A busca pela felicidade é algo que está no coração do homem desde o princípio. Claro que isso foi colocado pelo próprio Deus, afinal, não fomos criados para a tristeza, contudo, depois que o pecado entrou no mundo, a dor, a tristeza, o desespero, dentre outras coisas ruins, entraram na nossa vida e passaram a fazer parte do nosso cotidiano.
Como eu já falei em outros estudos desta série, o livro de Filipenses nos comunica a mente de Cristo, ou seja, a mente do próprio Deus, a sua natureza divina. Assim, esta ideia de um Deus iracundo e carrancudo não corresponde à verdade. O Criador é o Autor da Vida e a fonte da verdadeira alegria.
Por causa disso, a palavra de Deus nos fala:
“Alegrem-se sempre no Senhor. Novamente direi: alegrem-se!” (Filipenses 4:4)
Se lembrarmos de que o apóstolo Paulo estava preso, sob ameaça de morte, quando escreveu estas palavras, vamos perceber que a alegria que Deus nos dá independe das circunstâncias momentâneas que estamos experimentando. Mas como podemos nos alegrar quando passamos por tribulações, perseguições, necessidades ou críticas?
Pois bem, longe de querer esgotar o tema, pretendo falar um pouco sobre como podemos nos alegrar, mesmo diante de circunstâncias negativas e, mais que isso, como podemos ter uma vida feliz, de forma constante, ou seja, como podemos SER felizes.
A perspectiva correta
Quando eu era um novo convertido na fé – acredito que tinha menos de um ano de conversão –, eu trabalhava para a prefeitura da minha cidade, em uma escola municipal. Trabalhava como ASG (auxiliar de serviços gerais) e ganhava apenas um salário mínimo. Fazia praticamente de tudo nessa escola: datilografava as provas, fazia cópias no “mecanógrafo”, servia merenda escolar, abria e fechava o portão de entrada, para que os alunos, funcionários e demais pessoas pudessem entrar ou sair, etc.
Eu não tinha carro e me deslocava até o trabalho no transporte público (ônibus), tendo que caminhar uma distância considerável todos os dias, cruzando um morro de areia. Lembro bem que, sempre que chegava na escola, tinha que tirar os sapatos, para jogar a areia fora. Não acho que era um trabalho tão duro, mas o salário realmente era baixo. Se você é casado e precisa sobreviver com um salário mínimo, sabe do que estou falando.
Certa vez, ao receber o contracheque, eu reclamei do baixo salário. Imediatamente, uma senhora que trabalhava comigo, copeira, me repreendeu dizendo “não reclame não, a gente tem que dar graças a Deus por este salário!”.
Aquilo foi como um tapa no meu rosto, pois eu era o único cristão naquele lugar, e fui repreendido por uma mulher ímpia. Ao invés de dar graças a Deus porque tinha um emprego, eu estava murmurando porque o salário era baixo. Ora, mesmo sendo um salário baixo, o Senhor nunca deixou que faltasse nada. Aquela situação que eu vivi era temporária, pois, depois de alguns anos, meu Pai Celestial me fez prosperar e passamos a ter uma situação mais confortável financeiramente. Mas aqueles tempos de poucos recursos financeiros me ensinaram a dar mais valor ao que tenho hoje e, também, a administrar melhor os recursos. Tudo é uma questão de perspectiva.
O apóstolo Paulo, certamente, foi um homem que sofreu muito pelo evangelho. Ele passou por situações que, provavelmente, nenhum de nós passou ou passará. No entanto, ele fala que as tribulações que ele viveu eram leves e momentâneas. Veja o versículo abaixo:
“Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente.” (2 Coríntios 4:17)
Antes que você pense, caso não conheça a história deste grande apóstolo, que Paulo estava em sua mansão, desfrutando de uma vida fácil e abastada, é interessante vermos um pouco do que seriam essas “leves e momentâneas” tribulações que ele passou. Algumas dessas situações ele mesmo cita nessa mesma epístola, no capítulo 11:
“São ministros de Cristo? (falo como fora de mim) eu ainda mais: em trabalhos, muito mais; em açoites, mais do que eles; em prisões, muito mais; em perigo de morte, muitas vezes.
