terça-feira, 21 de março de 2023

A Cidadania Celestial


Se pudesse dar um título ao livro de Filipenses, eu escolheria “aprendendo a mente de Cristo” – ou algo desse tipo –, pois na medida em que venho estudando este livro, percebo Deus revelando o coração do Seu Filho: Suas vontades e sentimentos para nós, o seu povo.

O final do capítulo 3 adiciona a essa “transferência de mentalidade”, chamando a nossa atenção para uma questão de suma importância: a cidadania. Isso compreende nossas ideias e sentimentos acerca do governo que está sobre nós, nosso relacionamento com outros cidadãos e nossos direitos e deveres.

A questão dos “direitos e deveres” é bem importante. As leis de um país se aplicam a você diretamente, quer você as aceite ou não, quer você acredite nelas ou não. Ainda que você esteja morando em outro país, a sua cidadania afetará você de forma profunda.

Ser cidadão de um país rico e poderoso é muito bom, porque essa cidadania nos abençoará com muitas possibilidades de desenvolvimento de nossas vidas pessoais. Não é à toa que tantos brasileiros se aventuram, ao tentar moradia em outros países mais ricos do que o Brasil, muitas vezes sacrificando o bem-estar, trabalhando em subempregos, a fim de tentar melhores condições de vida.

Como discípulos de Cristo, recebemos uma nova cidadania, ao aceitarmos ao Senhor como o nosso Rei. Portanto, para um cristão, essa questão não deveria ser um problema, porque nós já temos uma cidade que é a mais rica, mais justa, mais maravilhosa de todas!

Agora, vamos ao versículo que estudaremos hoje:

“A nossa cidadania, porém, está nos céus, de onde esperamos ansiosamente um Salvador, o Senhor Jesus Cristo.” (Filipenses 3:20)


Nascemos em um novo reino

O Senhor Jesus Cristo recebeu uma missão de seu Pai: trazer de volta o Reino de Deus para a Terra. Este Reino existia originalmente aqui, mas, devido ao pecado de Adão, ele foi retirado. Assim, o reino dos homens foi separado do Reino de Deus.

Muitas pessoas, inclusive os cristãos, não têm a “consciência de reino”, mas uma consciência voltada para os rituais e para a religião. Contudo, não foi para trazer uma nova religião à Terra que Jesus foi enviado. Cristo veio para trazer um reino.

O profeta Isaías, quando profetizou acerca do Messias, disse:

“Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o principado está sobre os seus ombros, e se chamará o seu nome: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz.

Do aumento deste principado e da paz não haverá fim, sobre o trono de Davi e no seu reino, para o firmar e o fortificar com juízo e com justiça, desde agora e para sempre; o zelo do Senhor dos Exércitos fará isto.” (Isaías 9:6,7)

Lendo a profecia de Isaías com cuidado, percebemos que o Cristo prometido não viria ao mundo para trazer uma nova religião, mas para estabelecer um reino de paz e justiça. E, de fato, era isso que Israel aguardava. Tanto é que desejaram consagrar a Jesus como rei antecipadamente:

“Vendo, pois, aqueles homens o milagre que Jesus tinha feito, diziam: Este é verdadeiramente o profeta que devia vir ao mundo.

Sabendo, pois, Jesus que haviam de vir arrebatá-lo, para o fazerem rei, tornou a retirar-se, ele só, para o monte.” (João 6:14,15)

Verdadeiramente, o Senhor Jesus veio para ser rei, mas, na ocasião de Sua primeira vinda, ainda não era tempo de Ele se tornar um rei aqui neste mundo. No presente momento, o reinado de Cristo é nos Céus e através da igreja, que é o Seu corpo. Ele reina na Terra, a fim de salvar pessoas da morte e levá-las para o seu reino eterno.

Ainda não é tempo de um reino físico sobre a Terra, assim como acreditavam os judeus da época do Novo Testamento. O reino de Deus, neste tempo da Graça, não vem com “aparência exterior”, mas está entre nós, na esfera espiritual (Lucas 17:20-21), habitando dentro de cada um de nós.


Desenvolvendo a consciência de reino

O fato de o Reino de Deus ainda não estar implantado fisicamente na Terra não quer dizer que devemos negligenciar esta realidade. Em muitas passagens bíblicas, principalmente do Novo Testamento, encontramos versículos que demonstram que Deus deseja que tenhamos essa consciência de reino.

