segunda-feira, 5 de março de 2018

Andando em Espírito 1 - Obras e Rituais


O que é "andar em espírito"? Se você é cristão, já ouviu a expressão "fulano é alguém espiritual", ou já pode ter ouvido esta outra: "beltrano é alguém carnal". Afinal de contas, o que significa ser alguém espiritual ou ser alguém carnal?

Bem, a Palavra de Deus nos diz que devemos andar em espírito, e isto é algo que precisamos entender. Nesta nova série de estudos, vou mostrar como nós, cristãos nascidos de novo, podemos atender a este mandamento do Senhor e andarmos em espírito.

Vejamos o que as Escrituras nos falam no que diz respeito a este tema:
"Digo, porém: Andai em Espírito, e não cumprireis a concupiscência da carne.
Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis.
Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei."
(Gálatas 5:16-18)
Ora, "andar em espírito" não significa que nosso espírito irá sair de nosso corpo e começar a andar por aí, mas sim que iremos viver a nossa vida tendo por base as realidades espirituais da nossa nova vida em Cristo.

Convido você a mergulhar neste novo estudo que irá nos ensinar sobre este importante tema.

Andar em Espírito: Um Mandamento


No verso 16 visto acima, temos um mandamento: "andai em espírito" (aqui, estou colocando o termo "espírito" com o "e" minúsculo para demonstrar que entendo ser o espírito humano). O verbo original em grego está realmente no tempo "imperativo", que é o tempo verbal que expressa uma ordem, pedido, conselho, etc.

Logo depois, temos "...e não cumprireis a concupiscência da carne", neste caso, o verbo está em um tempo verbal chamado aoristo, que não possui correspondente em português, mas que pode ser traduzido como gerúndio + particípio, ou seja, poderia ser traduzido como "não tendo cumprido". Isto mostra que quando andamos em espírito, por consequência, não cumpriremos os desejos da carne.

Esta forma de ver o andar em espírito pode ser estranha para muitas pessoas, pois fomos ensinados a ver a religião como um conjunto de regras que obedecemos para agradarmos a Deus. No entanto, a salvação trazida por Jesus é muito mais que uma religião e não se resume a um conjunto de regras.

Quando andamos da forma como Deus ordena, nós não andaremos em pecados. Mas esta forma santa de viver é uma consequência, um sub-produto, do "andar em espírito". Assim, antes de explicar o que significa "andar em espírito", gostaria de mostrar a você que seguir preceitos religiosos, ainda que seja a religião cristã, não significa que você está andando em espírito.

Regras e Rituais


Em Gálatas 5, vemos um claro contraste entre o "andar pelo espírito" e o "andar pela carne". A partir do verso 19, o apóstolo Paulo, pelo Espírito Santo, mostra quais são estas obras da carne: adultério, prostituição, impureza, lascívia, iras, contendas, etc. Quem pratica estas obras não está agradando a Deus, pois são obras pecaminosas, ou seja, vão contra a natureza divina.

Chega a ser intuitivo o fato de que, se as pessoas praticam estas obras, isso irá provocar destruição na sociedade. Assim, a grande maioria das religiões cria regras pra controlar o comportamento das pessoas, procurando evitar os males advindos de um comportamento maligno. Mas, será que apenas obedecendo estas regras religiosas, nós podemos realmente agradar a Deus? E será que obedecer a esses preceitos podem nos mudar realmente?
"Se, pois, estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos carregam ainda de ordenanças, como se vivêsseis no mundo, tais como:
Não toques, não proves, não manuseies
As quais coisas todas perecem pelo uso, segundo os preceitos e doutrinas dos homens;" (Colossenses 2:20-22)
O versículo acima mostra que as religiões e suas regras não são coisas de Cristo, mas sim coisas do mundo, pois foram criadas por homens e não reveladas por Deus (a exceção é os rituais da Lei de Moisés, os quais explicarei mais adiante). Desta forma, apenas obedecer a regras e rituais, ainda que demonstrem auto controle e disciplina, não nos ligam de volta a Deus, pois apenas Cristo pode fazer isto.