Recebi dos judeus cinco quarentenas de açoites menos um.
Três vezes fui açoitado com varas, uma vez fui apedrejado, três vezes sofri naufrágio, uma noite e um dia passei no abismo;
Em viagens muitas vezes, em perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos dos da minha nação, em perigos dos gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre os falsos irmãos;
Em trabalhos e fadiga, em vigílias muitas vezes, em fome e sede, em jejum muitas vezes, em frio e nudez.” (2 Coríntios 11:23-27)
Eu mesmo já passei algumas coisas semelhantes a essas, tais como perseguições (não físicas), ameaças, enfado, vigílias, etc. Mas nunca recebi açoites, nunca fui preso, nunca sofri naufrágio… Ora, se Paulo pôde declarar que o que ele passou foi leve e momentâneo, muito mais o que eu ou você provavelmente passamos.
Quando percebemos a vida com sob a perspectiva da eternidade, tudo passa a ser leve e momentâneo.
O nosso Pai Celestial já preparou para nós uma eternidade de paz, alegria e plenitude. Afinal, o que são dez anos diante de um milhão de anos? O que são as marcas das chibatadas que Paulo levou diante de um corpo eterno glorificado que jamais vai adoecer ou morrer novamente?
“Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada.” (Romanos 8:18)
Mas, se tudo o que você enxerga é a realidade material deste mundo, a sua perspectiva será terrena e você realmente terá muita dificuldade em se alegrar no Senhor, pois a sua mentalidade estará presa às coisas mundanas e temporárias. Quando tudo que esperamos de Deus é relativo às coisas deste mundo, viveremos frustrados, pois esta não é a mentalidade de Cristo.
“Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens.” (1 Coríntios 15:19)
Portanto, a base para que a sua vida seja feliz no Senhor é, primeiramente, ter a perspectiva divina, ou seja enxergar com os olhos da eternidade e buscar as coisas do alto, desligando-se das coisas terrenas o máximo possível.
Dedique-se à Palavra de Deus, principalmente o Novo Testamento, buscando conhecer ao Senhor e viver a realidade espiritual, para que a sua mentalidade não esteja nas coisas terrenas, mas nas celestiais. Se você é muito afeito às mídias deste mundo, dedicando-se muito tempo ao entretenimento secular, aconselho você a cortar toda essas sementes de conhecimento mudando, a fim de que você possa construir uma cosmovisão bíblica em seu entendimento. Tenho observado que os cristãos de hoje estão mais mergulhados no mundo do que nunca: pensam e agem da mesma maneira que um descrente, exatamente porque participam das mesmas coisas que eles.
Recebemos uma nova natureza de alegria
O segundo ponto que eu quero tratar nesta postagem é a mudança interior que Deus opera na vida daquele que se converte a Cristo. Quando nos convertemos, ocorre um milagre conhecido como o “novo nascimento”, que é o nascimento espiritual: Deus regenera o nosso espírito, para que sejamos libertos da velha natureza pecaminosa que habitava dentro de nós.
O ser humano é uma criação muito interessante de Deus, somos feitos de três partes distintas, que são o espírito, a alma e o corpo. Aqui no meu blog, tenho um estudo bem completo sobre esse tema, basta você procurar. Tenho também uma série de vídeos no canal do ministério Águios.
Para compreendermos essa divisão, vamos começar do mais visível para o mais invisível.
Acredito que seja bastante intuitivo entender a parte do “corpo”, embora muitas coisas que são atribuídas à alma, são, na verdade, do corpo. Mas, basicamente, o corpo do homem foi aquilo que Deus fez do pó da terra, é a nossa parte material. No entanto, é importante entendermos que o corpo possui vontades próprias, e, tendo caído por causa do pecado, ele possui desejos que são contrários à vontade de Deus.
A nossa alma compreende nosso entendimento e sentimentos, ou seja, a nossa “mentalidade”. Ora essa mentalidade se inclina para as coisas do espírito, ora para as coisas da carne, dependendo do conhecimento que predomina dentro de nós.