O evangelho pregado por Jesus Cristo, de fato, pode ser resumido como as boas novas do Reino de Deus. Vejamos alguns versículos:

“Mas, se é pelo Espírito de Deus que eu expulso os demônios, logo é chegado a vós o reino de Deus.” (Mateus 12:28)

“Ele, porém, lhes disse: É necessário que também às outras cidades eu anuncie o evangelho do reino de Deus; porque para isso é que fui enviado.” (Lucas 4:43)

“Curai os enfermos que nela houver, e dizei-lhes: É chegado a vós o reino de Deus.” (Lucas 10:9)

“Mas, quando creram em Filipe, que lhes pregava acerca do reino de Deus e do nome de Jesus, batizavam-se homens e mulheres.” (Atos 8:12)

“Paulo, entrando na sinagoga, falou ousadamente por espaço de três meses, discutindo e persuadindo acerca do reino de Deus.” (Atos 19:8)

Ora, vemos claramente que a mensagem trazida por Jesus, e que foi propagada pelos seus discípulos, era acerca de um reino e não de uma nova religião na Terra. Infelizmente, de forma gradativa, a igreja perdeu a consciência de reino e foi levada pelos rituais, muitas vezes influenciados pelas religiões pagãs, vindas de povos que não conheciam o Deus vivo, ou mesmo derivados dos rituais da Lei de Moisés (sobre isso, veja a postagem anterior).


O que é um reino?

Vamos começar do mais básico, pois atualmente vivemos – pelo menos aqui no Brasil – em uma nação que não é monarquia, mas uma democracia. Dessa forma, é necessário construirmos um entendimento básico acerca de reino.

Pois bem, um reino é uma nação e, portanto, tem um território. O território de um reino é governado pelas leis oriundas do governo do reino. Este governo não é eleito democraticamente, mas é transmitido pela genealogia, ou seja, o descendente mais velho do rei receberá o reino por herança.

Um exemplo disso é  que recentemente o mundo acompanhou a transmissão do poder da Rainha Elizabeth  II para o seu filho mais velho, Charles III, que agora é o rei da Inglaterra e chefe da Commonwealth, uma grande organização intergovernamental composta por 56 países independentes.

Quando falamos de reino, existem algumas diferenças desse sistema de governo com relação à democracia, as quais são importantes para entendermos bem as Escrituras. Em especial, devemos lembrar que Deus falava dentro de uma cultura de reino antiga.

Nos tempos passados, a palavra de um rei não podia voltar atrás, e essa deve ser a nossa consciência com relação ao reino de Deus. A palavra de Deus, uma vez emitida, não volta atrás. A exceção é quando Deus profere um juízo passível de arrependimento. Nesse caso, quando os homens se arrependem de seus pecados, Deus retrocede no juízo que havia decretado. Vemos isso em algumas ocasiões nas escrituras (por exemplo, no livro do profeta Jonas).

Em geral, nos reinos da atualidade, é possível haver mudança das leis, mas, no Reino de Deus, as leis são eternas. Assim sendo, é necessário que os cidadãos celestiais compreendam bem as leis do Senhor, a fim de se beneficiarem delas e não caírem em condenação.


Nosso governo é celestial

Muitos cristãos da atualidade parecem não ter a mentalidade nas coisas celestiais, demonstrando uma visão limitada às coisas da Terra. Mas, através do livro de Filipenses, Deus busca realinhar a nossa mente com o seu Reino.

Aqueles cuja mentalidade é voltada para as coisas terrenas são condenados por Deus através dos versículos que antecedem o versículo ora estudado:

“Porque muitos há, dos quais muitas vezes vos disse, e agora também digo, chorando, que são inimigos da cruz de Cristo, cujo fim é a perdição; cujo Deus é o ventre, e cuja glória é para confusão deles, que só pensam nas coisas terrenas.” (Filipenses 3:18-19)

Acredito que o apóstolo Paulo estava falando aqui dos religiosos judeus, os quais tentavam matá-lo. Eram pessoas que pertenciam a Israel, o povo de Deus, mas não conheciam a Deus e perseguiam os discípulos do Senhor. O próprio Jesus criticou pesadamente os fariseus por terem uma aparência de piedade, mas, por dentro, serem espiritualmente mortos.

“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda a imundícia.” (Mateus 23:27)

Uma vez que você aceitou Jesus como seu Senhor, você também O aceitou como o seu rei. Desta forma, o governo que deve comandar a sua vida é o governo celestial, e não mais um governo terreno. Da mesma maneira, a nossa fonte de justiça, paz, alegria, provisão e saúde torna-se os Céus e não os governos terrenos.

Claro que, considerando que o Reino de Deus é um reino espiritual, Deus poderá usar o governo humano para executar o Seu propósito na Terra, mas precisamos ter a consciência de que a fonte dos nossos benefícios vem da nossa cidadania no Reino de Deus. Assim, “não temeremos, ainda que a terra se mude, e ainda que os montes se transportem para o meio dos mares” (Salmos 46:2), ou seja, ainda que as circunstâncias deste mundo físico mudem, os Céus não mudarão a sua lei ou o seu governo, e continuaremos tendo os benefícios desta cidadania.