De fato, se apenas obedecermos a ordenanças, regras e rituais, estaremos andando segundo a carne, e não segundo o espírito. Veja o verso seguinte ao citado acima:
"As quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria, em devoção voluntária, humildade, e em disciplina do corpo, mas não são de valor algum senão para a satisfação da carne." (Colossenses 2:22,23)
Certa vez, um irmão novo convertido me falou que, agora que ele havia sido batizado, gostaria de saber o que "podia e o que não podia" na igreja, e quais eram as "regras" pra ser cristão. Tentei explicar a ele que a vida cristã não era um conjunto de regras, mas que ele poderia se orientar pela regra do amor:
"Porque toda a lei se cumpre numa só palavra, nesta: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo." (Gálatas 5:14)
No demais, a vida cristã pode ser resumida da seguinte forma: Cristo nos torna novas criaturas, mortas para o pecado e vivas para Deus; a partir de agora, precisamos aprender quem é esta nova criatura e andar de acordo com ela!

"Se queres ser perfeito..."


Certa vez um jovem rico veio até Jesus para saber como herdar a vida eterna. Apesar de esta história estar nos 3 evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas), usarei a versão de Mateus. Bem, ao responder ao jovem, Jesus fala o seguinte:
"Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me." (Mateus 19:21)
Aquele jovem sabia que "havia algo mais", e ele desejava isto, contudo, não foi capaz de se desfazer dos bens, já que era rico, para seguir Jesus. Muitas pessoas conhecem esta história mas não a compreendem por inteiro. Gostaria de tecer algumas considerações sobre ela.

Jesus sabia o que estava no coração do jovem, e por isso falou "se queres ser perfeito (...)". Aquele jovem também sabia que não era perfeito e que havia algo além dos mandamentos que ele já seguia desde a infância (ele afirmou isso verso 20). O jovem sabia que apenas seguir mandamentos, ainda que dados por Deus, não o havia tornado "perfeito".

Jesus veio trazer algo que a Lei de Moisés não podia trazer: a justificação e a perfeição!

Somente através de Jesus Cristo somos aperfeiçoados diante de Deus, contudo, isto não vem através da observância de regras e rituais religiosos. Apenas fazer certa obra, ou cumprir certo ritual não tem poder para fazer a transformação que o homem precisa: uma transformação no espírito humano.

A Lei de Moisés: Uma Sombra


Infelizmente, a igreja do Senhor parece não compreender a diferença entre a Antiga e a Nova Aliança, e tenta misturar as duas alianças, sendo que não há compatibilidade entre elas: ou você está em uma ou está em outra.
"Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da graça tendes caído." (Gálatas 5:4)
Na Nova Aliança, que é uma aliança muito superior à antiga, Deus nos dá aquilo que a Lei de Moisés não conseguia dar, pois Deus nos torna novas criaturas (2 Coríntios 5:17) e nos aperfeiçoa. Aperfeiçoar significar tornar "perfeito", ou "completo". Esta realidade é espiritual, contudo é bem real, e não apenas teórica, como alguns pensam.

Os diversos rituais, ofertas e sacrifícios trazidos pela Lei de Moisés eram apenas sombra de coisas futuras e não a realidade das coisas. Tais rituais não tinham a capacidade de nos tornar perfeitos em espírito, mas apenas apontavam para algo que haveria de vir, ou seja, apontavam para Cristo e a Nova Aliança.

Falando sobre a Velha Aliança (a Lei de Moisés), o escritor aos Hebreus assim fala:
"Que é uma alegoria para o tempo presente, em que se oferecem dons e sacrifícios que, quanto à consciência, não podem aperfeiçoar aquele que faz o serviço;
Consistindo somente em comidas, e bebidas, e várias abluções e justificações da carne, impostas até ao tempo da correção."
(Hebreus 9:9,10)
Mesmo os rituais dados por Deus para o povo hebreu não tinham o poder de torná-los justos aos olhos de Deus. De qualquer forma, eles precisavam ter fé naquilo que faziam, e, através da fé na Palavra de Deus, eram justificados, no entanto, o ritual em si não o fazia, mas sim a fé.

