segunda-feira, 10 de julho de 2017

Amor - A Verdadeira Natureza de Deus - Parte 7

Pintura "Jó", de William Blake.

O Livro de Jó


Quando o assunto é a bondade de Deus, um personagem bíblico é sempre lembrado: ! Afinal de contas, quando lemos o livro de Jó de per si, temos a impressão de que Deus o entregou nas mãos do diabo, mesmo após tê-lo elogiado (Jó 1:8). Ficamos com um certo receio de questionar: mas como Deus elogia o Seu servo Jó e depois o entrega nas mãos de satanás, só porque satanás faz uma acusação?

Nesta sétima parte deste estudo, quero examinar o conteúdo do livro de Jó à luz da Graça de Jesus Cristo, e veremos que Deus continua sendo bom, e o episódio da vida de Jó em nada pode lançar dúvidas sobre o amor do Pai, exceto para aqueles que leem este livro de forma superficial e isolada do restante das Escrituras.

Contudo, quero deixar claro que não cobrirei com muitos detalhes todo o livro de Jó, mas apenas alguns pontos importantes para que você possa entender que não foi Deus quem entregou Jó ao diabo de forma arbitrária simplesmente porque o diabo o acusou. No final deste texto, coloquei alguns links para que você possa se aprofundar neste tema.

Quem foi Jó?


Jó foi um homem rico que viveu em uma terra chamada "Uz" (não se sabe ao certo onde ficava), e que era temente ao Senhor, apesar de nunca ter tido experiências reais com Deus no período anterior ao seu sofrimento.

O Livro de Jó é provavelmente o mais antigo da Bíblia, pois foi escrito anteriormente à Lei de Moisés. Muitos acreditam que os eventos descritos nele poderiam ter ocorrido até mesmo antes do dilúvio, no entanto, provavelmente ele foi contemporâneo de Abraão.

Como Jó não tinha a Lei de Moisés ainda, ele mesmo oferecia sacrifícios por seus filhos após eles darem seus banquetes; os sacrifícios tinham o fim de santificá-los, ou seja, limpá-los de seus pecados (Jó 1:5). Ora, Jó era um homem "íntegro, reto e temente a Deus e se desviava do mal" (Jó 1:1).

Por que satanás teve acesso a Jó?


Antes de mais nada, é fundamental compreendermos qual o contexto espiritual no qual Jó vivia. Precisaremos lançar a luz do Novo Testamento para iluminar os escritos do Velho Testamento, como já fiz outras vezes. Antes de mais nada, vamos entender o que é uma "aliança" e para que serve.

As alianças que Deus fez com o homem possuem a capacidade de protegê-lo do maligno, sendo que a Nova Aliança em Cristo é muito superior à Antiga. Ocorre que Jó não estava nem debaixo da Nova, nem da Velha Aliança. Desta forma, ele estava desprotegido dos ataques do inimigo. Novamente, enfatizo aqui que este assunto mereceria um tratamento maior e por isso reforço a indicação dos links ao final do texto, em especial o livro do Professor e Pastor Tassos Lycurgo sobre o tema.

Após o pecado do homem, satanás obteve acesso ao mundo físico e trouxe, com ele, a morte. Espiritualmente falando, a morte é um lugar no qual satanás tem condições de operar, conforme vemos no verso abaixo:
"...derrotasse aquele que tem o poder da morte, isto é, o diabo..." (Hebreus 2:14)
A palavra traduzida por "poder" acima é o termo grego kratos que significa "domínio". Na Bíblia King James, por exemplo, kratos é traduzido como "domínio" em 1Pedro 5:11, Judas 1:25 e Apocalipse 1:6.

Isto significa que satanás tinha um acesso praticamente livre na humanidade até antes da Lei de Moisés. Veja só:
"No entanto, morte reinou desde Adão até Moisés..." (Romanos 5:14)
Jamais foi a vontade de Deus que Jó passasse por sofrimentos. De fato, quando Deus, aparentemente, "entregou" a vida de Jó nas mãos de satanás, Ele estava apenas atestando algo que já era uma realidade. Se lermos com cuidado, veremos isto. Observe que Deus apenas confirma que os bens de Jó já estavam nas mãos de satanás:
"E disse o Senhor a Satanás: Eis que tudo quanto ele tem está na tua mão; somente contra ele não estendas a tua mão. E Satanás saiu da presença do Senhor." (Jó 1:12)
Se você vem acompanhando este estudo, parte por parte, sabe que tenho me esforçado para mostrar que Deus é uma Pessoa boa e um Pai de amor. Seria uma contradição Deus entregar uma pessoa "íntegra e temente a Deus" nas mãos de satanás. No entanto, Jó estava desprotegido, pois não estava sob nenhuma das alianças que Deus estabeleceu para "cobrir" (no caso da Velha Aliança) ou "quitar" (no caso da Nova Aliança) o pecado do homem.

A Palavra de Deus é um Refúgio


Como o mundo caiu debaixo de maldição após o pecado, é necessário que o homem esteja debaixo de um refúgio de forma a que possa estar protegido das "intempéries da vida". Esta ideia de "refúgio" ou "esconderijo" é bem comum nas Escrituras. Isto significa que sem esse refúgio, estaremos desprotegidos contra os ataques de satanás.
"O Senhor será também um alto refúgio para o oprimido; um alto refúgio em tempos de angústia." (Salmos 9:9)
Quando profetizava acerca da Nova Aliança, Isaías falava sobre este lugar:
"...e será um abrigo e sombra para o calor do dia, refúgio e esconderijo contra a tempestade e a chuva." (Isaías 4:6)
Porém, não adianta apenas o homem "ouvir falar" sobre Deus, ou mesmo ter uma religião. Jesus falou que o homem precisa ouvir as palavras de Deus e praticá-las para poder estar protegido da tempestade e chuva:
"Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras, e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha;
E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e não caiu, porque estava edificada sobre a rocha."
 (Mateus 7:24-25)
Uma família que não tem acesso à Palavra do Senhor para poder praticá-la, não terá sua casa edificada sobre a Rocha Eterna.