Direitos e deveres celestiais

No versículo que estamos estudando hoje (Filipenses 3:20), o apóstolo Paulo, pelo Espírito Santo, nos fala que a “nossa cidadania é dos Céus”. Você encontrará algumas traduções da Bíblia usando a palavra “cidade”. Vamos examinar a palavra originalmente usada aqui:

πολίτευμα (políteuma) vem da palavra πολίτης (polites) “cidadão”, e pode ser traduzida como: corpo de cidadãos de uma cidade, cidadania, direitos de cidadão, governo (de uma cidade), etc.

Nos tempos bíblicos, era normal que as cidades tivessem um governo independente e autônomo, sendo chamadas de “cidade-estado”. Por isso que as palavras utilizadas aqui se referem a uma cidade e não a um país. O termo “cidadania” vem da palavra “cidade”, mas atualmente é usado para se referir ao conjunto de direitos e deveres relativos a um país, geralmente composto de muitas cidades.

Deus nos chama a atenção para o fato de que a nossa cidadania é de um país espiritual,  chamado de Reino de Deus. Esta cidadania implica em direitos e deveres específicos desse reino.

As escrituras nos revelam quais são os nossos direitos e deveres enquanto cidadãos do Reino de Deus. Vejamos alguns desses direitos e deveres.


O fundamento do amor

“Amados, amemo-nos uns aos outros; porque o amor é de Deus; e qualquer que ama é nascido de Deus e conhece a Deus.

Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor.” (1 João 4:7,8)

O Reino de Deus é caracterizado com base na natureza divina, pois Deus é o seu criador e é o governo sobre esse lugar. Assim, a base das leis e da cultura do reino é o amor divino. Tanto no Velho como no Novo testamento, o amor é a base dos mandamentos, ou seja, todas as leis de Deus são fundamentadas com base nessa característica do Pai.

Justiça, paz e alegria

“Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo.” (Romanos 14:17)

Este verso demonstra que o reino de Deus não consiste em alimentos específicos ou rituais físicos, mas primeiramente em justiça. A palavra “justiça” aqui usada se refere ao “caráter do justo”, e não à justiça de julgamento, pois nesse caso a Bíblia usaria o termo “juízo”.

O Reino de Deus é um lugar onde prevalece um caráter justo, ou seja, puro, honesto e benigno. Também é um lugar de muita alegria e paz. Portanto, como cidadãos do Reino de Deus, temos o dever, e ao mesmo tempo o direito, de vivermos uma vida de paz e alegria.

Tudo isso baseado na realidade espiritual e não neste mundo terreno.

Saúde e cura

“E, em qualquer cidade em que entrardes, e vos receberem, comei do que vos for oferecido.

E curai os enfermos que nela houver, e dizei-lhes: É chegado a vós o reino de Deus.” (Lucas 10:8,9)

Quando Jesus ordenou aos seus discípulos que fossem às cidades de Israel, para anunciar o evangelho, um dos primeiros sinais da manifestação física do Reino de Deus na Terra era a cura. Isso porque no reino de Deus não há doença, e a saúde e a cura são sinais de manifestação do poder que emana do Reino.

Libertação do poder das trevas

“E, se Satanás expulsa a Satanás, está dividido contra si mesmo; como subsistirá, pois, o seu reino?

E, se eu expulso os demônios por Belzebu, por quem os expulsam então vossos filhos? Portanto, eles mesmos serão os vossos juízes.

Mas, se eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, logo é chegado a vós o reino de Deus.” (Mateus 12:26-28)

Quando o reino de Deus se manifesta na Terra, ele traz, também, libertação do pecado, da opressão maligna, e tudo o mais que são características do reino das trevas. Na passagem acima, os fariseus hipócritas e de mentalidade terrena afirmavam que Jesus expulsava os demônios por meio de Belzebu, mas Jesus explicou que não havia sentido em um reino expulsar o próprio reino.

O que na verdade acontecia – e acontece até os dias de hoje – é que o Reino de Deus expulsa o reino de Satanás.


Conclusão

Há muito o que se falar sobre os direitos e deveres de cidadãos do Reino de Deus, obviamente não há como cobrir toda a Bíblia apenas nesta postagem. O meu objetivo é fazer com que você entenda que é cidadão de um reino espiritual, governado pelo próprio Deus, através de Seu Filho Jesus.

Como cidadãos deste Reino, precisamos ter a consciência e o entendimento de que somos governados por leis eternas, sendo necessário que compreendamos essas leis e as obedeçamos, para desfrutarmos da maravilhosa realidade deste Reino na Terra.

Que a paz e alegria do Reino de Deus sejam com a tua vida. Amém.


Wendell Costa



ÍNDICE DE IMAGENS

Imagem 1. Disponível gratuitamente no Pixabay, link: https://pixabay.com/photos/passport-flag-travel-visa-2642171/


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