Muitos cristãos ainda buscam se justificar por meio de rituais sem ter uma compreensão clara do porquê da Lei de Moisés. Desta forma, tentam compatibilizar as alianças e fazer uma espécie de mistura entre elas, sendo que cada denominação faz a sua própria mistura, o que faz com que haja muitas diferenças doutrinárias entre as diversas denominações cristãs.
"Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados,
Que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo."
(Colossenses 2:16,17)
Precisamos entender que até mesmo coisas como a guarda do sábado não foram projetados para a Nova Aliança, mas são sombras de coisas que temos hoje em Cristo. Estas figuras buscavam formar na mente dos homens uma imagem física de coisas que haveriam de vir, de forma a permitir que Deus preparasse o caminho para a Nova Aliança através de sangue, o sangue do próprio Filho de Deus.

Não há como eu tratar aqui sobre cada figura usada na Velha Aliança e o que ela representava na Nova, nem há como mostrar os propósitos da Lei de Moisés, portanto, indico o meu estudo sobre a Verdadeira Natureza de Deus Parte 11 - Os Propósitos da Lei, que poderá lançar mais luz sobre este tema pra você.

A Justificação Mediante a Fé


Ser justificado significa que Deus nos torna justos perante Ele. Esta justificação não podia ser obtida pelas nossas próprias obras. A Lei de Moisés restringiu o pecado pelo temor, pelo medo da morte, pois muitos dos pecados eram punidos com morte. Isto serviu de preparação para a vinda de Jesus, mas não foi projetado para continuar para os que se convertessem a Cristo.

Vamos examinar o que Deus nos fala no livro de Romanos:
"Porquanto o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne, Deus, enviando o seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne;" (Romanos 8:3)
A Lei era um conjunto de regras, rituais e sacrifícios que foram ordenados ao povo de Israel, no entanto, eles não conseguiam se manter nessa Lei por muito tempo sem falhar. Na verdade, este era o objetivo: expor o coração pecaminoso do homem. Assim, a lei estava "enferma" (fraca) pela carne do homem, que era pecadora. Mesmo que a Lei fosse de Deus, ou seja, era algo espiritual, os homens estavam escravizados pelo pecado, não sendo capazes de obedecer aos mandamentos com perfeição.

Deus envia o Seu Filho Jesus, em forma de homem, e Jesus é feito pecado por nós, recebendo sobre Si mesmo a condenação do pecado através de Sua morte na cruz. Assim, o pecado é condenado em Jesus, e nós podemos, através da fé, receber o perdão dos nossos pecados e a vida eterna.

Esta grande salvação não vem através de nada que façamos, ela é imputada por Deus quando cremos neste sacrifício de Jesus. É uma salvação gratuita, sendo-nos, contudo, exigida a para que a recebamos.

Assim sendo, somente através do milagre do novo nascimento, trazido por Jesus, é que nós podemos receber este presente de Deus: a regeneração (recriação) de nosso espírito; um espírito novo, santo, perfeito, para podermos servir a Deus em "novidade de espírito":
"Mas agora temos sido libertados da lei, tendo morrido para aquilo em que estávamos retidos; para que sirvamos em novidade de espírito, e não na velhice da letra." (Romanos 7:6)

Conclusão


Nesta primeira parte sobre o "andar em espírito", entendemos que não são através de obras ou rituais que andamos em espírito. Inclusive, ao seguirmos tal mentalidade, estamos, na verdade, andando segundo a carne.

Nas próximas lições, veremos como conhecer quem nós somos em espírito, a fim de andarmos de acordo com esta nova realidade em Cristo.

Que a paz do Senhor seja com o teu espírito. Amém.

Pr. Wendell Costa

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