Por fim, nosso espírito é aquela parte imaterial de nós, que é semelhante a Deus, aos anjos ou aos demônios, pois todos estes são seres espirituais, pertencentes a um outro mundo, a uma outra realidade.
O mundo espiritual é pouco compreendido pela maioria dos cristãos, o que é uma lástima, pois interagimos com esse mundo diariamente.
As religiões tentam revelar como é esse mundo espiritual, mas somente a Palavra de Deus traz a verdade sobre essa esfera. Para que possamos interagir da forma correta com esse mundo, é necessário termos a revelação da Palavra de Deus e do Espírito Santo operando nas nossas mentes. Um cristão carnal tentará interagir com o mundo espiritual apenas através dos sentimentos e pensamentos do corpo ou da alma, colocando-se em risco.
Assim sendo, é necessário buscarmos, nas Escrituras, a verdade sobre como é o nosso espírito nascido de novo. No livro de Gálatas temos a descrição do fruto do espírito:
“Mas o fruto do espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade…” (Gálatas 5:22)
Observamos que uma das características do fruto do espírito é exatamente a alegria. Esta é uma ideia que diverge da visão de espiritualidade que foi passada para nós pela religião, onde aprendemos que uma pessoa, para agradar a Deus, precisa estar triste, abatida ou desesperada. Inclusive essa é uma ideia muito passada em músicas cristãs.
Uma outra ideia muito comum na mente dos cristãos é que a natureza de Deus é de uma pessoa iracunda ou irritada. Essa ideia muitas vezes é originada a partir de uma leitura descontextualizada do Velho Testamento. Ora, como um Deus iracundo e impaciente pode nos ordenar a nos alegrarmos sempre nele? Você consegue se alegrar junto a alguém triste ou iracundo? Obviamente, isso não é possível.
Assim, é muito importante compreendermos que a natureza Divina é uma natureza de alegria e que assim como Deus é alegre, nós fomos regenerados com uma nova natureza, que é cheia de alegria. Este conhecimento precisa estar bem enraizado dentro de nós, para que possamos deixar esta alegria que está em nossos espíritos fluir para fora, através dos nossos corpos.
Deus é a fonte da nossa alegria, e a sua alegria nos fortalece:
“Disse-lhes mais: Ide, comei as gorduras, e bebei as doçuras, e enviai porções aos que não têm nada preparado para si; porque este dia é consagrado ao nosso Senhor; portanto não vos entristeçais; porque a alegria do Senhor é a vossa força.” (Neemias 8:10)
Alegre-se por aquilo que você não vê
Certa vez, Jesus enviou 70 discípulos para uma missão pelas cidades de Israel. Foi uma missão perigosa, tanto é que o senhor alertou seus discípulos que os enviaria como cordeiro ao meio de lobos. Certamente uma missão que exigiu coragem.
Mas Jesus não largou os discípulos ao bel prazer das pessoas ímpias, pois deu-lhes poder para desempenhar essa missão. Sobre toda força do maligno, o Senhor deu poder aos seus discípulos.
Os discípulos cumpriram a sua missão e, quando voltaram, estavam muito alegres, pois viram e sentiram o poder de Deus fluir através deles, assim como fluía através de Cristo. Claro que qualquer pessoa também se alegraria ao ver os doentes sendo curados e demônios sendo expulsos através das suas orações.
No entanto o comentário que Cristo fez parece jogar um balde de água fria nessa alegria:
“Mas, não vos alegreis porque se vos sujeitem os espíritos; alegrai-vos antes por estarem os vossos nomes escritos nos céus.” (Lucas 10:20)
Ora, como vou me alegrar com tal coisa? Porventura Deus escreveu o nome dos discípulos nas nuvens, de forma que eles pudessem ler isso no céu? Obviamente não foi isso que Jesus falou. Na própria epístola de Filipenses, Paulo também fala algo nesse sentido, quando diz: “e com os meus outros cooperadores, cujos nomes estão no livro da vida” (Filipenses 4:3).
Afinal onde fica esse tal livro da vida? Temos como vê-lo? Talvez algum dia, mas não neste momento.
