Quando eu era novo convertido, comecei a buscar ao Senhor na área da cura divina, pois sofria de algumas enfermidades, mas confiava que Deus era poderoso para me curar. No entanto, eu não sabia até que ponto Deus desejava curar as pessoas e o que era necessário para que a cura acontecesse.
Certa vez, compartilhei com o pastor da igreja onde congregava sobre a minha busca para ser curado de um problema nos olhos. Falei para ele que havia orado, mas não recebi a cura, daí o pastor me respondeu com a seguinte frase: "Eu também orei a Deus para ser curado de uma sinusite, mas Ele não curou, então me lembrei do espinho na carne do apóstolo Paulo".
Acho que aquilo foi um balde de água fria sobre a minha fé, pois se o grande apóstolo Paulo não pôde ser curado do seu espinho na carne, coitado de mim, apenas um novo convertido, ainda cheio de fraquezas, dúvidas, falta de conhecimento, etc., como eu poderia receber cura para as minhas enfermidades?
Ao longo de minha caminhada cristã, ouvi e li diversas interpretações para o tal "espinho na carne" que tanto afligiu o grande apóstolo. Alguns diziam ser uma doença, mais especificamente, na visão, isso devido a uma passagem bíblica (Gálatas 4:15) onde ele dá a entender que estava com algum problema nos seus olhos.
Ouvi, também, a interpretação de que seria um sentimento de culpa pelo fato dele haver perseguido a igreja do Senhor, antes de ter o encontro com Jesus, na estrada de Damasco (Atos 9). Já outras pessoas afirmam que a Escritura nada revela sobre o que seria o espinho na carne.
Contudo, a Bíblia nos mostra exatamente o que era o espinho na carne de Paulo, bem como mostra porque Deus não o removeu. Compreendendo as verdades que vou compartilhar neste breve estudo de 3 partes, você poderá remover suas dúvidas e terá sua fé purificara para crer em Deus para sua cura (se for o caso).
A razão do espinho
Nesta primeira parte deste estudo, vamos examinar a motivação que levou Paulo a receber o espinho na carne. Vejamos o que o próprio apóstolo diz:
"E, para que não me exaltasse pela excelência das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás para me esbofetear, a fim de não me exaltar." (2 Coríntios 12:7)
O apóstolo Paulo sempre foi muito zeloso nas coisas de Deus, de acordo com a Lei de Moisés, pois ele mesmo afirma que "excedia em judaísmo muitos de sua idade", além de demonstrar muito zelo pelas tradições recebidas pelos patriarcas (Gálatas 1:14).
Após sua conversão, Paulo continua demonstrando seu extremo zelo, tendo desafiado a morte inúmeras vezes, mesmo como "novo convertido". Para exemplificar, vou citar a passagem bíblica onde vemos que, pouco tempo após se converter a Cristo, Paulo começou a pregar Jesus e logo os judeus já planejaram matá-lo, sendo livrado fugindo da cidade através de um cesto (Atos 9:23-25).
Nada disso parou aquele apóstolo! Quantos de nós têm este mesmo "espírito"? Quantos cristãos, novos ou velhos na fé, estão plenamente dispostos a pregar o evangelho em ambiente hostil, em meio a ameaças de morte? Pois bem, Paulo demonstrou tal bravura, não fazendo caso da própria vida a fim de anunciar o evangelho da salvação, tanto para judeus como para gentios.
Paulo não aprendeu o evangelho através de homens, mas diretamente do próprio Senhor Jesus. Ele afirma:
Paulo não aprendeu o evangelho através de homens, mas diretamente do próprio Senhor Jesus. Ele afirma:
"Mas faço-vos saber, irmãos, que o evangelho que por mim foi anunciado não é segundo os homens.
Porque não o recebi, nem aprendi de homem algum, mas pela revelação de Jesus Cristo." (Gálatas 1:11-12)
Seu zelo por Deus o levou a buscar o entendimento "como prata e tesouros escondidos"! Paulo recebeu revelações que outros apóstolos antes dele - mesmo os que andaram com Jesus - não receberam. Sua ousadia o levou a fazer (em Cristo) muito mais que os outros (1 Coríntios 15:9-10). Desta forma, Paulo se tornou uma forte ameaça a satanás e, por isso, recebeu um tratamento diferenciado do príncipe das trevas.