As alianças que Deus fez com o homem vinham acompanhadas de promessas. De fato, uma aliança é um tipo de "contrato", pois traz obrigações e benefícios mútuos. Deus fez diversos "contratos" com o homem ao longo dos séculos, cada um deles tinha certas características, e sempre havia promessa de proteção.

Quando Deus envia a Sua Palavra, como no caso de uma aliança, esta Palavra servirá como uma espécie de proteção, como uma "sombra" para nos proteger. Se permanecermos na Sua promessa, estaremos debaixo desta sombra. Se sairmos da Palavra, sairemos de debaixo da "sombra", e Deus não poderá nos proteger, pois Ele só age de acordo com Sua Palavra.

Jó conhecia a Deus pessoalmente?


Uma das primeiras coisas que aprendemos ao estudarmos o livro de Jó era que ele não tinha um relacionamento pessoal com Deus, assim como outros homens que viveram antes da Lei de Moisés, tais como Enoque (Gênesis 5:24) e Noé (Gênesis 6:8). O próprio Jó admite tal afirmação quando diz:
"Meus ouvidos já tinham ouvido a teu respeito, mas agora os meus olhos te viram.
Por isso menosprezo a mim mesmo e me arrependo no pó e na cinza."
 (Jó 42:5-6)
Ora, a falta de conhecimento de Deus abre a porta para a destruição, pois é exatamente o conhecimento da Palavra que irá nos proteger, já que será um refúgio para as intempéries da vida, e fornecerá uma sombra para nos guardar do calor do sol (o quê, figuradamente, representa as tribulações).

Analisando o livro de Jó, vemos que ele era um homem que buscava se desviar do mal, no entanto, não conhecia a Deus verdadeiramente. Então, porque ele se desviava do mal?

A resposta é: Jó era íntegro e se desviava do mal porque tinha medo! Ele não o fazia movido por fé, pois a fé só vem pela Palavra de Deus (Romanos 10:17), e Jó não dispunha dela (mas não porque ele não queria, mas sim porque as alianças ainda não haviam sido feitas). Veja o que o próprio Jó afirma:
"Porque aquilo que temia me sobreveio; e o que receava me aconteceu." (Jó 3:25)
Isto é bastante confirmado pelo próprio comportamento de Jó ao oferecer sacrifícios continuamente por seus filhos após os banquetes deles. Veja que Jó não entendia que ele deveria ensinar seus filhos no caminho da integridade, e não simplesmente esperar que eles tivessem pecado pra, só depois, tentar corrigir os erros deles através dos sacrifícios:
"Sucedia, pois, que, decorrido o turno de dias de seus banquetes, enviava Jó, e os santificava, e se levantava de madrugada, e oferecia holocaustos segundo o número de todos eles; porque dizia Jó: Porventura pecaram meus filhos, e amaldiçoaram a Deus no seu coração. Assim fazia Jó continuamente." (Jó 1:5)
Ora, como Jó poderia ensinar seus filhos no caminho do Senhor se ele mesmo só conhecia a Deus por ouvir falar? Acredito que, após o fim de sua tribulação, e quando o Senhor deu a ele mais filhos, Jó teve o devido cuidado de ensinar aos seus descendentes quem era Deus e qual o procedimento que deveriam ter com relação ao pecado.

O exemplo de Jó


O livro de Jó não pode ser usado como fonte de doutrina que contrarie a Nova Aliança. Os escritos do Novo Testamento são claros quando mostram que Deus não é o que envia roubos, morte e destruição:

  • Em João 10:10, Jesus ensina que não é ele que rouba, mata e destrói, mas sim o "ladrão" (o diabo).
  • Em Atos 10:38, o apóstolo Pedro afirma que as pessoas que Jesus curou eram oprimidas pelo diabo, e não por Deus.
  • Em Tiago 1:17, ele diz que do Pai só vem as coisas boas e perfeitas.

Lançando sobre o Livro de Jó a luz da Nova Aliança, vemos que, na verdade, satanás é que estava prestes a destruir Jó, mas Deus o protegeu, impedindo o diabo de matá-lo (em João 8:44, Jesus disse que o diabo é "homicida" desde o princípio).

Veja que o próprio apóstolo Tiago usa o exemplo de Jó no final do seu livro, embora afirme logo no início que de Deus só vem "boas dádivas e dons perfeitos", conforme versículo citado acima:
"Eis que temos por bem-aventurados os que sofreram. Ouvistes qual foi a paciência de Jó, e vistes o fim que o Senhor lhe deu; porque o Senhor é muito misericordioso e piedoso." (Tiago 5:11)
Na Nova Aliança, Jesus nos liberta do poder do diabo e nos devolve a autoridade perdida por Adão. Assim, temos condições de resistir aos demônios no Nome de Jesus. Isto era algo que Jó não tinha, por isso Jó teve que vencer pela paciência apenas, e o Senhor, que é misericordioso e piedoso, interveio na vida de Jó e restituiu tudo o que o diabo destruiu.

Que a paz do Senhor seja com o seu espírito. Amém.

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