Nós somos chamados por Deus para vivermos pela fé, e a fé é a convicção de realidades que não podem ser vistas com os olhos naturais. Quando compreendemos bem uma coisa, em certo sentido, começamos a enxergar algo dentro de nós, sem, necessariamente, termos visto isso. Obviamente, nossa mente pode imaginar coisas que nunca existiram nem existirão, portanto, para que nossas mentes visualizem alguma coisa real é necessário que nosso entendimento seja modelado pela verdade.
Quando recebemos a verdade em nosso coração, nossa mente vai começar a formar uma imagem mental dentro de nós que corresponde à realidade. A isso podemos chamar de fé.
O escritor aos hebreus fala sobre isso, citando a vida de Moisés, e como este, movido por esta visão interior, conduziu o povo de Israel para fora do Egito em direção à Terra Prometida:
“Pela fé deixou o Egito, não temendo a ira do rei; porque ficou firme, como vendo o invisível.” (Hebreus 11:27)
É de fundamental importância compreendermos que a fé não é simplesmente uma crença aleatória e arbitrária sobre qualquer coisa que queremos. Se essa visão interior não for gerada pela Palavra de Deus, então isso não é fé, pois a fé é uma convicção de realidades espirituais e não um mero “achismo” nosso. A fé precisa ser baseada em realidade, e não em uma crença individual pessoal.
Portanto, você precisa ter convicção das realidades espirituais reveladas por Deus, através das Escrituras, para que possa viver baseado nessas realidades e, assim, se alegrar e se regozijar com base nessas verdades, as quais são invisíveis aos olhos naturais, mas são perfeitamente reais.
O poder do louvor
Muitas pessoas na igreja não compreendem o que realmente significa louvor. Elas têm uma visão limitada do que é louvor e adoração, relacionando isso tão somente à música “gospel”. Mas louvor é muito mais do que isso, louvor é expressar uma realidade espiritual em forma de cânticos, música, adoração, ações de graças etc.
Quando adoramos a Deus de todo o nosso coração, estamos deixando fluir, através de nós, o Reino Celestial, e assim podemos manifestar no nosso corpo a alegria que existe no mundo espiritual, ou seja, a alegria que já é uma realidade em nosso espírito recriado.
“Está alguém entre vós aflito? Ore. Está alguém contente? Cante louvores.” (Tiago 5:13)
O verso acima foi praticado por Paulo e Silas quando foram presos na cidade de Filipos. Após terem libertado uma mulher que tinha um espírito de adivinhação, eles foram açoitados e presos no cárcere interior tendo os pés acorrentados no tronco. Ora, sem poder nem ao menos ir ao banheiro, tendo sido surrados, provavelmente estavam sentindo dores, estavam sujos e talvez com fome ou sede.
Definitivamente, essa seria uma situação onde tudo que nós não desejaríamos fazer era exatamente cantar músicas. Ainda assim, vemos que a dupla, já perto da meia-noite, orava e cantava louvores. Não sabemos por quanto tempo eles oraram e cantaram, mas não deve ter sido por pouco tempo.
De fato, Paulo e Silas não estavam fazendo isso em troca de serem libertados da prisão. Eles fizeram isso porque estavam trazendo a realidade celestial para dentro da escuridão daquele calabouço. Não temos como nos alegrar no Senhor sem termos uma vida de gratidão e louvor a Deus, com o fim de nos enchermos do seu poder.
Conclusão
Como cidadãos do Reino de Deus, temos direito a viver uma vida de alegria, não uma alegria circunstancial, mas uma alegria perene. Contudo, para desfrutarmos de tal alegria, existem alguns princípios sobre os quais precisamos edificar a nossa vida.
“Puseste alegria no meu coração, mais do que no tempo em que se lhes multiplicaram o trigo e o vinho.” (Salmos 4:7)
A alegria que existe nos Céus, para nós, é bem superior a alegria deste mundo, maior que a alegria proporcionada pelas riquezas materiais, superior a alegria obtida por meio do humor, das piadas, etc. Esta alegria está disponível para você, bastando que você a conheça, a compreenda e busque praticá-la em sua vida.
Que a graça, a paz e a alegria do Senhor sejam com você.
Pr. Wendell
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