O mensageiro de satanás
Antes de mais nada, é preciso compreender que o espinho na carne não foi dado por Deus, mas sim por satanás, conforme lemos na Escritura:
Por mais que a Bíblia mostre que o mensageiro/anjo veio da parte do diabo, ainda há cristãos que creem ter sido Deus quem deu o espinho na carne de Paulo! Ora, isto é inverter completamente o que está escrito, é chamar Deus de satanás. É, praticamente, uma blasfêmia e afronta ao Senhor. Acredito que, quando um cristão afirma ter sido Deus o autor do espinho na carne, ele age por ignorância, contudo, é exatamente por ignorarmos o conhecimento de Deus que o inimigo acaba tendo acesso às nossas vidas trazendo destruição (Oséias 4:6).
"...foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás..." (2 Coríntios 12:7)A palavra "mensageiro" aqui é a palavra grega ἄγγελος (ángelos), que, na Bíblia King James, foi traduzida como "anjo" 178 vezes, e como "mensageiro" apenas 7 vezes. Assim, compreendemos que o tal mensageiro era, de fato, um demônio designado por satanás para ficar, exclusivamente, dedicando-se a atrapalhar o trabalho do apóstolo.
Por mais que a Bíblia mostre que o mensageiro/anjo veio da parte do diabo, ainda há cristãos que creem ter sido Deus quem deu o espinho na carne de Paulo! Ora, isto é inverter completamente o que está escrito, é chamar Deus de satanás. É, praticamente, uma blasfêmia e afronta ao Senhor. Acredito que, quando um cristão afirma ter sido Deus o autor do espinho na carne, ele age por ignorância, contudo, é exatamente por ignorarmos o conhecimento de Deus que o inimigo acaba tendo acesso às nossas vidas trazendo destruição (Oséias 4:6).
A fim de não me exaltar...
Um outro termo que pode provocar confusão no entendimento das pessoas é quando Paulo usa, por duas vezes no verso, a expressão "exaltar(-se)", dando a entender que havia um propósito piedoso no espinho na carne: era para que ele não se exalta-se (onde lemos: "ensoberbecesse"). Vamos analisar essa ideia...
A palavra grega original aqui usada é o verbo ὑπεραίρω (hiperéro), que significa, de acordo com o dicionário de grego bíblico Strong, "elevar(-se) sobre". Contudo, o sentido deste verbo na literatura grega clássica varia muito, encontramos as seguintes possibilidades de traduções:
- Levantar ou elevar(-se) acima ou sobre (algo)
- Saltar sobre (algo)
- Ser excelente (em alguma coisa)
- Ultrapassar/passar do limite, ir além
- Transcender, exceder, vencer
- Transbordar
(Fonte: Dicionário de Grego Clássico Logeion, da Universidade de Chicago. Disponível em: http://logeion.uchicago.edu/ὑπεραίρω)
Desta forma, apenas pelo sentido original da palavra grega usada, não podemos simplesmente interpretá-la como sendo "ensoberbecer", como o fazem tantos cristãos, pois a literatura grega mostra que ela pode ser usada, também, em um sentido positivo. Para exemplificar, o imperador Commodus deu o título de Ὑπεραίρων οντος (hiperéron ontos) - que traduzido quer dizer Mais Excelente - ao mês de dezembro (referência citada).
Se nós lermos, sem preconceito (ideia pré-concebida), o verso completo, veremos que o maior interessado em não exaltar o apóstolo Paulo não era Deus, mas sim o diabo. Vejamos:
"E, para que não me exaltasse pela excelência das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás para me esbofetear, a fim de não me exaltar." (2 Coríntios 12:7)
Se nós crermos que Deus estava nesse negócio, e desejava que Paulo não fosse exaltado, tendo, para isso, dado ordens a satanás para enviar um de seus anjos, então, fatalmente, estaremos crendo que Deus e o diabo trabalham juntos!
Mas será que a Bíblia nos dá base para crermos que Deus trabalha em conjunto com o diabo? Vejamos alguns versos...
