, iracundo e que não parece ser o “Deus de amor” falado na Bíblia.


Estai, assim, firmes

Quando eu era criança, meus pais comumente estavam fora de casa. Meu pai trabalhava para a prefeitura e costumava fazer tarefas externas, embora não trabalhasse viajando. Minha mãe também trabalhava fora e saia de casa para dar seu expediente. Assim, era comum eu e meu irmão ficarmos apenas com a empregada.

Lembro que quando meus pais estavam em casa, eu me sentia mais seguro. Meu pai não era tão amoroso mas, ainda assim, eu tinha essa sensação de segurança. Quando um filho tem o sentimento de que seu pai está pertinho, ele se sente seguro e, portanto, possui mais firmeza no agir.


Quando eu tinha 14 anos de idade, meus pais se separaram. Lembro bem da conversa que minha mãe teve comigo e com meu irmão. Ao nos contar que eles estavam se divorciando, a sensação que eu tive foi de muita insegurança. Foi um sentimento muito ruim, que eu não desejo para ninguém: senti-me só e desamparado.

Trazendo para o contexto do nosso relacionamento com Deus, quando compreendemos este grande amor que o nosso Criador tem por nós, a sensação de segurança enche e domina os nossos corações.

Por isso, o versículo que estamos estudando nesta postagem, traz esta conclusão lógica: somos amados e queridos por Deus, somos a sua alegria e coroa. Portanto, nosso coração pode descansar neste amor que Deus sente por nós e que O moveu a fazer todo o sacrifício necessário para que pudéssemos ser Seus filhos.

De acordo com o dicionário de Thayer, o verbo aqui traduzido como “estar firme” é este:

στήκω (steko)

  • 1) estar (de pé) firme
  • 2) perseverar, persistir
  • 3) manter-se firme na posição

No meio das tribulações da vida, entender que Deus nos ama e nos deseja, e saber que Ele se dispôs a pagar um altíssimo preço por nós, nos ajudará a nos mantermos firmes na fé, pois nos trará toda a segurança de sabermos que o nosso Pai jamais nos abandonará.

Esteja firme no Senhor, amado/amada.


Wendell Costa



IMAGENS (disponibilizadas gratuitamente)

Imagem 1:  Photo Mix de Pixabay

Imagem 2:  Pexels de Pixabay

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