"(...) Para isto o Filho de Deus se manifestou: para desfazer as obras do diabo." (1 João 3:8)
"Eu e o Pai somos um." (João 10:30)
O grande objetivo da manifestação do Filho de Deus foi, exatamente, desfazer (algumas versões dizem destruir) o que o diabo fez e faz. Não há fundamento em se afirmar que Deus controla os demônios. Dizer isto é unir-se aos fariseus que blasfemaram de Jesus quando disseram: "Este não expulsa os demônios senão por Belzebu, príncipe dos demônios" (Mateus 12:24). Nos versos seguintes, Jesus explica que Ele não está trabalhando em conjunto com o diabo para expulsar os demônios, mas que o Seu Reino (de Deus) é inimigo do reino de satanás.
Deus exalta homens?
Outra ideia equivocada, mas que é bem comum no meio cristão, é que Deus não exalta homens, pelo contrário, os humilha. Para fundamentar isso, usa-se a conhecida passagem de Isaías 42:8 "a minha glória, pois, a outrem não darei", a fim de embasar tal entendimento.
Ocorre que, assim como um pai deseja exaltar e honrar a seus filhos, também Deus deseja elevar aqueles filhos e filhas que lhe são fiéis e andam nas pisaduras de Cristo. Vejamos o que Deus disse sobre Abraão, logo após ordenar que ele saísse da sua terra, e da sua família, a fim de obedecer ao chamado do Senhor:
"E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção." (Gênesis 12:2)
O verbo hebraico traduzido para "engrandecer" significa, dentre outras coisas, "magnificar, tornar grande/grandioso" (dicionário de hebraico Brown-Driver-Briggs). Ora, não me parece razoável afirmar que Deus desejou exaltar Abraão, um homem que cometeu diversas falhas, e impedir Paulo de ser exaltado. Já vimos como, desde o início de sua conversão, Paulo enfrentou a própria morte a fim de anunciar o evangelho de Cristo, além de ter se tornado principal apóstolo e exemplo para a igreja.
Vejamos mais um exemplo de homem falho, mas que foi exaltado por Deus: Salomão. Sabemos que, ao final de sua vida, Salomão chegou mesmo a se prostrar perante ídolos, trazidos por suas esposas estrangeiras, fazendo com que Deus se irritasse e trouxesse juízo sobre toda a nação. Contudo, por ter iniciado bem o seu reinado, buscando sabedoria de Deus para governar, o Senhor o magnificou:
"E o Senhor magnificou a Salomão grandissimamente, perante os olhos de todo o Israel; e deu-lhe majestade real, qual antes dele não teve nenhum rei em Israel." (1 Crônicas 29:25)
Concluímos, portanto, que Deus não dá a Sua glória a outros, mas que Ele exalta, sim, homens e mulheres que O amam e lhe obedecem, fazendo o que é agradável perante Sua vista. Deus usa tais homens como (bons) exemplos do que Ele pode fazer na vida de alguém que tem fé n'Ele.
Conclusão
Ao contrário do que, infelizmente, muitos cristãos pensam, não foi Deus quem deu o espinho na carne ao seu fiel servo Paulo, mas sim o diabo. Deus ama seus filhos e deseja exaltá-los a fim de usá-los como exemplo para toda a sociedade. Qual pai não quer ver seu filho em posição de destaque? Principalmente, se tal filho for alguém que siga os passos de seu pai?
Na próxima parte desta meditação, veremos como se manifestava o espinho na carne, ou seja, como o anjo de satanás agia para "esbofetear" Paulo. Ao contrário do que alguns pregam, não era doença e a Bíblia mostra exatamente como tal "espinho" agia.
Que a graça do Senhor Jesus seja com a sua vida. Amém.
Pr. Wendell Costa
Na próxima parte desta meditação, veremos como se manifestava o espinho na carne, ou seja, como o anjo de satanás agia para "esbofetear" Paulo. Ao contrário do que alguns pregam, não era doença e a Bíblia mostra exatamente como tal "espinho" agia.
Que a graça do Senhor Jesus seja com a sua vida. Amém.
Pr. Wendell Costa
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